Derivas é um caminhar errático, um olhar oblíquo sobre a cidade de São Paulo. É um deixar-se perder entre os fluxos, a velocidade e os signos da urbe na tentativa de visibilidade além da opacidade de superfície da metrópole. Registros de circulação e contato com o espaço urbano revelados por sete artistas provocados pela inquietude de quem habita uma cidade da qual não se pode apreender o todo, condição que nos leva a reinventar uma cidade pessoal dentro da cidade dada.
O pensamento contemporâneo sobre o espaço urbano requer uma contrapartida mais complexa e menos romantizada da iconografia que representa as cidades. A tradição pictórica das paisagens de grande latitude, dos modos e costumes da população, que embasam a foto-documentação das cidades, parece já não dar conta da intrincada rede de significados que emerge das grandes metrópoles.
Para encontrar algum sentido além da banalização dos códigos, da paisagem mutante e da espetacularização das grandes cidades é preciso atenção voltada não para o que se apresenta tal como é, mas para aquilo que não se manifesta como imagem autônoma. É preciso cortar as várias peles da cidade, descobrir as várias cidades sobrepostas em camadas pelo tempo e pela experiência singular dos espaços, para decifrar alguns enigmas que nos levem a compreender melhor e a atribuir algum sentido ao território construído que habitamos.
Viver numa metrópole significa navegar pela instabilidade, pela inconstância e multiplicidade. Nossas “derivas” se deram não como a técnica de exploração situacionista – difundida nos anos 50, e que pregava a participação dos habitantes da cidade através de uma “circulação apaixonada” – mas guardam ressonâncias com essa forma de contato com a cidade. Experiências que configuram uma cartografia particular de São Paulo.
Os sete artistas convidados para esta empreitada formaram um grupo de discussão que, por três meses, debateram com os organizadores alguns textos de pensadores como Michael Sorkin, Paul Virilio, Marc Augé e Italo Calvino, entre outros, como ponto de partida.
Estabelecido tal campo de reflexão, os artistas passaram a elaborar projetos de obras que, discutidos em grupo, geraram novos conceitos e amplificaram as possibilidades do tema proposto. Sendo assim, a curadoria também ocorreu à deriva, não elegendo trabalhos que se encaixassem no tema, mas provocando situações para que fossem criados, configurando, dessa forma, um registro da cidade.
Eder Chiodetto é jornalista, editor de fotografia do jornal Folha de S.Paulo e autor do livro “O Lugar do Escritor” (Cosac & Naify, 2002)
Marta Bogéa é arquiteta, projetou a arquitetura das exposições “Arte Cidade 3” (São Paulo, 1997) e Imagética (Curitiba, 2003), entre outras. É autora do livro “Two way Street: The Paulista Avenue Flux and counter-flux of modernity (SDSU Press, 1995)
Derivas é um caminhar errático, um olhar oblíquo sobre a cidade de São Paulo. É um deixar-se perder entre os fluxos, a velocidade e os signos da urbe na tentativa de visibilidade além da opacidade de superfície da metrópole. Registros de circulação e contato com o espaço urbano revelados por sete artistas provocados pela inquietude de quem habita uma cidade da qual não se pode apreender o todo, condição que nos leva a reinventar uma cidade pessoal dentro da cidade dada.
O pensamento contemporâneo sobre o espaço urbano requer uma contrapartida mais complexa e menos romantizada da iconografia que representa as cidades. A tradição pictórica das paisagens de grande latitude, dos modos e costumes da população, que embasam a foto-documentação das cidades, parece já não dar conta da intrincada rede de significados que emerge das grandes metrópoles.
Para encontrar algum sentido além da banalização dos códigos, da paisagem mutante e da espetacularização das grandes cidades é preciso atenção voltada não para o que se apresenta tal como é, mas para aquilo que não se manifesta como imagem autônoma. É preciso cortar as várias peles da cidade, descobrir as várias cidades sobrepostas em camadas pelo tempo e pela experiência singular dos espaços, para decifrar alguns enigmas que nos levem a compreender melhor e a atribuir algum sentido ao território construído que habitamos.
Viver numa metrópole significa navegar pela instabilidade, pela inconstância e multiplicidade. Nossas “derivas” se deram não como a técnica de exploração situacionista – difundida nos anos 50, e que pregava a participação dos habitantes da cidade através de uma “circulação apaixonada” – mas guardam ressonâncias com essa forma de contato com a cidade. Experiências que configuram uma cartografia particular de São Paulo.
Os sete artistas convidados para esta empreitada formaram um grupo de discussão que, por três meses, debateram com os organizadores alguns textos de pensadores como Michael Sorkin, Paul Virilio, Marc Augé e Italo Calvino, entre outros, como ponto de partida.
Estabelecido tal campo de reflexão, os artistas passaram a elaborar projetos de obras que, discutidos em grupo, geraram novos conceitos e amplificaram as possibilidades do tema proposto. Sendo assim, a curadoria também ocorreu à deriva, não elegendo trabalhos que se encaixassem no tema, mas provocando situações para que fossem criados, configurando, dessa forma, um registro da cidade.
Eder Chiodetto é jornalista, editor de fotografia do jornal Folha de S.Paulo e autor do livro “O Lugar do Escritor” (Cosac & Naify, 2002)
Marta Bogéa é arquiteta, projetou a arquitetura das exposições “Arte Cidade 3” (São Paulo, 1997) e Imagética (Curitiba, 2003), entre outras. É autora do livro “Two way Street: The Paulista Avenue Flux and counter-flux of modernity (SDSU Press, 1995)