Em “Notações”, Chiara Banfi mostra leituras visuais do som através do desuso de instrumentos, partituras e outros equipamentos ligados à produção e reprodução de música. A corporeidade do som permeia a pesquisa de Banfi desde o início de sua produção em desenhos, colagens, pinturas e performances e, na individual que a artista apresenta agora, o silêncio é a tônica da investigação.
Não se trata, no entanto, de um silêncio desprovido de sonoridade, mas de uma investigação sobre vibrações e oscilações não percebidas pelo ouvido humano, seja por questões relacionadas a diferentes frequências, ou por falta de atenção às pausas, tão importantes quanto notas na composição musical.
Em “Lin Melódica”, de 2016, treze pedras fixadas em linha na parede são interligadas por cabos RCA, que criam diferentes sequencias entre as peças, como em sintetizadores antigos que utilizavam “patch cords” – os cabos que criavam diferentes conexões entre os módulos de som.
O uso de cristais e pedras na obra de Chiara começou durante uma pesquisa entorno de equipamentos de som. Investigando aparelhos toca-discos, Banfi descobriu que junto a agulha que faz a leitura dos microssulcos do vinil havia um pedaço de quartzo. O cristal é um equalizador natural e atua junto à agulha para uniformizar a leitura da musica gravada nos discos. O material é hoje sintetizado industrialmente, já que é imprescindível em equipamentos que dependem de ritmo e frequência, como os já citados toca-discos e relógios de precisão, por exemplo.
Pedras em geral tem em si a capacidade de transmitir vibrações e frequências. Na obra de Chiara elas aparecem em diferentes articulações. Em “Pauta”, 2016, turmalinas naturalmente incrustadas em cristais de quartzo e organizadas em cinco linhas, formam uma espécie de partitura rítmica. Nas peças denominadas “Confluência”, pedras e rochas de diferentes origens – e que nunca são encontradas próximas na natureza -, são conectadas pelo mesmo cabo RCA de “Lin Melódica”, sugerindo combinações de diferentes sons.
Já em “Semi-Breve”, 2016, uma obsidiana, um tipo de vidro vulcânico, lapidada como um retângulo cubico é encimada por uma linha horizontal de arame tensionado como em instrumentos de corda. A imagem reproduz a figura rítmica (homônima) de maior duração usada atualmente na notação musical padrão. A semibreve deve ser lida como pausa por quem interpreta uma partitura. De modo similar, em “Pausa de Mínima”, uma pedra de calcita encima o mesmo tipo de linha tensionada. A pausa mínima aponta para um silêncio com metade da duração da semi-breve.
Sinais da mesma família são evidenciados em “Pausa de Bach”, 2016. Na instalação que ocupa a sala principal da galeria, 12 livros com diferentes partituras de Bach tiveram suas notações sublimadas quase que por completo pela a artista com tinta nanquim, deixando aparente apenas os símbolos de pausa e silêncio. Johann Sebastian Bach criou uma escala musical onde passou a haver uma regra lógica para a construção da frequência das notas que é amplamente utilizada até hoje pela música ocidental, que se organiza em 12 semitons (ou notas).
As partituras aparecem também na série “Turmalinas Negras”, 2015. Em diversos cadernos pautados para estudos de música, Chiara incrustou pedras de “Turmalina Negra” em formatos retangulares. A presença das Turmalinas remete ao grafismo das semi-breves e, como sua organização aparentemente aleatória por sobre as páginas não parece apontar para uma construção musical regida por notas, podemos ler sua presença como marcas de silêncio. Esse silêncio, mais uma vez, é rítmico, dado a profusão com que o minério aparece sobre as páginas dos cadernos.
De modo similar, as peças chamadas “AMP”, e as peças da série Mutantes, trazem o mesmo tipo de raciocínio abstrato. Em “AMP”, 2015-2016, a artista trabalha a partir de quatro modelos de amplificadores de linha da marca Marshall, mantendo apenas suas características estéticas: acabamentos, cores e materiais, criando campos pictóricos abstratos, assim como em “Mutantes”, aonde um baixo feito especialmente para Liminha, baixista da banda Mutantes e produtor musical, é recriado de maneira sintética, preservando apenas características plásticas inerentes ao instrumento. Os instrumentos criados por Cláudio César Dias Baptista eram, em grande parte, responsáveis pela originalidade sonora da banda. O instrumento é aqui, no entanto, celebrado não por suas particularidades sonoras, mas por suas qualidades estéticas.
Finalmente, nas obras da série “Doze Estudos de Debussy”, Banfi cobre e apaga notas de partituras de Claude Debussy, criando uma nova construção com as composições, modificando o uso das notações do compositor. Da mesma maneira, no vídeo “Fita”, 2016, um rolo de fita de gravação despenca de um pedestal de percussão, gerando uma nova sonoridade. É aquilo que é feito para registrar o som sendo usado para produzir música.
Em “Notações”, Chiara Banfi mostra leituras visuais do som através do desuso de instrumentos, partituras e outros equipamentos ligados à produção e reprodução de música. A corporeidade do som permeia a pesquisa de Banfi desde o início de sua produção em desenhos, colagens, pinturas e performances e, na individual que a artista apresenta agora, o silêncio é a tônica da investigação.
Não se trata, no entanto, de um silêncio desprovido de sonoridade, mas de uma investigação sobre vibrações e oscilações não percebidas pelo ouvido humano, seja por questões relacionadas a diferentes frequências, ou por falta de atenção às pausas, tão importantes quanto notas na composição musical.
Em “Lin Melódica”, de 2016, treze pedras fixadas em linha na parede são interligadas por cabos RCA, que criam diferentes sequencias entre as peças, como em sintetizadores antigos que utilizavam “patch cords” – os cabos que criavam diferentes conexões entre os módulos de som.
O uso de cristais e pedras na obra de Chiara começou durante uma pesquisa entorno de equipamentos de som. Investigando aparelhos toca-discos, Banfi descobriu que junto a agulha que faz a leitura dos microssulcos do vinil havia um pedaço de quartzo. O cristal é um equalizador natural e atua junto à agulha para uniformizar a leitura da musica gravada nos discos. O material é hoje sintetizado industrialmente, já que é imprescindível em equipamentos que dependem de ritmo e frequência, como os já citados toca-discos e relógios de precisão, por exemplo.
Pedras em geral tem em si a capacidade de transmitir vibrações e frequências. Na obra de Chiara elas aparecem em diferentes articulações. Em “Pauta”, 2016, turmalinas naturalmente incrustadas em cristais de quartzo e organizadas em cinco linhas, formam uma espécie de partitura rítmica. Nas peças denominadas “Confluência”, pedras e rochas de diferentes origens – e que nunca são encontradas próximas na natureza -, são conectadas pelo mesmo cabo RCA de “Lin Melódica”, sugerindo combinações de diferentes sons.
Já em “Semi-Breve”, 2016, uma obsidiana, um tipo de vidro vulcânico, lapidada como um retângulo cubico é encimada por uma linha horizontal de arame tensionado como em instrumentos de corda. A imagem reproduz a figura rítmica (homônima) de maior duração usada atualmente na notação musical padrão. A semibreve deve ser lida como pausa por quem interpreta uma partitura. De modo similar, em “Pausa de Mínima”, uma pedra de calcita encima o mesmo tipo de linha tensionada. A pausa mínima aponta para um silêncio com metade da duração da semi-breve.
Sinais da mesma família são evidenciados em “Pausa de Bach”, 2016. Na instalação que ocupa a sala principal da galeria, 12 livros com diferentes partituras de Bach tiveram suas notações sublimadas quase que por completo pela a artista com tinta nanquim, deixando aparente apenas os símbolos de pausa e silêncio. Johann Sebastian Bach criou uma escala musical onde passou a haver uma regra lógica para a construção da frequência das notas que é amplamente utilizada até hoje pela música ocidental, que se organiza em 12 semitons (ou notas).
As partituras aparecem também na série “Turmalinas Negras”, 2015. Em diversos cadernos pautados para estudos de música, Chiara incrustou pedras de “Turmalina Negra” em formatos retangulares. A presença das Turmalinas remete ao grafismo das semi-breves e, como sua organização aparentemente aleatória por sobre as páginas não parece apontar para uma construção musical regida por notas, podemos ler sua presença como marcas de silêncio. Esse silêncio, mais uma vez, é rítmico, dado a profusão com que o minério aparece sobre as páginas dos cadernos.
De modo similar, as peças chamadas “AMP”, e as peças da série Mutantes, trazem o mesmo tipo de raciocínio abstrato. Em “AMP”, 2015-2016, a artista trabalha a partir de quatro modelos de amplificadores de linha da marca Marshall, mantendo apenas suas características estéticas: acabamentos, cores e materiais, criando campos pictóricos abstratos, assim como em “Mutantes”, aonde um baixo feito especialmente para Liminha, baixista da banda Mutantes e produtor musical, é recriado de maneira sintética, preservando apenas características plásticas inerentes ao instrumento. Os instrumentos criados por Cláudio César Dias Baptista eram, em grande parte, responsáveis pela originalidade sonora da banda. O instrumento é aqui, no entanto, celebrado não por suas particularidades sonoras, mas por suas qualidades estéticas.
Finalmente, nas obras da série “Doze Estudos de Debussy”, Banfi cobre e apaga notas de partituras de Claude Debussy, criando uma nova construção com as composições, modificando o uso das notações do compositor. Da mesma maneira, no vídeo “Fita”, 2016, um rolo de fita de gravação despenca de um pedestal de percussão, gerando uma nova sonoridade. É aquilo que é feito para registrar o som sendo usado para produzir música.