dimensões variáveis
Incisões e desgaste sobre parede
Foto Filipe BerndtO mural mostra uma imagem encontrada em um livro de evangelização onde se lê “Brasil e o Apocalipse”. Aplicada à fachada de ponta-cabeça, a imagem será construída aos poucos, ao longo do período da exposição, por meio da performance Trabalho depois das 18h, em que Ianni desbastará a grande parede da entrada da Vermelho, por onde passaram centenas de projetos, em busca da construção pictórica da imagem invertida. O trabalho joga com o fim do mundo como instrumento de bloqueio da imaginação, através do medo, e como possibilidade de reinvenção. O trabalho se completa, então, no fim da exposição. Ou não.
20 x 15 cm cada parte de 35
Grafite, primer acrílico e tela
Flor de cana
A ideia de reprodução da vida e da interdependência entre humanidade e natureza se desdobra nessa série de desenhos de observação. Cada conjunto da série parte de uma planta vendida como commodity em ciclos econômicos brasileiros, como café, cana e soja. A partir de uma imagem de uma enciclopédia botânica e derivações desta imagem feitas por um software de IA, a artista reproduz desenhos de observação feitos à mão com grafite. As telas são organizadas em uma forma que lembra a grade, a taxonomia, a classificação museológica, mas em percursos desviantes que sugerem ramificações e hibridizações não tão ordenados.
Union (Sindicato) une três convenções da representação do natural (enciclopédica, desenho à mão livre e imagem gerada por Inteligência Artificial) e questiona a separação (Terra, corpo e máquina) a partir do acúmulo do subproduto digital, o descarte do mundo contemporâneo, o resíduo. A série ocupa duas salas da exposição. Na Sala 1, junto ao Tapete, três conjuntos lidam com a representação da flor do pau-brasil em diferentes estágios: a semente fechada, a semente aberta e a flor.
dimensões variáveis
Serragem tingida
Foto Filipe BerndtTapete é um memorial efêmero, inspirado nas procissões católicas de Corpus Christi. A partir de uma tradição iniciada no período da colonização portuguesa, o feriado é marcado pela confecção de tapetes de serragem que colorem ruas de várias cidades brasileiras. Os tapetes são feitos com desenhos de cenas bíblicas, de flores, de objetos devocionais e frequentemente trazem imagens e mensagens locais. Os tapetes, depois de serem desenhados e preparados por dias, são desfeitos conforme as procissões passam por eles.
Na obra de Clara Ianni, o tapete traz um grande desenho de uma flor híbrida. O desenho nasce da junção de duas metades: de um lado, a imagem da flor de Pau-Brasil cortada ao meio foi retirada de uma enciclopédia botânica. Do outro, uma derivação desse desenho foi gerada por um software de Inteligência Artificial (IA). Tapete traz um dos elementos formadores do que hoje se chama Brasil, a planta que lhe conferiu o nome e que, por sua extração para a produção de corante vermelho, chegou a ser declarada extinta, ao lado de uma imagem gerada por um software corporativo que recombina imagens produzidas pelos usuários, em larga escala, assim como commodities. Nesse entroncamento, Tapete traça uma relação com o extrativismo do passado e do presente, questiona a divisão entre natureza e cultura, e propõe uma celebração à interdependência entre humanidade e seu entorno na reprodução da vida.
7 x 15 x 9 cm
Relógios de pulso digitais e rochas perfuradas
Foto Filipe BerndtQue horas são?, é uma série de esculturas que abordam a relação entre múltiplas temporalidades. Passado, presente, futuro, tempo humano e tempo da natureza aparecem entrelaçados em rochas que foram perfuradas para o emaranhamento com relógios de pulso digitais. As esculturas criam um diálogo entre o tempo geológico e o tempo social, aproximando as diferentes escalas temporais.
27 x 29,5 cm (cada parte de 9)
Caneta esferográfica sobre papel
Foto Filipe BerndtAnjos é uma série de desenhos de observação. Retirados dos primeiros mapas, enciclopédias e manuais científicos produzidos durante a colonização das Américas, o projeto reúne desenhos de anjos carregando barris de mercadorias, réguas e compassos. Anjos aborda a relação entre exploração econômica, ciência e religião.
20 x 15 cm cada parte de 35
Grafite, primer acrílico e tela
Flor de pau-brasil
A ideia de reprodução da vida e da interdependência entre humanidade e natureza se desdobra nessa série de desenhos de observação. Cada conjunto da série parte de uma planta vendida como commodity em ciclos econômicos brasileiros, como café, cana e soja. A partir de uma imagem de uma enciclopédia botânica e derivações desta imagem feitas por um software de IA, a artista reproduz desenhos de observação feitos à mão com grafite. As telas são organizadas em uma forma que lembra a grade, a taxonomia, a classificação museológica, mas em percursos desviantes que sugerem ramificações e hibridizações não tão ordenados.
Union (Sindicato) une três convenções da representação do natural (enciclopédica, desenho à mão livre e imagem gerada por Inteligência Artificial) e questiona a separação (Terra, corpo e máquina) a partir do acúmulo do subproduto digital, o descarte do mundo contemporâneo, o resíduo. A série ocupa duas salas da exposição. Na Sala 1, junto ao Tapete, três conjuntos lidam com a representação da flor do pau-brasil em diferentes estágios: a semente fechada, a semente aberta e a flor.
11'34"
vídeo, cor e som
Foto still do vídeo“O mito moderno de uma história universal propalada pela Europa aparece na obra Segunda Natureza (2023), de Clara Ianni, filmada dentro da Igreja Luterana de Maastricht (Holanda). A artista aborda a noção de acumulação do capital (sementes, fibras, minerais…), aproximando os temas da exploração da terra e da exploração do trabalho humano. Fruto do mundo cristianizado, a extração colonial fundamentou sua expansão baseando-se em várias separações. Deve-se à modernidade ocidental a cisão entre corpo e espírito (do homem) para um maior controle sobre a Natureza. O princípio protestante Soli Deo gloria (“Glória somente a Deus”), segundo o qual não há sequer sentido para a vida fora desta ordem, estabelece outros desmembramentos: entre clero e povo comum, entre verdadeira devoção e falsas crenças. No entanto, embora o enunciado do filme cobice a paisagem que se encontra fora das janelas da Igreja, alude ao menos a possibilidades de regeneração, nas qualidades de interdependência e camaradagem.”
Trecho de No Fim da Madrugada, de Lisette Lagnado
3 x 2 x 2 cm
Moeda de 10 centavos de real e terra
Foto Filipe BerndtO trabalho lida com uma das dinâmicas centrais do capitalismo, a acumulação, que toma o mundo existente como matéria-prima para o acúmulo de riqueza. Juntando características abstratas e concretas desses mecanismos, o conjunto de trabalhos traz à tona aspectos históricos, políticos e sociais, conectando o extrativismo à exploração digital-financeira.
dimensões variáveis
tinta sobre parede
Foto cortesia AmantMural realizado com a arte gráfica invertida do artigo “Eyes and Ears South”, publicado na cartilha pedagógica “Ver e Ouvir”, em 1945, pelo Escritório de Assuntos Interamericanos. O artigo fala sobre os filmes pedagógicos realizados pela OOIAA, apresentando países latino-americanos ao público norte-americano, durante a Guerra Fria. Este folheto acompanhava o material pedagógico audiovisual elaborado pelo Gabinete. Orientou os professores sobre como utilizar o material audiovisual e como iniciar discussões em sala de aula utilizando-os como mediação. No espaço expositivo, a arte gráfica da revista foi transformada em mural – invertido. A direção invertida da seta e a frase invertida “Eyes and Ears South” brincam com a posicionalidade de quem vê, de quem ouve e de quem é visto e ouvido. Propõe um desvio que também questiona noções de centralidade e margem, norte e sul.
16 x 8 cm
video em loop, iphone, terra e carregador
Acumulação é uma série de trabalhos que aborda questões relacionadas à uma das dinâmicas centrais do capitalismo, a acumulação, que toma o mundo existente como matéria-prima para o acúmulo de riqueza.
Juntando características abstratas e concretas desses mecanismos, o conjunto de trabalhos traz à tona aspectos históricos, políticos
e sociais, conectando o extrativismo à exploração digital-financeira.
4'19''
Video instalação
Foto still do vídeo“Aberturas” é uma videoinstalação feita a partir das sequências de abertura de filmes educativos sobre a América Latina, produzidos pelo Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA), durante a Guerra Fria. Frequentemente mesclando convenções de documentários pedagógicos com vídeo de viagens amadores, os filmes foram produzidos com imagens recicladas, inicialmente produzidas por corporações Norte Americanas que realizavam atividades extrativistas na região. As animações de abertura, que introduzem cada um desses filmes, desenhadas pelos Estúdios Walt Disney, sobrepõem convenções da indústria cultural, entretenimento, pedagogia, política e economia.
100 x 60 cm cada parte de 22
Guache, latex, papelão e papel madeira
Foto Filipe BerndtO conjunto de pinturas em látex e guache parte de uma coleção de pequenas notas encontradas ao longo de anos em livros de bibliotecas de São Paulo. Como um desenho de observação, o trabalho é feito a partir da compilação dessas anotações feitas por leitores nas margens de livros de história, literatura, sociologia e geografia brasileira. A junção desses comentários, perguntas, desenhos, rubricas e rabiscos de criança forma uma colagem, uma consciência de espaço e do contexto da recepção de ideias transmitidas nos livros.
A Fundação Bienal de São Paulo apresenta a mostra Vento até 13 de dezembro de 2020 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo como parte da programação da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto.
Intitulada a partir do filme Wind [Vento] (1968), de Joan Jonas, a exposição composta majoritariamente por obras desmaterializadas, em áudio e vídeo, busca ressaltar uma sensação de espaço e distância que raramente pode ser experimentada pelo público. Nenhuma parede expositiva será construída, e a arquitetura do Pavilhão Ciccillo Matarazzo ficará em seu estado natural, acolhendo as obras diretamente, sem elementos que possam criar uma mediação entre a escala humana dos trabalhos e as dimensões monumentais do Pavilhão.
Dimensões variáveis
Material Dourado Montessori e retroprojetor
Foto Felipe BerndtEm Educação pela noite, o material pedagógico de matemática, utilizado para o aprendizado de cálculo, é utilizado para jogar com a percepção, materialidade, abstração, projeção e deturpação. A instalação compõe-se de objetos e figuras, feitos a partir de pequenos blocos de madeira que, colocados sobre a superfície de retroprojetores, projetam sombras no edifício. A imagem das composições com o material escolar é projetada em superfícies distintas, convertendo a geometria, a parte da matemática que estuda o espaço e as figuras que o ocupam, em um instrumento que produz distorções.
66 x 96,5 cm
Colagem – recortes de jornal colados sobre papel Norbitte 66g
Foto Ana PigossoEssa série consiste em recortar todas as partes vermelhas que aparecem no jornal do dia e remontá-las como uma colagem, sugerindo novos padrões e combinações. Os recortes mesclam silhuetas as vezes abstratas, as vezes figurativas, e vão constituindo uma narrativa espontânea que espelha temas e questões contemporâneas.
66 x 96,5 cm
Colagem – recortes de jornal colados sobre papel Norbitte 66g
Foto Ana Pigosso Essa série consiste em recortar todas as partes vermelhas que aparecem no jornal do dia e remontá-las como uma colagem, sugerindo novos padrões e combinações. Os recortes mesclam silhuetas as vezes abstratas, as vezes figurativas, e vão constituindo uma narrativa espontânea que espelha temas e questões contemporâneas.15'27''
Vídeo Full HD – cor e som
Foto still do vídeoRepetições é um filme que revisita a primeira peça teatral feita contra o regime militar brasileiro em 1965, “Arena Conta Zumbi”, realizada pelo Teatro de Arena. Como uma tentativa de reencenação, o projeto consiste em evocar o texto da peça e o contexto de sua montagem, através das memórias de um de seus antigos atores e militante guerrilheiro, Izaias Almada. Utilizando algumas das técnicas dramatúrgicas desenvolvidas pelo próprio Teatro de Arena, o projeto não só lida com o conteúdo da peça, mas também com as formas e ferramentas artísticas desenvolvidas por Augusto Boal e pelo grupo.
_
Um filme de [A film by]: Clara Ianni
Fotografia [Cinematography]: Alexandre Wahrhaftig
Câmera [Camera]: Alexandre Wahrhaftig
2a câmera [2nd camera]: Chico Orlandi e Clara Ianni
Som [Sound]: Rafael Bonifácio
Edição [Editing]: Nina Senra/ Olho de Coruja e Clara Ianni
Textos [Texts]: Arena conta Zumbi, de [by] Augusto Boal & Gianfrancesco Guarnieri com músicas de [with music by] Edu Lobo (1965); Texto do Departamento de ordem Política e Social (1965)
Agradecimentos [Acknowledgements]: Tin Urbinatti, Ricardo Santos (Arquivo do Estado), Dalila Camargo, Eduardo Brandão, Galit Eilat, Felipe Pato.
64 x 111 cm
Impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemuhle Photo Rag 308 gr
Foto Ana Pigosso“Retas” busca pensar a linha para além de suas concepções puramente formais e geométricas. O trabalho investiga a linha reta enquanto construção política que condensa e concretiza estruturas de poder e dominação. A partir da seleção das linhas retas do mapa-mundi de 2017, que aparecem sobretudo na região das antigas colônias, “Retas” aponta para o caráter artificial e impositivo das divisões territoriais. O padrão geométrico e minimalista do trabalho se constrói como produto de relações sociais e econômicas.
6'14''
vídeo Full HD – preto e branco, som
Foto Stills do vídeo“Do Figurativismo ao Abstracionismo” é um vídeo que reflete sobre a relação entre arte e política, e sobre a relação entre a institucionalização da arte moderna e o colonialismo. Baseado em imagens das obras que foram exibidas na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1949, o vídeo revisita o papel do abstracionismo durante a Guerra Fria, combinando discursos feitos em contextos culturais e relatórios de guerra sobre a América Latina, feitos por Nelson Rockefeller.
‘Gotong Royong. Coisas que fazemos juntos’ é um encontro-exposição em que a ideia de comunidade impulsiona os filmes, objetos, documentação e atividades públicas oferecidas por artistas, ativistas e educadores de todo o mundo.
Gotong royong (“tarefa comum”) é um método de trabalho praticado na Indonésia, que pode ser descrito como “coisas que fazemos juntos à medida que aprendemos sobre elas agindo juntos”. Este título homenageia as práticas de educação artística informal e auto-organização social que são específicas da cultura indonésia, mas também comuns sob vários nomes em muitos outros lugares do mundo. É o assunto e o método de trabalho usados no encontro expositivo. Atividades voltadas não para a criação de objetos, mas sim para afetos, são apresentadas e acionadas durante a exposição e programação pública paralela.
A performance de Clara Ianni em espaço público, Open Monument, questiona a possibilidade e a necessidade de representar a memória coletiva e é baseada em uma pesquisa realizada pela artista em Varsóvia.
The Sky is Falling é uma exposição e programa de eventos que apresenta imaginários visuais díspares, observando como nos organizamos em algumas das cidades mais desafiadoras do nosso mundo. Explorando o desejo humano e a promessa da utopia, a exposição contrasta a perspectiva da cidade vista de cima, como imaginada pelo planejador moderno, com a realidade móvel e não fixa de viver no espaço urbano, examinando os sentidos contraditórios de dúvida e esperança que podemos sentir como com o céu, que parece cair. Curadoria de Remco de Blaaij e Ainslie Roddick.
42,5 x 60 cm cada parte de 23
impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Evolution Off White Rag 270 gr
Foto Gabi CarreraEm Tratado, Clara Ianni propõe um estudo das cores a partir da cerimônia de posse dos ministros do governo provisório de Michel Temer. O conjunto de ministros escolhidos pelo presidente interino foi criticado pela falta de diversidade de gênero e raça.
30 x 20,5 cm cada parte de 7
impressão offset sobre papel 75 gr perfurado, tinta guache preta e alumínio
Foto VermelhoEssa série surge da curiosidade sobre noções de futuro ou porvir que eram usadas em línguas mortas. Entre as línguas usadas no trabalho estão as que desapareceram por dominação de alguma outra cultura, pelo declínio das organizações políticas que tinham aquela língua como materna, por transformações e fusões com outros registros linguísticos ou pelo isolamento de seus falantes.
A partir dessa pesquisa, o trabalho busca criar o panorama de diferentes “devires” que nunca de fato se consumaram. Procura registrar também as projeções de um por vir que se transformou em passado.
Em sua forma, o trabalho também reflete sobre essas transformações, pois as letras que formam as palavras são apresentadas em blocos de folhas destacáveis, permitindo que o espectador pegue as letras que compõem essas expressões e remonte-as como quiser. Dessa maneira, o público ao mesmo tempo ativa e “mata” a obra original, por meio da sua transformação.
12'57''
Foto Rodrigo Lins Apelo surge da urgência em lidar com a institucionalização da violência no Brasil – consolidada ao longo da história do país, desde a invasão européia no início do séc. 16 – e a dificuldade em nos relacionar com seu legado. Filmado no Cemitério Dom Bosco no bairro de Perus, na periferia de São Paulo, onde a paisagem urbana e campestre se encontram, a obra conecta atos de violência do presente com os do passado por meio de um discurso público. O cemitério foi criado em 1971 pelo governo militar (1964-1985) para receber cadáveres de vítimas do regime repressor, em sua maioria desaparecidos, que logo viriam a ser sepultados em vala clandestina comum. A porta-voz do discurso e co-autora da obra, Débora Maria da Silva, teve seu filho assassinado em 2006, vítima das ações conduzidas por esquadrões da morte da polícia militar de São Paulo – uma das mais letais do mundo – em resposta aos ataques da organização de encarcerados Primeiro Comando da Capital (PCC). Hoje, Débora lidera o movimento Mães de Maio, formado por mulheres que também perderam os seus filhos devido à violência policial e exigem investigação e justiça. Como apelo, ou convocação aos vivos para recordar os mortos, o discurso clama pelo direito ao luto e à memória coletiva, confrontando o esquecimento forçado, sistematicamente conduzido pelo Estado em articulação com setores da sociedade. Busca com isso resgatar essas histórias apagadas, que desaparecem tão violentamente quanto indivíduos ou populações assassinadas. Pois a não existência da memória e a consequente impossibilidade de lidar com um trauma social nos condena à repetição dos mesmos atos de violência no presente, ameaçado pelos fantasmas da história. Luiza Proença115 x 86 cm (cada moldura) e 21 x 15 cm (cada placa) - díptico
desenho em papel e placa informativa
“Desenho de Classe” é uma série de desenhos baseados na cartografia do deslocamento entre casa e local de trabalho em SP. Os desenhos são feitos em casas de família onde é contratada pelo menos uma empregada doméstica. A proposta consiste em pedir ao patrão que desenhe, numa folha de papel transparente colocada em cima do mapa de São Paulo, o caminho percorrido da sua respectiva casa até o seu local de trabalho. O mesmo é exigido da empregada, que desenha em outra folha de papel. Em seguida, é solicitado que ambos anotem seus salários nas mesmas folhas. Os desenhos são mostrados em pares. Ao lado são colocados pequenos cartões contendo informações e citações coletadas durante a pesquisa. A obra reflete sobre questões de classe, tanto a nível material como afetivo, os legados desiguais no desenvolvimento urbano e a sua relação com a consumação do tempo e o uso do espaço na cidade.
45 x 65 x 3 cm cada parte de 9
Perfurações com munições usadas pela Polícia de Berlim sobre placas de zinco galvanizado com verniz Foto Anja Jahn Natureza-Morta ou Estudo para Ponto-de-Fuga é formado por nove chapas retangulares e idênticas de alumínio, colocadas sobre a parede em forma de grade – arranjo organizador consagrado, ao longo de décadas, por vertentes da arte moderna. A similitude entre esses elementos repetidos é contrafeita pela quantidade e pelos tamanhos dos furos que cada placa exibe, resultado de tiros dados sobre elas com as armas, de diferentes calibres, utilizadas pela polícia de diferentes países. Procedimento que desmonta, com agudeza crítica, os significados dos termos artísticos utilizados no título do trabalho, promovendo aproximação abrupta entre espaços simbólicos e concretos de vida que poucas vezes se tocam. Questiona, sem alarde, o próprio lugar social da arte. Trecho de "O lugar social da arte". Moacir dos Anjos, 2015150 x 50 x 50 cm
pá e cimento Foto Vermelho O trabalho de de Clara Ianni explora a relação entre arte e política. Sua prática conta com o uso de diferentes mídias, como intervenções, vídeos, instalação e textos, abordando o diálogo entre performance e cultura material. Seu interesse está em investigar questões de classe e trabalho dentro do contexto artístico, assim como a política da história. Trabalho concreto pode ser lido como uma evocação a lenda de Exaclibur, onde a espada Caledfwlch, cravada numa pedra (ou bigorna) só pode ser obtida por Arthur, como símbolo milagroso de sua Nobreza e direito ao trono da Bretanha. Talvez a pá cravada no concreto por Ianni sugira que o verdadeiro poder está destinado às mãos do trabalhador.200 x 200 cm
urina
100 x 50 cm
pá com corte
170 x 150 x 80 cm
tijolos, cimento, madeira, rodas
“A obra consiste numa parede sobre uma base móvel de madeira. O objeto pode ser manipulado pelo público, permitindo-lhe obstruir e barricar corredores, passagens, portas e outras obras de arte expostas no espaço expositivo.”
-Clara Ianni
6'
vídeo
Foto still do vídeoA obra consiste em um plano sequencial em que a artista, aos poucos, vai construindo um muro que acaba obstruindo a própria pintura e a paisagem. O título foi retirado de um anúncio, um empreendimento imobiliário próximo à universidade onde a mesma artista estudou.
33,5 x 17,5 x 21 cm
Relógios de pulso digitais e rochas perfuradas
Foto Filipe BerndtQue horas são?, é uma série de esculturas que abordam a relação entre múltiplas temporalidades. Passado, presente, futuro, tempo humano e tempo da natureza aparecem entrelaçados em rochas que foram perfuradas para o emaranhamento com relógios de pulso digitais. As esculturas criam um diálogo entre o tempo geológico e o tempo social, aproximando as diferentes escalas temporais.
Em sua prática, Clara Ianni explora a relação entre a materialidade do espaço e suas formas de representação. Por meio de uma investigação da epistemologia da arte, política e história, o trabalho de Ianni se posiciona como um investigador da sociedade contemporânea. Seus trabalhos têm como campo de referência a história do Brasil, de sua formação colonial aos recorrentes ciclos autoritários, frequentemente questionando o que se entende por modernização.
Muitas de suas obras tomam essa história como um campo de disputa cujos documentos e narrativas se encontram no tempo presente para elaborar futuros possíveis. Atenta para os modos como o poder regula o que é reconhecido como fato e o que é relegado ao campo dos boatos ou à marginália das notas de rodapé, trabalha com vozes e acontecimentos dissonantes, promovendo fricções entre discursos oficiais e possibilidades de outras enunciações. Essa operação constitui uma prática interdisciplinar que resulta em ações, instalações, vídeos, objetos e conjuntos gráficos de caráter ensaístico.
Clara Ianni é formada em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo [USP] e mestre em Visual and Media Anthropology pela Freie Univeristät, Berlim. A sua prática investigativa engloba a curadoria de exposições que incluem ‘O futuro da memória’, Instituto Goethe, São Paulo (2017); e, auxiliando os curadores Regis Michel, Museu do Louvre, Paris, e Artur Zmijewski para a 7ª Bienal de Berlim (2012).
Ianni recebeu bolsas do DAAD (2012), PIBIC / CNPQ e da ECA-USP (2010). Seu trabalho está presente em coleções em todo o mundo, incluindo FRAC Poitou-Charentes Collection, Angoulême; Museu de Arte Moderna, MAM Rio, Rio de Janeiro; Collezione Taurisano, Nápoles; e MoMA, New York.
A seleção de exposições de que participou inclui: Against Again: Art Under Attack in Brazil. John Jay College of Criminal Justice, New York (2020); 21º Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, Sesc 24 de Maio, São Paulo; Histórias feministas: artistas depois de 2000, MASP, São Paulo; Modern Monday: An Evening with Clara Ianni, MoMA, New York (2019); Forma Livre, Plataforma 28, Teerã; Distopias intermitentes, X Bienal de Berlim, Centro ZK / U de Arte e Urbanística, Berlim, (2018); Jogja Biennale Equator 2017. Museu Nacional de Jogja, JNM, Yogyakarta; Levantes, Sesc Pinheiros, São Paulo (2017); Gotong Royong: Coisas que fazemos juntos, Centro de Arte Contemporânea no Castelo de Ujazdowski, Varsóvia (2017); Talking to Action (Pacific Standard Time: LA / LA), Ben Maltz Gallery no Otis College of Art and Design, Los Angeles (2017); Counter Tropical, Tanzquartier Wien, Vienna (2016); Neither Back Nor Forward: Acting in the Present, Jakarta Biennale 2015, Jacarta; Historias Locales, Prácticas Globales, MDE15 Encuentro Internacional de Arte de Medellín, Museo de Antioquia, Medelin (2015); Demonstrating Minds: Disagreements in Contemporary Art, KIASMA, Helsinki (2015); Fire and forget. On Violence, Kunst-Werke, Berlin (2015); In Search for Radical Incomplete, a Perfect Animal Within, Stacion Center for Contemporary Art, Pristina (2015); 31ª Bienal de São Paulo: como (…) coisas que não existem, São Paulo (2014); P33: Formas únicas da continuidade no espaço. 33º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, São Paulo (2013); Sem título (12ª Bienal de Istambul), Istambul, (2011); Apoie o seu vândalo local, Centre Menilmush, Paris (2009).
Em sua prática, Clara Ianni explora a relação entre a materialidade do espaço e suas formas de representação. Por meio de uma investigação da epistemologia da arte, política e história, o trabalho de Ianni se posiciona como um investigador da sociedade contemporânea. Seus trabalhos têm como campo de referência a história do Brasil, de sua formação colonial aos recorrentes ciclos autoritários, frequentemente questionando o que se entende por modernização.
Muitas de suas obras tomam essa história como um campo de disputa cujos documentos e narrativas se encontram no tempo presente para elaborar futuros possíveis. Atenta para os modos como o poder regula o que é reconhecido como fato e o que é relegado ao campo dos boatos ou à marginália das notas de rodapé, trabalha com vozes e acontecimentos dissonantes, promovendo fricções entre discursos oficiais e possibilidades de outras enunciações. Essa operação constitui uma prática interdisciplinar que resulta em ações, instalações, vídeos, objetos e conjuntos gráficos de caráter ensaístico.
Clara Ianni é formada em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo [USP] e mestre em Visual and Media Anthropology pela Freie Univeristät, Berlim. A sua prática investigativa engloba a curadoria de exposições que incluem ‘O futuro da memória’, Instituto Goethe, São Paulo (2017); e, auxiliando os curadores Regis Michel, Museu do Louvre, Paris, e Artur Zmijewski para a 7ª Bienal de Berlim (2012).
Ianni recebeu bolsas do DAAD (2012), PIBIC / CNPQ e da ECA-USP (2010). Seu trabalho está presente em coleções em todo o mundo, incluindo FRAC Poitou-Charentes Collection, Angoulême; Museu de Arte Moderna, MAM Rio, Rio de Janeiro; Collezione Taurisano, Nápoles; e MoMA, New York.
A seleção de exposições de que participou inclui: Against Again: Art Under Attack in Brazil. John Jay College of Criminal Justice, New York (2020); 21º Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, Sesc 24 de Maio, São Paulo; Histórias feministas: artistas depois de 2000, MASP, São Paulo; Modern Monday: An Evening with Clara Ianni, MoMA, New York (2019); Forma Livre, Plataforma 28, Teerã; Distopias intermitentes, X Bienal de Berlim, Centro ZK / U de Arte e Urbanística, Berlim, (2018); Jogja Biennale Equator 2017. Museu Nacional de Jogja, JNM, Yogyakarta; Levantes, Sesc Pinheiros, São Paulo (2017); Gotong Royong: Coisas que fazemos juntos, Centro de Arte Contemporânea no Castelo de Ujazdowski, Varsóvia (2017); Talking to Action (Pacific Standard Time: LA / LA), Ben Maltz Gallery no Otis College of Art and Design, Los Angeles (2017); Counter Tropical, Tanzquartier Wien, Vienna (2016); Neither Back Nor Forward: Acting in the Present, Jakarta Biennale 2015, Jacarta; Historias Locales, Prácticas Globales, MDE15 Encuentro Internacional de Arte de Medellín, Museo de Antioquia, Medelin (2015); Demonstrating Minds: Disagreements in Contemporary Art, KIASMA, Helsinki (2015); Fire and forget. On Violence, Kunst-Werke, Berlin (2015); In Search for Radical Incomplete, a Perfect Animal Within, Stacion Center for Contemporary Art, Pristina (2015); 31ª Bienal de São Paulo: como (…) coisas que não existem, São Paulo (2014); P33: Formas únicas da continuidade no espaço. 33º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, São Paulo (2013); Sem título (12ª Bienal de Istambul), Istambul, (2011); Apoie o seu vândalo local, Centre Menilmush, Paris (2009).
Clara Ianni
1987. São Paulo, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo
Exposições Individuais
2024
– Clara Ianni. Segunda Natureza – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
2023
– Clara Ianni. Segunda Natureza – Jan van Eyck Academy – Maastricht – Holanda
2022
– Clara Ianni. Education by Night – Amant – Nova York – Brasil
2018
– Clara Ianni. Repetições – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
Exposições Coletivas
2023
– A Stage Rebellion – Leonard and Bina Ellen Arts Gallery – Montreal – Canadá
– No Fim da Madrugada – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– PROTO-TIPO – Galeria Idea!Zarvos – São Paulo – Brasil
– Concretos – Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y Léon [MUSAC] – Léon – Espanha
2022
– 34a Bienal de São Paulo. Faz escuro mas eu canto [itinerancia] – Palácio das Artes – Belo Horizonte – Brasil
– Courtisane Festival 2022 – Ghent – Bélgica
– Now that we found freedom, what are we gonna do with it? Narratives on post-independency and processes of decolonization – Hangar – Centro de investigação artística – Lisboa – Portugal
– Contar o tempo – Mariantonia – São Paulo – Brasil
2021
– Estado de Possessão: notas para uma estética da tortura – Coleção Moraes Barbosa [CMB] – São Paulo – Brasil
– 2021 Triennial: Soft Water Hard Stone – New Museum – Nova York – USA
– 34a Bienal de São Paulo. Faz escuro mas eu canto – Pavilhão Ciccillo Matarazzo – São Paulo – Brasil
2020
– Vento. 34ª Bienal de São Paulo – Pavilhão Ciccillo Matarazzo – Parque do Ibirapuera – São Paulo – Brasil
– Canções de um passado esquecido – Instituto Tomie Ohtake [ITO] – São Paulo – Brasil
– Against Again: Art Under Attack in Brazil – John Jay College of Criminal Justice – Nova York – EUA
– Dupla Central na Biblioteca Mário de Andrade – Biblioteca Mário de Andrade – São Paulo – Brasil
2019
– 21º Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Comunidades Imaginadas – Sesc 24 de Maio – São Paulo – Brasil
– Finalistas da 7ª edição do Prêmio da Indústria Nacional / Marcantônio Vilaça – Museu de Arte Brasileira [MAB / FAAP] – São Paulo – Brasil
– Obra reciente – PARQUE Galería – Cidade do México – México
– Histórias feministas: artistas depois de 2000 – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand [MASP] – São Paulo – Brasil
– Carte Blanche – Cinemateca Madrid – Sala Plató – Madri – Espanha
– Videoex Experimentalfilm & Video Festival 2019 – Zurique – Suíça
– Modern Mondays: An Evening with Clara Ianni – MOMA in the Titus 2 Theater – Nova York – EUA
2018
– Mostra de filmes e vídeos Verbo SLZ – Chão SLZ – São Luís – Brasil
– 10ª Semana dos Realizadores – Espaço Itaú de Cinema – Rio de Janeiro – Brasil
– Forma Livre – Platform 28 – Teerã – Irã
– Brasília Extemporânea – Casa Niemeyer – Brasília – Brasil
– Quem não luta tá morto. Arte Democracia Utopia – Museu de Arte do Rio [MAR] – Rio de Janeiro – Brasil
– Estado(s) de Emergência – Paço das Artes – Oficina Cultural Oswald de Andrade – São Paulo – Brasil
– Intermittent dystopias – X Berlin Biennale – ZK/U Center for Art and Urbanistics (ZK/U) – Berlim – Alemanha
– 6ª Edição Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça – Verzuimd Braziel / Brasil Desamparado – Museu Histórico Nacional – Rio de Janeiro – Brasil
– Brasile. Il coltello nella carne – Padiglione di Arte Contemporanea (PAC) – Milão – Itália
– Fracture Zone – International Symposium on Eletronic Art – Durban – África do Sul
– 6ª Edição Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça – Verzuimd Braziel / Brasil Desamparado – Centro Dragão do
Mar de Arte e Cultura – Fortaleza – Brasil
– Que Barra – Atelier 397 – São Paulo – Brasil
– Line of Sight. Lethal Design – Museum of Contemporary Design and Applied arts of Lausanne (MUDAC) –
– Lausanne – Suíça
– 6ª Edição Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça: Verzuimd Braziel-Brasil Desamparado – Museu de Arte Contemporânea (MAC GO) – Goiânia – Brasil
2017
– Jogja Biennale Equator 2017 – Jogja National Museum (JNM) – Yogyakarta – Indonésia
– Levantes – Sesc Pinheiros – São Paulo – Brasil
– Hiatus – Memorial da Resistência de São Paulo – São Paulo – Brasil
– Gotong Royong: Things we do together – Centre for Contemporary Art at Ujazdowski Castle – Varsóvia – Polônia
– How to Remain Silent? -A4 Arts Foundation – Cidade do Cabo – África do Sul
– Talking to Action / Hablar y Actuar (Pacific Standard Time: LA/LA) – Ben Maltz Gallery at Otis College of Art and Design
– Los Angeles – EUA
Festival Internacional de Videoarte FUSO – Jardim do Museu de Arte Antiga – Lisboa – Portugal
– Mostra Direitos em Pauta – Cinemateca – São Paulo – Brasil
– OSSO Exposição-apelo pelo amplo direito de defesa de Rafael Braga – Instituto Tomie Ohtake – São Paulo – Brasil
– Travessias 5: Emergência – Galpão Bela Maré – Rio de Janeiro – Brasil
– The Sky is Falling – Centre for Contemporary Arts (CCA) – Glasgow – Escócia
– Utopia/Dystopia – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia MAAT – Lisboa – Portugal
2016
– Unter Waffen. Fire & Forget 2 – Museum Angewandte Kunst – Frankfurt – Alemanha
– Living On | In Other Words on Living? – Academy of Fine Arts Vienna – Viena – Áustria
– 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul – SESC Rio Preto – São José do Rio Preto – Brasil
– Ocupação Hotel Cambridge – Cambridge Hotel – São Paulo – Brasil
– Prêmio PIPA 2016 – Museu de Arte Moderna (MAM) – Rio de Janeiro – Brasil
– 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul – SESC São Carlos – São Carlos – Brasil
– Coletiva – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– (Counter)Tropical – Tanzquartier Wien – Viena – Áustria
– The City – Art Museum KUBE – Ålesund – Noruega
– The City Machine – UnionDocs – Nova York – EUA
– El pueblo – Searching for Contemporary Latin America – International Short Film Festival Oberhausen – Lichtburg Filmpalast – Oberhausen – Alemanha
– Jogo de Forças – Paço das Artes – São Paulo – Brasil
– Totemonumento – Galeria Leme – São Paulo – Brasil
2015
– Empresa Colonial – CAIXA Cultural São Paulo – São Paulo – Brasil
– Neither Back Nor Forward: Acting in the Present – Jakarta Biennale 2015 – Jacarta – Indonésia
– Historias Locales / Prácticas Globales – MDE15 Encuentro Internacional de Arte de Medellín – Museo de Antioquia – Medelin – Colômbia
– Demonstrating Minds: Disagreements in Contemporary Art – KIASMA – Helsinque – Finlândia
-19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil: Panoramas do Sul – SESC Pompéia – São Paulo – Brasil
– How to (…) Things That Don’t Exist – 31ª Bienal de São Paulo – Obras Selecionadas – Museu de Arte Contemporânea de Serralves – Porto – Portugal
– Ter Lugar para Ser – Centro Cultural São Paulo (CCSP) – São Paulo – Brasil
– Quarta-feira de Cinzas – Parque Lage – Rio de Janeiro – Brasil
– VERBO 2015 – Mostra de Performance Arte (11ª edição) – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– Speaking to history – Extra City – Antuérpia – Bélgica
– Fire and Forget. On Violence – Kunst-Werke – Berlim – Alemanha
– In Search for Radical Incomplete, a Perfect Animal Within – Stacion Center for Contemporary Art –Pristina – Kosovo
– Frente à Euforia – Oficina Cultural Oswald de Andrade – São Paulo – Brasil
– Itinerância 31ª Bienal de São Paulo- Obras Selecionadas – SESC Campinas – Campinas – Brasil
– Yebisu International Festival for Art & Alternative Visions – Tokyo Metropolitan Museum of Photography – Tóquio – Japão
– Itinerância 31ª Bienal de São Paulo- Obras Selecionadas – SESC São José dos Campos – São José dos Campos – Brasil
2014
– We are what we lost – XIII OuUnPo Research Session – São Paulo – Brasil
– 31ª Bienal de São Paulo: como (…) coisas que não existem – Pavilhão da Bienal – São Paulo – Brasil
– Verbo 2014. Mostra de Performance Arte (10ª ed.) – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– Refrações na Paisagem – Dragão do Mar – Fortaleza – Brasil
– U-TURN – ArteBA 2014 – Buenos Aires – Argentina
– Idea of Fracture – Galeria Francesca Minimi – Milão – Itália
2013
– La parte que no te pertenece – Maisterravalbuena – Madri – Espanha
– Exposição de Verão – 10 Anos – Galeria Silvia Cintra+Box4 – Rio de Janeiro
– Conversation Pieces – Neuer Berliner Kunstverein [NBK] – Berlim – Alemanha
– HIWAR – Conversations in Amman – Darat al Funun – Amã – Jordânia
– Red Bull House of Art – Red Bull Station – São Paulo – Brasil
– Brutalidade Jardim – Galeria Marilia Razuk – São Paulo – Brasil
– P33: Formas únicas da continuidade no espaço – 33º Panorama da Arte Brasileira – MAM São Paulo – Brasil
– Alma é o Segredo do Negócio – Espaços Independentes – FUNARTE – São Paulo – Brasil
2012
– Monumento/Ponto/Linha/Plano – III Programa de Exposições 2012 – Centro Cultural São Paulo [CCSP] – São Paulo – Brasil
– Outras Coisas Visíveis Sobre Papel – Galeria Leme – São Paulo – Brasil
– É Preciso Confrontar Imagens Vagas Com Gestos Claros – Oficina Cultural Oswald Andrade – São Paulo – Brasil
– Architecture as Human Nature – Supermarkt – Berlim – Alemanha
2011
– Untitled (12ª Bienal de Istambul) – Istambul – Turquia
– Bolsa Pampulha – Museu da Pampulha – Belo Horizonte – Brasil
– Entretanto [Desvio é o alvo] – Jardim Europa – São Paulo – Brasil
– 748.600 – Paço das Artes – São Paulo – Brasil
2010
– À Sombra do Futuro – Instituto Cervantes – São Paulo – Brasil
– Qual é o Lugar da Arte? – 61º Salão de Abril – Fortaleza – Brasil
– Vão – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– 18ª Visualidade Nascente – Instituto de Arte Contemporânea [IAC] – São Paulo – Brasil
– 12º Salão Nacional de Itajaí – Itajaí – Brasil
– SARP – Museu de Arte de Ribeirão Preto – Ribeirão Preto – Brasil
– 2º Prêmio EDP nas Artes – Instituto Tomie Otahke – São Paulo – Brasil
2009
– Support your local vandal – Centre Menilmush – Paris – França
Prêmios e Bolsas
2024
– Werner Fenz Grant for Art in Public Space 2024 (Project Resurrection)
2015
– Prêmio de Residência A-I-R Laboratory (Varsóvia, Polônia) – 19º Festival de Arte Contemporânea SESC_VIDEOBRASIL
2012
– Bolsa de Mestrado na Freie Univeristät, DAAD – Berlim – Alemanha
2011
– IFA, Institüt fur Auslandsbeziehungen – Berlim – Alemanha
2010
– Bolsa Pampulha – Museu de Arte da Pampulha – Belo Horizonte – Brasil
2008
– Iniciação Científica “Picasso, Adorno e a crítica da Racionalidade Moderna” PIBIC/CNPQ
– Bolsa de Intercâmbio Internacional – Brasil/França – Pro-Int – ECA-USP – São Paulo – Brasil
Residências
2022-2023
– Jan Van Eyck Academy 2022-2023 – Maastricht – Holanda
2018
– Delfina Foundation – Londres – Reino Unido
2011
– Culturia Residence – Berlim – Alemanha
2010
– Casa Tomada/VideoBrasil, São Paulo, Brasil
– Red Bull House of Art – São Paulo – Brasil
– Bolsa Pampulha – Museu da Pampulha – Belo Horizonte –
Brasil
Coleções Públicas
– FRAC Poitou-Charentes – Angoulême – França
– Museu de Arte Moderna (MAM Rio) – Prêmio IP Capital Partners de Arte (PIPA) 2015 – Rio de Janeiro – Brasil
– Museum of Modern Art (MOMA) – Nova York – EUA
Coleções Privadas
– Collezione Taurisano – Nápoles – Itália
– Grand Hotel Miramare -Portofino – Itália
A artista brasileira Clara Ianni enfatiza que a violência histórica se recompõe continuamente nas sociedades contemporâneas. A artista foi criada em uma família politicamente engajada e desenvolveu um interesse precoce por questões políticas relacionadas à história do Brasil e às formas contemporâneas de opressão.
Formou-se em artes visuais pela Universidade de São Paulo e em antropologia visual e de mídia pela Freie Universität Berlim. Clara Ianni vive e trabalha em São Paulo e atualmente é representada pela Galeria Vermelho. Sua obra já foi exibida em grandes exposições, como a 21ª Bienal de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil “Comunidades imaginadas” no Sesc 24 de Maio e “Histórias feministas: artistas depois de 2000” no Museu de Arte de São Paulo (Masp). Seus trabalhos também foram exibidos internacionalmente: é significante a participação na 10a Bienal de Berlim, em Berlim e em “Brasile. Il coltello nella carne”, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti no PAC, Milão. Clara Ianni foi convidada a participar da próxima Bienal de São Paulo.
A pesquisa de Ianni abrange uma ampla gama de disciplinas, incluindo antropologia, história e ciências políticas. Sua prática é fundamentada em referências precisas à arte moderna, história da arte, estudos pós-coloniais e arquitetura. Seu trabalho examina as consequências da dominação, em particular o racismo, e ecoa as experiências traumáticas de viver em um país fundado em cima de terror e adversidade.
A violência está profundamente enraizada na sociedade brasileira e se torna tangível por meio de várias ações e símbolos políticos. A própria lei desempenha um papel ambíguo nesse cenário. Em 1979, uma lei de anistia foi implementada pela ditadura militar. Esta lei, embora alterada pelo senado em 2014, ainda está em vigor hoje. Ela compele o perdão por crimes e atos de tortura cometidos por agentes do Estado. Também se aplica aos oponentes do regime, e não faz distinção entre os vários atos cometidos. Sua implementação criou uma supervisão geral e impôs o esquecimento entre a população do país. Ao instaurar uma reconciliação fingida, essa lei afetou dramaticamente as representações pessoais e impediu qualquer perspectiva de construção de uma transmissão compartilhada de eventos passados.
“Apelo” (2014) foi filmado no cemitério Dom Bosco, em São Paulo, que serviu como vala comum para as vítimas da ditadura. O cemitério permanece em uso hoje e é onde estão enterrados os corpos de indigentes, vítimas do tráfico e vítimas da violência policial e militar atual. Débora Maria da Silva, ativista de direitos humanos, é a narradora do filme. Ela denuncia o anonimato dos enterros e o constante esquecimento: “Lembre-se de que é o nosso sangue que rega esta terra e faz as plantas crescerem. É do nosso sangue que as plantações bebem e que misturam o cimento em cada nova cidade”. O tempo presente surge como um eterno rio Styx, repleto de tristeza. O filme subverte a representação do Brasil como uma terra de abundância e esperança, um estereótipo que sobrevive no país e no exterior. Durante a pesquisa preliminar, Clara Ianni filmou “Mães” (2013), um prequel de “Apelo”. Inserido entre o indivíduo e a história coletiva de milhões de pessoas que sofreram violência durante a ditadura, o trauma persistiu no período democrático.
A repetição é uma figura-chave da vida política brasileira e se aplica tanto a instituições políticas quanto a movimentos alternativos em defesa dos direitos humanos. “Repetições” de Clara Ianni (2018) revisita a peça política “Arena Conta Zumbi”, realizada pelo Teatro de Arena em 1965. Através das memórias de um de seus antigos performers, Izaias Almada, o filme é uma tentativa de experimentar a história por meio da repetição e superar a má representação do sofrimento pela companhia na peça inicial.
Em “Tratado” (2016), ela compõe um estudo de cores baseado em uma paleta de nuances da pele humana. Cada bloco estabelece uma correspondência entre o tom de pele de um dos ministros do Presidente Temer com uma cor monocromática equivalente, refletindo a supremacia branca e masculina de seu gabinete.
Linhas e planos derivam das principais estéticas e princípios políticos da modernidade. Eles também estão nas raízes da cartografia. Baseado em uma composição de linhas retas que representam fronteiras retilíneas em uma projeção cilíndrica do mundo em 2017, “Retas” (2017) é um mapa mundi impresso, minimalista e abstrato. Tendo a Europa no centro, destaca a construção política da geografia e revela como ela foi historicamente imposta a outros por países dominantes.
“Do figurativismo ao abstracionismo” (2017) investiga o papel político da arte da abstração no século 20, explorando a interferência de manobras políticas, colonialismo e interesses pessoais no campo da arte. O vídeo é uma colagem feita a partir de reproduções de obras de arte que foram exibidas na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) em 1949, da qual o título é retirado. As imagens são combinadas com citações diferentes, uma das quais diz respeito às relações diplomáticas e à cooperação cultural entre o Brasil e os EUA: “Não existe uma ponte mais forte entre os povos das Américas do que as forças criativas de nossos tempos, que mais do que nunca são de caráter universal”. Isso vem de uma carta que Nelson Rockefeller dirigiu ao empresário e fundador do MAM-SP, Francisco Matarazzo Sobrinho. A influência de um pequeno grupo de indivíduos privilegiados na definição de políticas culturais e na história da arte nos países modernos é ainda mais gritante.
A abordagem de Clara Ianni à prática artística é radical e demonstra uma análise precisa das desigualdades ativas e estruturas de opressão no Brasil. A ambição política de seu trabalho faz um apelo latente para um futuro de resistência ativa e ação coletiva.
Théo-Mario Coppola (nascido em 1990 – não-binário – ele) é um curador independente e escritor de arte. Na interseção entre empatia e ativismo, sua prática curatorial se envolve e se molda por meio de pesquisa, o experimental, narrativas e políticas. Théo-Mario Coppola fundou e foi responsável pela curadoria do “Hotel Europa”, uma série anual de exposições e programas (Vilnius, Lituânia em 2017, Bruxelas, Bélgica em 2018 e Tbilisi, Geórgia em 2019). Em 2018, ele curou a terceira edição do festival de artes Nuit Blanche na Villa Medici em Roma, Itália. Théo-Mario Coppola foi nomeado curador da 11ª edição da bienal Momentum, que ocorrerá em 2021 em Moss, Noruega.
Quando recebi o e-mail que me convidava para escrever um texto para esta publicação (Histórias da sexualidade: Antologia, Organizadores: Adriano Pedrosa; André Mesquita; Edições MASP, 2017), umas séries de frases ecoaram em minha cabeça. Nada surpreendente, afinal, costumo relembrá-las de tempos em tempos. Frases que ouvi durante minha trajetória nas artes e, involuntariamente, memorizei. Quis seguir por outro caminho, mas à medida que tentava avançar com o texto, mais essas frases ganhavam volume. Resolvi então escolher algumas e escrever através delas. Escrever através de fantasmas.
1. “ELA FAZ ARTE DE MACHO” Há uma certa crença de que há um jeito de mulher fazer arte. Essa crença deriva de uma outra, ainda mais antiga, que é a de que há um jeito de ser mulher. Não muito diferente do que se acredita nos outros campos da vida, nas artes ainda parece haver um universo de assuntos e procedimentos associados ao feminino. Uma ideia de essência que confunde a mulher com o universo doméstico, a dimensão individual, a vulnerabilidade, seu próprio corpo ou seu sexo.
Em oposição aos homens, para os quais foi guardado o espaço público e a reflexão sobre aquilo que é comum, à mulher são reservados apenas o espaço privado burguês, supostamente apartado da sociedade, ou sua sexualidade. Em ambos os casos, junto das crianças, dos loucos, dos selvagens, a mulher encontra-se em um território tutelado, mediado, que deve ser interpretado e traduzido para ser entendido. Um não lugar que só existe em relação ao outro que lhe é soberano. Um lugar-função, dependente, cuja serventia é dar silhueta ao Homem como se fosse seu volume negativo.
Assim como no livro do Gênesis, o Homem foi criado à imagem e semelhança de Deus; na terra, a mulher deveria ser, à semelhança do Homem, seu oposto complementar. Sob essa lógica de divisão, espera-se que a mulher fale no particular, enquanto o Homem, no universal.
2. “ELA É UM HOMEM DE SAIA” Porque é difícil admitir que mulheres sejam outra coisa que não o esperado, resta existir no limite. Quando livres daquilo que supostamente deveriam ser, isto é, do conjunto de imagens associadas ao feminino, elas se transmutam em figuras estranhas. E como escapam, não tardam a ser capturadas novamente pela sombra do Homem. Dessa vez, não sob forma de seu oposto complementar, mas como sua semelhança. Tornam-se seres híbridos. Da fragilidade à sexualização, a ruptura com o que se espera das mulheres é socialmente interpretada como a automática entrada no universo masculino. Às que recusam as restrições do gênero, ou seja, a objetificação de suas subjetividades, sobra uma existência turva. Frente à lógica binária, a disputa pelo espaço do comum é codificada e traduzida como hibridização.
Afinal, nas artes como na vida, o comum é assunto do Homem, da razão, e não das mulheres com suas paixões. Se observada em perspectiva, a associação entre insubmissão e hibridização talvez não seja nova. No começo da idade moderna, simultaneamente à colonização das Américas, alguns artistas renascentistas foram comissionados para produzir ilustrações para os manuais de Caça às Bruxas. Nesse período, começaram a surgir imagens de mulheres voando, montadas sobre objetos fálicos. A vassoura, até então símbolo do trabalho doméstico feminino, foi subvertida e retratada, por entre as pernas das mulheres, como veículo de mobilidade, em um misto de perversão e transgenia. As bruxas, mulheres que no século 16 não se limitavam ao espaço que lhes reservava o Estado ou a Igreja, passaram a ser retratadas como seres híbridos. A insubmissão dessas mulheres frente à demarcação dos papéis sociais de gênero passou a ser traduzida em corpos aberrantes, divididos entre o feminino e o masculino, o humano e o animal, entre a civilização e a barbárie.
3. “ELA ENGRAVIDOU, LOGO ESTARÁ FORA DO CIRCUITO”. Mais de uma vez ouvi comentários sobre mulheres artistas que resolvem também ser mães. Com frequência, questiona-se a permanência das mulheres nas artes após a maternidade.
Longe das interpretações idiossincráticas, esta é uma questão política fundamental. Somadas à crença que naturaliza o trabalho da criação como atributo exclusivamente feminino, as condições econômicas são a materialização do limite entre a mulher que fica e a que evade o sistema das artes. A suposição de que os cuidados e encargos da criação são essencialmente femininos, frequentemente implica no confinamento da mulher artista ao seu suposto universo privado. E, por extensão, sua evasão do espaço público, do debate coletivo, do território do comum. Sob essa lógica, a artista enquanto mãe deve retornar ao seu espaço doméstico. Retornar ao seu espaço de mulher.
4, “ELA TEM QUE SER DURA PORQUE NÃO VAI SER FÁCIL” Certa vez estava em sala de aula quando um grupo de alunas trouxe uma questão para o debate. Estavam indignadas pois, ao perguntarem à professora de história da arte o porquê da ausência de artistas mulheres no programa, ela respondeu que não havia figuras tão importantes naquele período, dignas de serem discutidas. Elas estavam incrédulas e me mostravam os livros que, entre um capítulo e outro, em meio aos cânones, mencionavam artistas mulheres. Me falavam sobre como era contraditório aquele tipo de afirmação em um contexto como o brasileiro, no qual boa parte dos artistas relevantes da arte moderna e contemporânea são mulheres.
Resolveram pesquisar por conta própria. Começaram a se perguntar se as artistas mulheres ganhavam o mesmo que os artistas homens e por que a maioria das artistas atuantes está também dando aula, enquanto os artistas homens, não. Se perguntavam se os museus eram também dirigidos por mulheres. Tentavam recordar artistas feministas no Brasil. Perguntavam se não haviam existido artistas feministas no Brasil ou se os historiadores não as haviam compreendido como tais. Se perguntavam se as teorias feministas eram adequadas ao nosso contexto. Fizeram muitas perguntas. E, à medida que perguntavam, me lembravam das inúmeras conversas que tive com outras artistas mulheres sobre essas questões. Entre nós, quase corno segredos.
Em outubro de 2015, a exposição do 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil ocupava o Sesc Pompeia (SP), colosso arquitetônico projetado por Lina Bo Bardi (1914-1992). Embora monumental, a construção parecia abraçar as obras ali mostradas, emprestando o tom ocre de suas paredes a vídeos que descortinavam paisagens diversas – subjetivas, metafóricas e literais. Em uma das salas montadas para o festival, croquis da construção da capital do Brasil eram exibidos em duas telas lado a lado; além de ver os esboços do que seria Brasília, o visitante ouvia as vozes de duas figuras proeminentes na concepção da metrópole erigida no meio do nada – os arquitetos e urbanistas Oscar Niemeyer (1907-2012) e Lúcio Costa (1902-1998). Eles, contudo, não se referiam aos famosos traços e desenhos urbanos pelos quais também seriam celebrados, e, sim, a uma chacina ocorrida em fevereiro de 1959 em um dos canteiros de obras. Evitando responder aos questionamentos feitos pelo documentarista Vladimir de Carvalho, pareciam sacramentar a máxima de que a História é escrita, de fato, pelos vencedores.
A fricção entre uma obra reconhecida mundialmente como um dos maiores feitos arquitetônicos do século XX, a fúria com que foram tratados dezenas dos homens que se devotavam a construí-la e o soterramento dessa memória é uma das chaves de Forma livre, videoinstalação de 2013 de Clara Ianni. Havia um outro trabalho dessa paulistana nascida em 1987 no ousado conjunto amealhado pelo 19º Videobrasil: Linha, também de 2013. Tratava-se de “uma série de gravuras de linhas que marcaram a invenção do território brasileiro, derivadas de tratados históricos ou conflitos; deixo só as linhas, o que elas têm de conteúdo político e como elas desenham e redesenham a sociabilidade e o afeto de humanos com humanos e sociedades com sociedades”, nas palavras da própria artista visual. Forma livre e Linha lhe renderam um dos prêmios de residência internacional do festival.
Graduada em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo, com mestrado em Visual and Media Anthropology pela Freie Universität, de Berlim, Clara Ianni promove mergulhos investigativos em suas obras, com foco nos elos que se estabelecem entre arte, política, sociedade contemporânea e ideologia. Da 31ª Bienal de São Paulo, em 2014, por exemplo, participou com o vídeo Apelo, em que dividiu a autoria com Débora Maria da Silva, fundadora do Movimento Mães de Maio – criado por mulheres que perderam seus filhos assassinados pela Polícia Militar de São Paulo em maio de 2006, em resposta aos ataques criminosos perpetrados pelo Primeiro Comando da Capital/PCC. As sequências, filmadas no Cemitério de Perus, na zona norte da capital paulista, evidenciam a naturalização das mortes cometidas “em nome da lei”e, mais uma vez, a repressão da memória – o local foi um dos pontos de desova para cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar que vigorou até 1985 no Brasil.
Em Natureza morta ou estudo para ponto de fuga (2011) e Cubo (2010) a violência surge com outras camadas de leitura. Neste último, parte da exposição coletiva Trash Metal/Quem tem medo?/Vão, na galeria paulistana Vermelho, com curadoria da artista Dora Longo Bahia, um objeto montado a partir de chapas de zinco era apresentado com um taco de beisebol ao lado, dando ao visitante a oportunidade de saciar suas pulsões de agressividade, destruindo-o. No primeiro, que integrou uma coleção chamada Untitled na 12ª Bienal de Istambul, nove chapas de alumínio se ladeiam, em perfeita simetria, com dezenas de perfurações de balas disparadas por armas de calibres distintos (38, 22 mm, 12, entre outros). Muitos furos se chocam com a rigidez da igualdade das chapas, idênticas e retangulares, como se os rastros violentos colidissem, ironicamente, com a monótona repetição do cotidiano.
Em sua obra mais recente, a série de fotografias Tratado, a artista desconstrói uma imagem obtida no momento em que o presidente interino do Brasil, Michel Temer, é empossado. Qual o sentido daquela foto e dos detalhes das mãos – todas brancas, todas masculinas – que assinam documentos preparados para legitimar um governo nascido da refutação a uma eleição democrática? Porém, assim como nas esculturas Trabalho concreto (2010) e Totem (2011), não se deve esperar respostas imediatas de Clara Ianni. Uma janela para a reflexão é o convite que ela faz, provocando os espectadores, com pertinência e acuidade, a se relacionar com suas obras a partir de uma indagação premente: qual é o lugar da arte na contemporaneidade saturada de informações, excessos e significados?
Publicado em Revista Continente #189
The youngest artist in the Istanbul Biennial is 24-year-old Clara Ianni, from São Paulo. In the “Untitled (Abstraction)” group exhibition is her Abstract Work (2010), which consists of a shovel hanging on the wall with a square hole cut out of the metal blade. Previous works have also dealt with labor—for example, her 2009 video Here you can dream, in which the artist builds a wall out of cement bricks, ultimately filling the frame. She has also addressed frustration, in works such as Steal this Piece, 2011, where the title phrase is carved into blocks of marble; and geometry—Territorial Pissings is a 2011 piece in which the artist marked out a square on the gallery floor in her own urine.
Over Turkish tea at a hookah café outside the Biennial, A.i.A. spoke with Ianni about the concepts that inform Abstract Work.
BRIAN BOUCHER One can easily see the reference in your Abstract Work to Duchamp’s 1915 readymade, In Advance of the Broken Arm. And one can see that it’s a shovel that won’t work, that will endlessly fail. Abstract work of art and, as you mentioned to me already, the words for work and labor are the same in Portuguese.
CLARA IANNI My very minimal intervention with the object operates on two levels. The first is canceling out the function of the object, invalidating this object that is meant to work the land. I come from an immigrant Italian family that went to Brazil to work in the fields. Then, with the perfectly square hole, there’s an art historical reference to the geometric vocabu- lary of formal abstraction.
BOUCHER Am I right to think there’s a relationship to Marx’s idea of alienated labor, as well?
IANNI I don’t even think about alienated work. What I’m more concerned with is just the paradox of working in contem- porary society, doing work that doesn’t lead you anywhere, and you cannot achieve and you cannot access the things that you are doing. You can read the subject of my piece as alienated work, but I think it’s just the way work is done in our society.
BOUCHER So is there a connection with Marx?
IANNI Yes. But for Marx, there are two different concepts: abstract labor and concrete labor. There are a lot of levels of my work that fit well with the concept of this biennial, which reviews the vocabulary of minimalism and abstraction, which are very important in Brazilian art history. By way of a pun on Marx’s concept, my work connects to the Concrete movement, and the Neo-Concrete movement, as well as Helio Oiticica and Lygia Clark, much of whose work was interpreted as being non-narrative and not political. There are many different ways I could go in talking about this work. I don’t even know where to start.
BOUCHER Speaking of the start, tell us a little about your background. Where did
you study?
IANNI I studied at the University of São Paulo. I got a bachelor’s degree in painting, though much of my work now is in sculpture and installation. I took a lot of classes in philosophy and psychology, which influenced the way I try to think about my work.
BOUCHER Is that where you encountered Marx?
IANNI No, actually my family has a quite Marxist-oriented background. My grandfather Octavio Ianni was a sociologist in Brazil and was involved in translating Marx into Portuguese in the ‘60s. He wrote a lot about politics in Brazil, and issues of race and so on. When the dictatorship came, my parents were involved in the student movement, and during the dictator- ship they were involved in the resistance. They were very involved with theater. Using a lot of references to Brecht, they used popular and working-class theater to do interventions in society. My grandfather lost his university job when some critical intellectuals were fired. Me, I used to be involved with anarchist groups in Brazil.
BOUCHER So you didn’t learn it. You lived it.
IANNI Right. I didn’t learn it in class. But that’s the great thing about being an artist—you can work in all these different influences. And political influence is very strong in my background, so it is bound to appear in the work.
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