A Parte Maldita: O Jardim da Pele de Pêssego de Keila Alaver, por Kiki Mazzucchelli
Quando entrei no edifício modernista localizado em um movimentado calçadão no centro de São Paulo para visitar o ateliê temporário de Keila Alaver, em outubro passado, não sabia muito o que esperar. Já fazia algum tempo que tinha visto, e ainda assim apenas em fotografias, imagens de sua última exposição individual, que apresentava algumas características recorrentes em sua obra como o gosto pelos elementos decorativos cuidadosamente selecionados, a apropriação de objetos do vernáculo popular, o trabalho manual e paciente, e uma qualidade por vezes abjeta e perversamente sarcástica que nasce da sugestão do orgânico por meio do artificial. Ao mesmo tempo, sem uma explicação lógica, as pequenas lojas de souvenirs brasileiros localizadas no piso térreo deste mesmo edifício, elas mesmas expressões do tipo específico de visualidade e de economia freqüentemente re-significado na obra da artista, pareciam anunciar que este seria o cenário ideal para abrigar sua nova produção.
Ainda assim, nenhum exercício de imaginação poderia ter me preparado para o encontro inesperado com as inusitadas figuras que habitavam o amplo e iluminado estúdio. Embora ainda não finalizada, a instalação O Jardim da Pele de Pêssego já se encontrava em estágio avançado de desenvolvimento e a primeira impressão é de as inúmeras peças revestidas de padrões decorativos formados pelo que parecia uma espécie de musgo haviam se proliferado rápida e profusamente dentro daquele espaço originariamente tão imaculado. Pousadas em pedestais ou espalhadas diretamente sobre o piso de concreto do estúdio, as figuras recobertas por uma penugem verde ou castanho escuro tinham um aspecto definitivamente orgânico, como se fossem arbustos cuidadosamente podados em formas insólitas. Ao mesmo tempo, essa mesma penugem formava diferentes padrões abstratos, apropriados de papéis de parede clássicos, incorporando a essas formas um elemento evidentemente artificial, uma construção humana por excelência, porém com uma qualidade alucinatória que guarda uma certa proximidade com as instalações psicodélicas da veterana Yayoi Kusama.
De fato, o movimento oscilante entre natureza e artifício é uma características recorrentes no trabalho de Keila Alaver. Era patente, por exemplo, na instalação Paisagem (2006), onde criou uma espécie de estufa dentro do banheiro de uma casa desocupada, misturando plantas naturais e artificiais, e adicionando pequenos detalhes como pássaros de brinquedo acompanhados de gravações de seus cantos. Este ambiente também sugeria a idéia de uma natureza que se reproduziu desordenadamente e no lugar errado, enquanto que o cor-de-rosa das louças e o marrom dos azulejos, tão alegóricos das décadas de 60 ou 70, evocavam ainda uma forte sensação de se estar em um cômodo antigo, talvez há muito tempo em desuso, gradualmente tomado por formas orgânicas que lhe são estranhas. Aqui havia sobretudo a apropriação e a confusão entre objetos decorativos produzidos em massa que emulam formas orgânicas e formas realmente orgânicas apresentadas no ambiente doméstico, para o qual estes objetos são especificamente criados.
Mas, se considerarmos a trajetória de Kelia Alaver, o interesse pela natureza se dá ainda – e talvez sobretudo – através da representação do corpo humano. Desde as pinturas produzidas na década de 90 a partir de fotografias de seu acervo pessoal, em que retratava a si mesma ou a amigos e familiares até os trabalhos tridimensionais em que passa a utilizar o couro, material orgânico, na representação de figuras e órgãos humanos, o corpo aparece constantemente adulterado. Nos retratos pintados, por exemplo, as cabeças muitas vezes eram acopladas a corpos de bonecos, ao passo que na série de fotografias preto e branco e em escala 1:1, retratava personagens cujas entranhas, modeladas em couro de vaca, se projetavam para além do plano bidimensional da foto, tornando não somente visíveis como palpáveis partes do corpo que normalmente permanecem ocultas.
Nesse sentido, a “pele de pêssego” que dá título a esta instalação é outro elemento importante, pois aponta para o caráter humano das esculturas que habitam esse jardim, embora apenas uma delas represente claramente uma figura humana. A superfície que recobre essas peças é de um cor-de-rosa pálido, recoberto de uma penugem delicada, como a pele dos filhotes de mamíferos, conferindo a elas um aspecto vivo, quente e pulsante. É sobre essa “pele” que as padronagens estão aplicadas. Um olhar mais próximo e atento revela as falhas na aplicação, provocando uma certa repulsa por sua semelhança a doenças de pele e afastando a possibilidade de estabelecimento de uma afeição kitsch entre o espectador e essas criaturas através de uma analogia com bichos de pelúcia. É recorrente, inclusive, em sua abordagem do corpo humano, a perversão ou a degradação das formas naturais que se revela sob uma aparente candura infantil.
Mas além de sua qualidade artificialmente natural, O Jardim da Pele de Pêssego incorpora ainda uma outra especificidade da obra de Keila Alaver. O que poderíamos designar mais genericamente como um gosto pelo decorativo – e que aparece desde as padronagens obsessivamente reproduzidas nos fundos de suas primeiras pinturas – é na realidade indicativo do uso particular que a artista faz do espaço urbano e de seu interesse por um tipo específico de economia: Keila Alaver é uma flanêur do capitalismo tardio made in China. A coleção de objetos não funcionais cuidadosamente selecionados que encontramos na casa da artista, por exemplo, é sintomática de uma prática cotidiana de perambular por estabelecimentos comerciais especializados em um determinado tipo de objeto de gosto popular largamente rejeitado pelas classes mais abastadas, cuja educação segue o padrão europeu. A maioria destes objetos não são funcionais e, quando possuem alguma função, geralmente é apenas a de embelezar o ambiente, num movimento contrário a estética moderna valorizada pelo gosto educado.
A instalação aqui apresentada, por sua vez, é um dos exemplos mais sublimes desta prática que incorpora uma vasta e universal economia movimentada por um gosto por objetos de baixo valor monetário, produzidos em grandes quantidades e cuja função é primordialmente ornamental. Pois suas formas mutantes, que combinam partes de diferentes animais como águias, porcos, caracóis, cisnes com galhos, conchas e outros elementos da natureza, não são nada menos que assemblages formadas por figuras de isopor pré-moldadas adquiridas em uma loja especializada em artigos para festas; posteriormente recobertas com a penugem verde ou castanha através do uso da flocagem, técnica artesanal de baixo custo que serve para “aveludar” diferentes tipos de superfícies, emulando idéias de valor e sofisticação.
O Jardim da Pele de Pêssego é portanto um jardim essencialmente tropical, formado por elementos excessivos e inúteis que se recusam a obedecer à lógica e ao rigor do cartesianismo europeu. Impossível de ser contido, ele cresce desordenadamente, desnecessariamente, movido apenas pelo desejo egoísta e perdulário de embelezar seu entorno, movido por sua auto-satisfação, alheio à discussões esclarecidas e politicamente corretas sobre redução da emissão de carbono ou exploração dos trabalhadores asiáticos. E assim segue tomando o espaço, gerando formas bizarras, grotescas e absolutamente irresistíveis, crescendo proporcionalmente ao poder aquisitivo das populações dos países BRIC.
As obras que integram a coletiva Por aqui se utilizam de instrumentos simples e familiares de localização e deslocamento para criar metáforas acerca das relações humanas. No formato de gravuras, colagens, esculturas e instalações, a seleção de trabalhos rompe com o formato tradicional, ou seja, bidimensional dos mapas, criando composições imaginárias que remetem a diferentes formas de observar o entorno.
Esfoliação – Mapas Fraturados Irlanda [2008] de Odires Mlászho é um bom exemplo desse procedimento: para criar a obra, o artista utilizou o guia Ireland, da editora Berlitz. Esfoliando seis paginas do livro, Mlászho criou um mapa improvável e imaginário do país, sugerindo com esse procedimento os constantes conflitos que ocorrem na região. O livro Planets, Stars and Space também serviu de suporte na criação de Planets, Stars and Space da série Flaps criada por Mlászho, em 2006. Nesse caso, o artista guilhotinou a publicação em nove partes verticais, de 2,5 cm cada, e colou cada uma das partes criando paisagens inusitadas de planetas, estrelas e do espaço.
Lia Chaia, por sua vez, utilizou o sistema de setas para criar Setamanco, obra criada originalmente para a Jornada Internacional na Cidade sem meu carro, que ocorreu em setembro de 2009 [Campinas], composta por 60 tamancos de madeira, em forma de setas. Alguns estarão disponíveis para utilização pelo público dentro do espaço expositivo.
Leya Mira Brander exibe sua nova série de gravuras intitulada Um Tango em Silêncio, composta por 38 gravuras em metal, água-forte e água-tinta. Na obra, o casal que se desloca em um tango cria uma trajetória orgânica de dissolução. Seus movimentos desaparecem no espaço. Marilá Dardot expõe Resolvi Partir, da série Céus, e Carla Zaccagnini, sua nova série Desenhos Animáveis.
Na sala 3, Lucia Mindlin Loeb apresenta sua primeira individual na Vermelho intitulada O futuro das lembranças composta por uma nova série de livros de artista, fotografias e vídeos.
Composta por mais de 300 peças de porcelana e cerâmica, a instalação PICNIC de Marco Paulo Rolla, foi criada em 2000, na residência realizada pelo artista no European Ceramic Work Centre (EKWC), em Hertogenbosch, na Holanda. A obra faz referência a trabalhos representativos da história da arte, como Concerto Campestre (c.1508) de Giorgione, e Déjeuner sur l’Herbe (1863) de Edouard Manet, e revela o ideal de abundância intensamente desejado pelo homem. Seu foco remete à melancolia arcaica da transitoriedade. Em meio à celebração festiva e sensorial da vida, paira o risco da interrupção involuntária. Na instalação, o artista propõe deslocamentos poderosos, materializando em porcelana imagens residuais como reflexos do cotidiano, transformando o observador em testemunha ocular da suspensão de um tempo subitamente interrompido. O prazer pela forma, pelo brilho dos materiais e pela identificação imediata de uma refeição em curso atrai a atenção de quem se aproxima, conduzindo o olhar à constatação da ausência. O que se resgata então são reverberações de corpos, de gestos e expressões que sugerem o tempo lento da contemplação de uma intimidade roubada.
Desde o início de sua carreira, a preocupação central de Marco Paulo Rolla tem sido a busca pela percepção do tempo atual, incorporando em suas obras as circunstâncias que rodeiam seu cotidiano de forma a estabelecer um diálogo direto com o observador. Nesse sentido, o ser humano, seus humores e ações, que repetidas se transformam em clichês, constituem a matéria e o instrumento de seus estudos. Rolla entende esses clichês como maneirismos criados pela sociedade que padronizam as relações entre os homens, forçando e nivelando a subjetividade.
Na atual individual, que ocupará as salas 1 e 2 da Vermelho, o artista apresenta uma série de trabalhos que retratam rotinas corriqueiras do cotidiano que questionam a possibilidade de equilíbrio entre mundo real e subjetividade revelando a contradição entre o desejo de conforto e paz e a atual banalização da violência. A mostra reúne seis telas da série Objetos de Acúmulo, três da série Dysiquilibrio, desenhos das séries Dissoluções em Manchas Acidentais e Preciosidades, os vídeos Fio Condutor, Eu Desejo e Depois da Conquista, a instalação sonora Enganos, além de uma nova série de esculturas.
Cadu apresentará na sala 4, a instalação Avalanche (2008-2009), composta por caixas de música, bilhetes de loteria e desenhos sobre papel, onde os visitantes poderão criar suas próprias melodias.
Em agosto de 2009, a Mega Sena, o jogo de loteria mais famoso do Brasil, completou 1.000 rodadas. Segundo Cadu, ganhar na loteria parece ser a imagem que melhor resume para os ocidentais a idéia de sorte. Através de uma coincidência entre o tamanho do cartão de apostas e a bitola da partitura de uma caixa de música, o artista criou um comentário sobre essa questão. Passando pelas engrenagens da caixa de música, os cartões de aposta perfurados com as sequências dos seis números dos jogos vencedores criam uma frase sonora. Cada furo corresponde a posição exata de uma nota. Um cartão é composto por três apostas, resultando 18 números, ou 18 notas. Emendando vários cartões de forma a criar uma única tira de papel, o artista criou uma melodia resultante dos 6000 números que batizou de O Hino dos Vencedores.
A Sala 3 será ocupada pela série Corpo da Alma de Rosângela Rennó. Trata-se de um conjunto de imagens originalmente publicadas em artigos de jornal, de pessoas que seguram fotografias de parentes ou amigos desaparecidos. Na série, que desde seu surgimento já apresentou desdobramentos sobre placas de alumínio, vinil adesivo ou em impressões jato de tinta, a fotografia assume o papel de instrumento de revolta e contra o esquecimento por parte daqueles que tiveram que conviver com a ausência súbita de parentes próximos, vítimas de desaparecimento ou morte (por atos de guerra, terrorismo ou violência urbana). As pessoas, cujos retratos são exibidos por parentes, aludem a um estado de impotência. Com esse procedimento, Rennó desestabiliza uma das principais características da fotografia que é a de congelar o acontecimento, “desimobilizando”, segundo as palavras do crítico Paulo Herkenhoff, o sono arquivístico da fotografia, tornando visíveis fatos extra-imagéticos
Marcados
A partir de 1973, durante os anos do “milagre brasileiro”, o território Yanomami na Amazônia brasileira foi invadido como decorrência da construção de uma auto-estrada na região. A mineração e os garimpos clandestinos proliferaram interferindo na vida das tribos indígenas da região.
No início dos anos 1980, uma equipe de médicos de São Paulo e a fotografa Claudia Andujar foram contratados pelo Ministério da Saúde para fazer um trabalho de recenseamento e vacinação dessas tribos. Durante o período, Andujar registrou com sua câmera a existência de minúsculas comunidades retratando a situação de saúde de seus habitantes.
Como os Yanomamis não dão nomes às pessoas da tribo, a solução encontrada pela equipe foi numerar cada um dos habitantes criando uma estranha comunidade de famílias, marcando-os com números incompreensíveis em sua cultura. A partir dessas imagens numeradas foram criados os cadastros de identidade dos índios Ianomâmi e, posteriormente, a série Marcados, em 2006.
Composta por 14 polípticos, a obra foi apresentada pela primeira na 27ª Bienal de São Paulo (2006), e, depois disso, já participou de várias mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior.
A Vermelho apresenta, de 1 de setembro a 4 de outubro, de 2009, a exposição coletiva Asimetrías y Convergencias (salas 1 e 2), que reúne trabalhos de 19 jovens artistas colombianos organizada pela curadora também colombiana Maria Iovino.
Alguns dos artistas que integram a exposição já são conhecidos no Brasil e no exterior, como Nicolás París, Milena Bonilla, Carlos Bonil, Gabriel Antolinez ou Ícaro Zorbar, artista que participou da mostra de performances VERBO 2009, em julho passado.
Além desses artistas, a coletiva inclui também trabalhos de María Isabel Arango, Natalia Castañeda, Pedro Gómez-Egaña, Andrés Ramírez Gaviria, Cesar González, Kevin Simón Mancera, Luis Hernández Mellizo, Mónica Naranjo, Luisa Roa, María Isabel Rueda, Adriana Salazar, Daniel Santiago Salguero, Diana Menestrey Schwieger e Angélica Teuta.
Asimetrías y Convergencias reúne trabalhos que tem o desenho como ponto de partida, mas que sugerem desdobramentos possíveis que abrangem não apenas rascunhos ou ilustrações de projetos, instrumento na visualização e organização de idéias, mas também aqueles que ganham tridimensionalidade e surgem no formato de esculturas e instalações.
Nas mãos do artista, a ação de desenhar possibilita uma série de outras ações paralelas como traçar, apagar, rasurar, anotar, riscar, rascunhar, rabiscar. De qualquer forma, o desenho está intimamente relacionado à experiência. Mais do que qualquer outra mídia, o desenho representa uma relação direta com o artista, testemunho do entorno que o afeta, criando uma narrativa acerca do cotidiano materializada de forma abstrata ou realista. O desenho, por conta de sua fragilidade, concisão e aparente proximidade com o observador, exerce sobre ele um grande poder de sedução.
A seleção de trabalhos proposta pela curadora independente Maria Iovino para Asimetrías y Convergencias guarda muitas das características mencionadas acima. São instalações, vídeos, animações, desenhos, livros de artista e esculturas que criam diferentes relações com o desenho, por vezes tangenciando-o, como o muralismo de María Isabel Arango e de Luisa Roa que, embora possa ser associado à tradição mais ancestral do desenho (arte rupestre), parece negar a bidimensionalidade da superfície chapada das paredes do cubo branco escorrendo para o chão e para os cantos do espaço, rompendo com a rigidez asséptica da arquitetura desses espaços.
A tentativa de rompimento com a bidimensionalidade aparece também nos bordados de Gabriel Antolinez que não apenas se aproveitam da possibilidade arquitetônica do espaço, mas o subverte criando cantos e ângulos inusitados, sugerindo ligamentos e conexões que revelam aquilo que está sob o suporte, ou melhor, aquilo que vaza do desenho no verso do papel.
Já Idea Corriente de Carlos Bonil, obra que ocupará a fachada da Vermelho, usa o desenho como um procedimento elétrico, ou seja, dois pólos, um positivo e outro negativo independentes que nem sempre caminham juntos. Entretanto, a conexão simultânea detona uma idéia. Várias analogias poderiam ser criadas a partir dessa engenhoca tão simples que, de qualquer forma, aponta para a relação entre traço e suporte. O mesmo pode ser dito acerca das Máquinas Maleducadas de Adriana Salazar. As duas instalações propostas pela artista repetem atos cotidianos, como amarrar um sapato ou colocar vinho em uma taça de vidro através de engenhocas mecânicas cujos resultados são superados pela ação que esses pequenos robôs desenvolvem no espaço.
O desenho como um procedimento mecanizado gerido pelas artes gráficas aparece em Hilando Vientos, livro de artista de Natalia Castañeda. A obra, composta por apenas dois desenhos, busca criar um esboço do movimento dos ventos. Como o fole de um acordeom, a obra sugere a materialização sobre papel verger do imaterial, daquilo que não pode ser apreendido ou recuperado, apontando para a fragilidade e finitude do desenho, e da própria arte em geral.
O desenho como representação do mundo visível pode ser uma comentário plausível para o trabalho de Mônica Naranjo. Entretanto, um olhar mais atento perceberá nas narrativas aparentemente lineares propostas pela artista um emaranhado de enigmas visuais, espelhamentos, sombras e aparições que compõem o imaginário óptico de Naranjo, que associa o desenho a procedimentos de colorização digital. O desenho associado a procedimentos digitais reaparece nas obras de Nicolás París e Andrés Ramírez Gaviria que, antes de apontar para o visível, sugerem uma certa invisibilidade.
A idéia histórica do desenho como representação transparente do visível reaparece subvertida na instalação Decoración para espacios Claustrofóbicos (2009) de Angélica Teuta. Sobre a superfície de vidro de dois retroprojetores, Teuta cria cenários urbanos a partir de pequenas miniaturas e impressões em acetato revertendo,com esse procedimento, a busca pela tridimensionalidade, já que a maquete criada sobre o vidro reaparece em um jogo de transparências projetado sobre a parede branca.
Já Kevin Simón Mancera apresenta uma série de desenhos criados a partir dos estímulos sugeridos pelo deslocamento do artista dentro da cidade de São Paulo. O artista andarilho percorre grandes distâncias a pé se deixando afetar, criando um diário de bordo, índices acerca do entorno e podem se materializar em folhas de livros antigos, jornais ou revistas.
Asimetrías y Convergencias é um projeto criado por Maria Iovino com financiamento da Fundación Gilberto Alzate Avendaño (Colômbia). Os 19 artistas que integram a exposição foram selecionados através de uma convocatória e contou ainda com um programa de residências artísticas em São Paulo e no Rio de Janeiro, que possibilitou a vinda e permanência no Brasil, por um mês, de Andrés Ramírez Gaviria, Kevin Simón Mancera, Luisa Roa, Adriana Salazar, Angélica Teuta e Ícaro Zobar.
Simultaneamente a Asimetrías y Convergencias, será apresentada também a instalação Hortus Conclusus de Teresa Berlinck. Obra em processo que permanecerá instalada no terraço da Vermelho, durante três meses, Hortus Conclusus aponta para o constante processo de reorganização e transformação que caracteriza a vida atual.
Artérias e Capilares apresenta uma seleção de trabalhos de artistas que se valem do desenho. A coletiva revela a relação crítica entre pensamento e desenho e aponta para os diferentes empregos dados ao desenho na arte atual, que podem aparecer de forma abstrata, figurativa ou ligada a sistemas técnicos precisos.
Há artistas que criam aparatos técnicos de alta precisão, mas que, depois de instalados no espaço expositivo, seguem dinâmicas próprias cujos resultados fogem do controle do artista. É o caso de Equivalências (2003-2009), do carioca Cadu. A obra, composta por um motor elétrico, um sensor de presença e uma haste de alumínio, identifica a presença do observador no espaço expositivo e, a partir disso, inicia um desenho que só será completado na data de encerramento da exposição.
Há também aqueles que associam o desenho e a fotografia colocando, lado a lado, essas duas formas de documentar um instante, como ocorre nas escarificações e fotografias de Odires Mlászho e com os desenhos de Leandro da Costa.
Nas obras realizadas por Maurício Ianês, Nicolás Robbio e Chiara Banfi o desenho é empregado como instrumento inicial de esboço e elaboração de instalações tridimensionais.
Já em Pré-desenho (2009), Fabio Morais se apropria das salas 1 e 2 da galeria criando um desenho continuo, uma linha de grafite que se expande e se contrai pelo espaço. Na obra o desenho surge como um instrumento eficaz de trânsito entre um estudo bidimensional e um objeto que rompe com a frontalidade gerando objetos tridimensionais. O mesmo procedimento aparece em Na Medida das Coisas (2009) de Cinthia Marcelle. Na obra, uma régua de 360 cm, instrumento que tem uma função bastante específica em desenhos técnicos, tem suas funções subvertidas criando no espaço um objeto escultural orgânico que rompe com a precisão normalmente vinculada a ele. Marcelle apresenta também Volver (2009), vídeo em que uma pá escavadeira percorre um trajeto na forma de um símbolo de infinito, transportando terra de um lado para o outro como uma espécie de ampulheta gigante que nunca pára de girar.
Na sala 3, a coletiva Cassino, aberta durante a mostra VERBO 2009, reúne um conjunto de trabalhos que se apropriam das dinâmicas do jogo para estabelecer um contato direto com o observador. CASSINO conta com obras de Axel Straschnoy, Laerte Ramos, João Loureiro, Cris Bierrenbach, Elida Tessler, Carla Zaccagnini e Marilá Dardot.
Primeira exposição individual de João Loureiro na Vermelho, Zootécnico aborda as relações entre forma e função da arquitetura de espaços públicos e privados. Para Zootécnico, Loureiro criou uma única instalação composta por um conjunto de cinco animais confeccionados com fatias de espuma cinza: um rato, um lobo, um burro, um rinoceronte e um elefante. Em escala 1:1, os animais foram distribuídos pela galeria seguindo uma relação de proporcionalidade visual com o espaço, preservando como procedimento interno, a variedade sugerida pela arquitetura.
Procedimentos como esse norteiam as pesquisas mais recentes de Loureiro que buscam investigar o legado da arquitetura modernista brasileira e a lógica construtiva de edifícios e áreas urbanas. Se, por um lado, há em Zootécnico uma aproximação quase tátil sugerida pelos materiais, por outro, a lembrança que trazem não é de caráter subjetivo. O que está em jogo em Zootécnico não é a elaboração e implantação de um projeto viável e funcional para a vida e para o trabalho, mas trata-se de uma especulação acerca dos valores modernos e do fracasso de sua implementação.
A solução formal e a repetição de um único tema, empregada por Loureiro, em Zootécnico, comenta os modelos expositivos recorrentes nos espaços determinados para a arte. A cor cinza, por sua vez, remete ao mesmo tempo às representações “naturalistas” de animais e à intenção de neutralidade do cubo branco. Ao percorrer a exposição, o visitante apreenderá os animais um a um, sem jamais ter a visão do conjunto integralmente. O rato, o lobo, o burro, o rinoceronte e o elefante, enfileirados gradualmente na memória do visitante, acabam por constituir uma escala de cinza.
A linguagem, tema recorrente na obra de Angela Detanico e Rafael Lain, é mais uma vez revista na exposição “Espaços de Tempo” proposta pela dupla para a sala 4 da Vermelho, composta por uma seleção de obras inéditas em São Paulo.
É o caso de LOCAL TIME obra apresentada na individual Um dado tempo um dado lugar apresentada em 2008, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Nela, Detanico e Lain propõem uma correspondência entre letras do alfabeto e o sistema de fuso horário que divide o globo terrestre.
Para criá-la, a dupla partiu dos estudos desenvolvidos pelo astrônomo e matemático norte-americano Nathaniel Bowditch (1773-1838), que utilizou as letras do alfabeto para identificar os 24 fusos horários em que se divide o globo terrestre.
Wind Spelling (2008) é o título da peça sonora em que nomes de ventos do Sul são soletrados em uma escala sonora criada a partir da desaceleração de um sopro humano. Do som mais curto e agudo, correspondente à letra A, ao som mais longo e grave, correspondente à Z, os sons/letras sucedem-se e sobrepõem-se, enunciando nomes como Elephanta, Minuano e Sirocco.
Já em Something Crossing (2008) um texto composto em Ventania, alfabeto derivado do sistema de notação da intensidade dos ventos, é animado de acordo com a direção dos ventos observada dia a dia em uma parte central do Oceano Atlântico.
Como em obras anteriores da dupla, Espaços de tempo reafirma a independência da arte no campo filosófico, sugerindo um espaço intermediário em constante trânsito entre o visível e o invisível, estabelecendo aproximações entre arte e linguagem no formato de tipografias, design gráfico, vídeo, arquitetura e som.
Marcelo Zocchio (45) volta a expor na Vermelho após 4 anos de sua última individual “Utilidades Domésticas”. A primeira vista, as duas novas séries que compõem Lançamentos + Planetas lembram pouco a série apresentada em 2005, composta por imagens de espaços, móveis e objetos que na época compunham o entorno do artista. Um olhar mais atento, entretanto, perceberá proposições similares que aproximam a produção de 2005 da atual. Essas semelhanças podem ser percebidas não apenas na forma como o artista enquadra o objeto a ser fotografado, isolando-o de seu entorno como se figura e fundo não pertencessem ao mesmo universo, mas também na trama narrativa que permeia as imagens e na relação que ela estabelece com o observador.
É o caso de Planetas (2009) em que um homem alto, vestindo roupas semelhantes a de personagens de um filme de ficção científica, permanece em pé, imóvel, mirando com o olhar distante o observador. O cenário é árido, desolado e o homem está só. Planetas se assemelha a um diário de bordo de uma viagem no espaço composto por registros fotográficos da passagem do personagem por vários planetas. Nas nove imagens impressas em metacrilato, o próprio artista se deixa fotografar frontalmente estabelecendo com o observador uma relação de confronto e também de distanciamento, sensação que parece ampliada por conta do grande espaço que separa o corpo retratado do tripé onde a câmera foi fixada.
Em Lançamentos, título da série de imagens criadas em computador e também do vídeo que ocupa o piso térreo da galeria, a visão positivista da ciência que aparece em Planetas, é totalmente desestabilizada. Em Lançamentos (vídeo), vê-se uma linha de produção inusitada. Na projeção, Zocchio retorna como personagem solitário, ele aparece ensacando dezenas de dejetos obsoletos, restos; lixo abandonado pela sociedade de consumo. São monitores de computador, CD e DVD players, cabos e HDs em um procedimento infindável que remete a um personagem fritzlanguiano de Metrópolis. Na sala 1, Lançamentos (objetos em acrílico com imagens em jato de tinta) revela a individualidade ultrapassada desses objetos. Essa característica pode ser notada no procedimento de sobreposição de camadas que compõem os doze objetos.
Na sala 4, Nicolás Robbio apresenta uma nova instalação composta por 63 serigrafias que juntas compõem um imbricado sistema de pistas e pontes que evidencia os modo como o homem pratica o espaço, criando um estilo de uso pessoal. O cruzamento de caminhos proposto pela obra, surge como resposta à necessidade do artista, e da arte em geral, de transpor obstáculos.
Na sala quatro, o artista André Komatsu, que atualmente participa do programa internacional de residências do The Bronx Museum, em Nova Iorque (EUA), apresenta na individual Soma Neutra uma série de seis novos trabalhos criados sobre placas de drywall.
Segundo Komatsu, os desenhos apontam saídas para o fluxo convencional do cotidiano. Possibilidades de evasão não apenas das dinâmicas que permeiam a relação do homem com seu entorno, mas também do próprio suporte técnico disponível. Criados sobre placas de gesso maleável (drywall), a série combina desenho, pintura, escultura e gravura já que além de escavar as placas, processo utilizado na escultura e na gravura, o artista também as pinta com tinta acrílica, criando sobreposições de camadas de interpretação através da técnica.
Sob Controle, segunda individual da dupla de artistas Leandro Lima e Gisela Motta na galeria Vermelho, apresenta oito novas obras criadas entre 2008 e 2009. Os trabalhos, que sugerem possibilidades de disposição do corpo de forma singular em relação ao espaço e ao tempo, definem novas maneiras de relacionamento, como estar próximo ou distante, aberto ou fechado para o outro. Segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, nas obras da dupla, estão presentes elementos que nos remetem ao “caráter propriamente explosivo e violento da condição contemporânea.”
Sob Controle não pretende transmitir uma mensagem, mas sugere possibilidades de reflexão e de tomada de perspectiva acerca da contradição que caracteriza a sociedade de controle atual, fato que se dá por conta da forma como Lima e Motta habitam o espaço expositivo com suas obras, revelando um mundo em total construção, em montagem que cabe ao artista editar, recontar e analisar.
Em Sob Controle, vídeoinstalação que dá título a exposição, oficiais uniformizados em escala de maquete olham na mesma direção. Através de um sistema que inclui computador e câmera, os oficiais de miniatura perseguem com o movimento de seus corpos o deslocamento do observador dentro do espaço expositivo.
Já em Circuito Impresso, a dupla transformou placas de circuito impresso de computadores em mapas aéreos de onze grandes cidades do mundo. Essas imagens foram extraídas do Google “hackeando” a programação padrão que o software disponibiliza. As onze cidades que compõem a série são Berlim, Brasília, Cairo, Havana, Moscou, Nova York, Paris, Roma, São Paulo e Tijuana.
Na instalação Do Not, um conjunto de backlights apresentam fotografias também extraídas da internet, de pessoas em ações de negação. Com as mãos, anônimos cobrem seus rostos e corpos evitando a aproximação de elementos estranhos. As imagens, capturadas em baixíssima resolução, surgem a partir do distanciamento do observador dos backlights, apontando para o fato que a proximidade nem sempre é bem vinda mas com certeza é sempre confusa e de difícil compreensão.
A vídeoinstalação AMOAHIKI representa, dentro do contexto de SOB CONTROLE, a única forma de escape. As imagens, captadas em 2008, em uma aldeia Yanomami, na Amazônia, revelam um ponto de fuga idílico entre as “Amoahiki”, as árvores de onde os índios Yanomami ouvem o espírito do conhecimento, denominados pela tribo de “Xapiripe”. Entretanto, se levarmos em consideração a eterna batalha que caracteriza a demarcação das terras da tribo, no norte do Brasil, compreenderemos que realmente não há como fugir do atual estado de controle em que vive o homem contemporâneo.
Não há escapatória, não há ação que garanta a evasão do domínio do poder, fato que aparece reafirmado na instalação EXIT. Na obra, um módulo de laser e espelhos de reflexão frontal desenham sobre a parede a palavra EXIT (saída) apontando para uma possibilidade de escape, de fuga, mas que, entretanto, não conduz a lugar algum. A luz, gerada pelo laser, apesar de se manter em constante movimento, permanece presa dentro da forma da própria palavra. Idéia semelhante aparece em EJECT (ejetar), instalação criada com fitas adesivas reflexivas que de um ponto específico da sala cria a ilusão de perspectiva, como se a palavra estivesse no espaço tridimensional e não na parede.
Finalmente, para a fachada da galeria, a dupla criou a instalação sonora Cigarras. Nela, dez pares de buzzers (pequenos auto-falantes utilizados em alarmes) são pré-programados de forma a simularem o som de dezenas de cigarras. A cada 30 minutos a conversa evolui até todos os buzzers dispararem em um momento de alarde, anunciando algo que está por vir.
Sensação similar aparece na instalação Bala Perdida, em que pequenos furos nas paredes do hall de entrada da galeria, remetem a uma rajada de balas de revolver, sugerindo dessa vez, um acontecimento já ocorrido visível apenas por conta das marcas de bala.
De certa forma, Sob Controle é o desdobramento da pesquisa iniciada pela dupla em 2007, durante o processo de criação das obras que compuseram a itinerância da edição de 2008 do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça. Na exposição, que percorreu várias cidades brasileiras, os artistas apresentaram as instalações I.E.D. – Improvised Explosive Device, Alvo e Armas.OBJ.
A Galeria Vermelho apresenta, de 27 de janeiro a 28 de fevereiro de 2009, as exposições Ph Neutro (coletiva / salas 1 e 2), e PICNIC individual de Marco Paulo Rolla (sala 4).
Ph Neutro
Ph Neutro apresenta trabalhos, em sua maioria inéditos em São Paulo, dos artistas Marcelo Cidade, Detanico Lain, Héctor Zamora, Rafael Assef, Odires Mlászho, Lia Chaia, Chiara Banfi e Fabio Morais.
Mercado Neutro (2008) é o título da instalação criada por Marcelo Cidade (29) para a edição de 2008 da MiamiBasel Art Fair (Miami, EUA). Na obra, composta por 375 embalagens de plástico embutido cinza, dispostas de forma semelhante às estantes de qualquer supermercado (ver imagem PDF), Cidade dá continuidade à sua crítica contundente ao sistema social e econômico, que confronta elementos da cultura das ruas à herança modernista, criando um fluxo pendular contínuo entre o âmbito social e o subjetivo. Seus trabalhos devem ser compreendidos neste movimento de ir e vir do espaço público ao espaço privado. O cimento, utilizado em obras anteriores do artista, reaparece na cor das embalagens de Mercado Neutro como metáfora ao crescimento desenfreado do consumo em geral e, mais especificamente, àquele ligado ao campo da arte. Em Mercado Neutro, Cidade reafirma sua linguagem assentada na experimentação e na apropriação do espaço social urbano, alterando as distribuições e dispositivos arquitetônicos do lugar do capital, criando novas percepções e subjetividades.
Já as obras do artista mexicano radicado no Brasil Héctor Zamora (34), propõem e materializam experiências espaciais que, segundo o artista, devem ser percorridas ou habitadas pelo observador. Seus trabalhos estabelecem um diálogo entre formas orgânicas e geométricas e os elementos não físicos que as compõem, provocando, dessa forma, experiências que excedem o formalismo dessas estruturas e que detonam percepções poéticas individuais acerca do espaço. Em Topografias Simuladas (ver imagem PDF), obra que o artista apresenta em Ph Neutro, realizada com o apoio da Positions in Context: 2007, programa de exposições da Fundação Cisneros Fontanals Art (Miami, EUA), em 2007, Zamora propõe um exercício espacial baseado no uso de técnicas geométricas comuns empregadas por arquitetos e engenheiros no desenvolvimento de superfícies. Na arquitetura e na engenharia, tais exercícios funcionam como modelos para verificação de escalas, comprovando se as formas desenvolvidas são ou não coerentes com os compartimentos físicos a serem desenvolvidos. Para criar a obra, Zamora utilizou um número aleatório (3) uniformizando as peças e suas formas, gerando uma topografia irregular e acidentada, cujos volumes são acentuados de acordo com a reflexão da luz. Instalada sobre o chão do cubo branco da galeria, as 72 peças de papel cartão cinza que compõem Topografias Simuladas criam um cenário ficcional próximo ao dos filmes de ficção científica.
Rafael Assef (38) apresenta Escalas Técnicas (2008), políptico de seis imagens criadas a partir de um único arquivo digital, captado em RAW, de uma tatuagem negra denominada cinza neutro, termo que, no campo da fotografia, é a referência na escala de tons. O RAW, na fotografia digital, equivale ao negativo na fotografia analógica, ou seja, matéria bruta que ainda não passou por tratamento. Com o advento e total implantação da fotografia digital foram criados diversos programas de computador para tratamento de imagem. O Capture One PRO é um desses programas que funciona como um laboratório fotográfico onde a imagem bruta (raw) pode ser manipulada. Este programa consiste basicamente em uma série de escalas numéricas baseadas na fotografia analógica, como Exposure Compensation (EC), Contrast Compensation (CC), Saturation Compensation (Sat), Color Temperature ou Tint e Focus Tool. Cada uma dessas escalas tem um papel na manipulação da fotografia digital. De posse de um cinza neutro específico, Assef criou tabelas com cada uma das funções mencionadas acima. Cada tabela gerou uma escala distinta de cinza estabelecendo assim sistemas organizados de manipulação da imagem digital. A obra reflete, portanto, acerca do próprio suporte da fotografia.
Caixa de Força (2009), nova obra de Lia Chaia (30), pode ser considerada um desdobramento da instalação TEPMOAH, de 2007, apresentada inicialmente na edição de 2008, da ARCO (Madri, Espanha). Nela, Lia Chaia revela a parte interna de uma caixa de energia elétrica, agregada de elementos orgânicos e de cor, apontando, com esse procedimento, eventuais fissuras nos sistemas fechados sugerindo formas mais elásticas e maleáveis de conviver com eles.
Fabio Morais (34) apresenta Brasil x Brazil (2009). Na fotografia, que retrata um time de futebol dos anos 1970, adquirida no mercado de antiguidades do Bexiga, o artista retirou no Photoshop as cores preto e branco deixando apenas os tons cinza que originalmente compõem a imagem P&B. Sobre ela, Morais aplicou, ainda com ferramentas do Photoshop, o índice remissivo do livro “Arte Contemporânea — uma história concisa” (Ed. Martins Fontes) onde aparecem nomes de importantes artistas da arte atual, como Marcel Duchamp, George Baselitz e Jenny Holzer, no time estrangeiro, e, do lado brasileiro, Cildo Meirelles e Helio Oiticica.
Odires Mlászho (48), apresenta Matrizes para Línguas Bifurcadas (2009). Como em obras anteriores, Mlászho retira a superfície de papel das capas de livros alemães antigos, como Das Bild der Erde e Revolution im Unsichtbaren deixando apenas os títulos em baixo relevo impresos originalmente. Com a aplicação de tinta acrílica sobre essas superfícies, Mlászho revela aspectos das tipografias usadas originalmente criando um discurso acerca do visível e do invisível.
Por último, Chiara Banfi (29) apresenta dois novos trabalhos, Wish (2009) série de desenhos a lápis sobre papel e a instalação Trilha que ocupará a fachada da galeria.
Na sala 3, a Vermelho exibe trabalhos de artistas com tons de cinza.