Duas instalações compostas por imagens aéreas da cidade de São Paulo fragmentadas em tiras verticais de 3 metros de altura compõem a segunda exposição individual que o artista Cássio Vasconcellos apresenta, de 16 de novembro a 16 de dezembro, na galeria Vermelho.
Para se ter uma visão integral da imagem, o artista propõe um ponto específico de observação, o que sugere questões relacionadas à complexidade do viver nos grandes centros urbanos. As instalações apontam também para a distância entre a origem do termo cidade, na Grécia, polis, e a mega metrópole pós-industrial em que vivemos atualmente. Vistos de perto, esses aglomerados revelam seus segmentos e setores, enquanto de longe todos os detalhes se perdem e dão lugar a visões abstratas de redes de intersecção. Em termos de experiência real, a cidade só pode ser entendida quando seccionada. São Paulo, por exemplo, ocupa uma superfície de 1.500 km², qualquer tentativa de compreendê-la como uma totalidade estaria fadada ao erro. Esses espaços heterogêneos e fragmentados encaminham o indivíduo a viver cada vez mais em meio a um universo de imagens técnicas onde as estruturas sociais funcionam como engrenagens na produção e na distribuição de informação através da rede. Além das instalações, Vasconcellos apresenta também a série “Paisagens marinhas” (1993-1994).
This is not a love song é uma reflexão sobre a ruína social, filosófica e política de valores e convenções nos dias atuais. A partir de análises sobre a realidade contemporânea, abordagens e leituras idílicas ou idealistas nos pareciam impossíveis. Estamos em um momento oportuno a instaurar a questão de Espaço Crítico, descrito com muita propriedade por Virilio. Mesmo em tempos de paz aparente nos armamos como críticos. Os trabalhos, aqui propostos, nasceram do exame e do questionamento do nosso tipo de vida e do exercício das possíveis alternativas viáveis para ela.
Ocupamos a casa de número 362 da Rua Minas Gerais pela ativação do espaço de maneira instalativa. De tal forma que, através da coexistência dos trabalhos e dos participantes, um ambiente fluido pudesse ser construído. Toda ação foi tecida com a condição da imprevisibilidade. Nos valemos de um espaço absolutamente comum de uma casa, que fornece matéria para uma recepção coletiva, para criar um campo de discussão, reflexão, ação e produção.
O processo de construção da mostra se deu a partir de encontros semanais onde discutimos projetos e estratégias artísticas aplicadas ao cotidiano. Decorrente destas discussões construímos um mesmo vocabulário conceitual visando proporcionar diálogos entre os trabalhos, além de novas parcerias. Aquele “exercício experimental da liberdade”, evocado pelo crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) – síntese da arte brasileira do pós-guerra –, não consiste apenas na criação das obras mas na iniciativa de assumir o experimental.
Neste contexto de um espaço-tempo transtornado, tentamos trabalhar a urgência da consciência como representação que transcende o campo das meras imagens produzidas e explora diversas possibilidades sensíveis e críticas de dialogar com aquilo que acontece ao nosso entorno.
Julia Rodrigues
Outubro de 2006
A última foto, primeira exposição individual de Rosângela Rennó, na Galeria Vermelho, aborda o processo de desaparecimento da fotografia analógica e sua consequente substituição pela imagem digital, o que representa a mudança de um importante paradigma na criação fotográfica ao longo dos últimos 160 anos. A tecnologia digital parece abalar definitivamente a suposta credibilidade da imagem fotográfica como documento e gerou tanto uma nova gama de soluções, quanto de problemas, como a transmissão e o armazenamento de imagens, hoje produzidas de forma exponencial.
Para tratar desse tema, Rennó convidou 42 fotógrafos (relação completa abaixo), para participarem da criação da exposição. Cada um escolheu uma das câmeras fotográficas do acervo pessoal da artista, composto dos mais variados formatos e marcas de câmeras, adquiridas em mercados de pulga ou doadas por amigos. Com a câmera em mãos e um rolo de filme, cada um dos fotógrafos produziu imagens P&B ou em cores do Cristo Redentor, no Corcovado, Rio de Janeiro. Após a realização das fotos e a escolha da melhor imagem de cada fotógrafo, Rennó lacrou a lente das câmeras com tinta. A câmera lacrada e sua “última” imagem compõem a série de 43 dípticos, incluindo o do artista, expostos em A última foto.
A escolha do Cristo Redentor como objeto das fotografias surgiu a partir da polêmica que envolve a questão dos direitos sobre imagens de obras realizadas por outros artistas, públicas ou privadas, outro tema abordado por Rennó na exposição. Os herdeiros do escultor Paul Landowski, artista que modelou o rosto e os braços do Cristo Redentor, têm procurado cobrar direitos autorais pela reprodução de caráter comercial da obra, quando esses direitos pertencem à Arquidiocese do Rio de Janeiro, proprietária do monumento. Uma das questões levantadas pela mostra é justamente o debate entre os aspectos público e privado envolvidos em obras que ocupam o espaço urbano, principalmente em se tratando de monumentos do porte do Cristo Redentor. Na mostra será exibido também o documentário “Christo Redemptor”, de Bel Noronha, lançado em 2005, que conta a história da concepção do projeto e da construção do monumento — hoje praticamente esquecidas — e revela a sua tripla autoria, sob a batuta do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa.
Os fotógrafos que participam do projeto são: Antonio Augusto Fontes, Cláudia Tavares, Cris Bierrenbach, Cristiana Miranda, Caroline Valansi, Dani Soter, Daniel Martins, Deborah Engel, Debora 70, Denise Cathilina, Deise Lane, Ding Musa, Eder Chiodetto, Edouard Fraipont, Eduardo Brandão, Iuri Frigoletto, João Castilho, José Roberto Lobato, Luiz Garrido, Milan, Marcelo Tabach, Matheus Rocha Pitta, Milton Guran, Nino Andrés, Odires Mlászho, Otávio Schipper, Patricia Gouvêa, Paula Trope, Pedro Vasquez, Pedro David, Pedro Motta, Rafael Assef, Rochelle Costi, Ruth Lifschits, Rogério Reis, Thiago Barros, Vicente de Mello, Walter Mesquita, Wilton Montenegro, Ynaiê Dawson, Walter Carvalho e Zeca Linhares.
A Galeria Vermelho apresenta, de 01 a 23 de setembro de 2006, a exposição individual Vivendo dos artistas Gisela Motta e Leandro Lima.
Único trabalho criado em 2005 que comporá a exposição, “Dê Forma” aborda a questão da manipulação de imagens através de programas de computador. Para isso, os artistas montaram, no andar térreo da galeria, um estúdio fotográfico onde duplas de pessoas poderão ter suas imagens captadas digitalmente. Posteriormente, essas imagens serão manipuladas através de recursos como o morph. Esse programa possibilita a sobreposição do retrato de duas pessoas em uma única imagem, criando uma terceira pessoa fictícia. A partir daí, os artistas retrocedem a imagem no tempo, gerando o retrato de uma criança ou de um adolescente, um filho fictício, adolescentes irreais, inexistentes e impossíveis. Qualquer gênero de casal poderá participar desde que marquem um horário para captação da imagem.
Em “Prototipagem”, de 2006, lepidópteras, uma ordem de insetos que inclui borboletas, traças e, no Brasil, as mariposas, Motta e Lima criam, através de um jogo de espelhos, imagens reproduzidas ao infinito desses seres. A mesma estratégia aparece em “Placa mãe natureza”, onde placas de circuito impresso, amplamente utilizadas em aparelhos elétricos, compõem uma paisagem construída com capacitores, simulando uma imensa floresta dividida em uma plantação natural, mais antiga e caótica, e uma outra organizada seguindo um padrão de reflorestamento. Na série composta pelas obras “Voando em círculos”, “Trabalhando em círculos” e “Andando em círculos”, miniaturas de um avião, de um trem e de um par de caminhões percorrem a mesma trajetória ininterruptamente, criando, através de uma perspectiva forçada e de trajetórias repetitivas, uma crítica irônica às rotinas de transporte e locomoção nas grandes cidades.
Motta e Lima apresentam também as vídeo instalações “Demolidora, Transportadora e Construtora Ilimitada” e “Segmento de reta”, ambas de 2006. Na primeira, que ocupa o piso térreo da galeria, trabalhadores transportam blocos e elementos inspirados no brinquedo “Brincando de engenheiro”, remetendo ao movimento incessante das formigas, não havendo, entretanto, dentro desse ciclo repetitivo, nem origem nem destino. Já em “Segmento de reta”, os artistas apresentam duas projeções sincronizadas. Nelas, duas pessoas se intercalam dentro de uma mesma paisagem e, embora se procurem, jamais se encontram. As imagens são projetadas sobre espelhos acoplados a auto-falantes, provocando uma constante vibração na imagem. Para a fachada da galeria os artistas propõem um jogo de inversão de escalas através de objetos que se relacionam diretamente com a vídeo instalação “Demolidora, Transportadora e Construtora Ilimitada”.
Leia o texto completo de Edson Passetti aqui
A Galeria Vermelho apresenta, de 20 de julho a 19 de agosto de 2006, a exposição Via invertida de Lia Chaia.
As relações entre o homem, a natureza e a cidade, tema sempre presente na obra de Lia Chaia, reaparecem em instalações, fotografias, colagens sobre parede e vídeo, na exposição individual Via invertida, apontando para a versatilidade da artista em utilizar mídias distintas focando a domesticação da natureza e as particularidades poéticas da cultura urbana.
Na nova série composta por seis fotografias (2006), Chaia apresenta imagens da transformação da vegetação, de acordo com a variação das estações do ano, em um muro ocupado por trepadeiras, fotografadas durante seis meses. Sobre as imagens, a artista desenhou com ponta seca, trepadeiras no sentido inverso das imagens fotografadas, estabelecendo um diálogo com a obra “Verdera”, que ocupa um dos muros da área externa da galeria, pintado cerca de um ano atrás, época em que foram plantadas “unhas de gato”, um tipo de trepadeira que vem crescendo sobre a pintura mural.
A partir de uma pesquisa fotográfica de desenhos das calçadas da Cidade do México, intervenções anônimas, a artista desenvolveu o projeto de um piso de concreto todo desenhado, que ocupará o chão do cubo branco da galeria. Outro tema que aparece em Via invertida, refere-se ao tempo. Neste sentido, Chaia apresenta uma série de 72 fotografias, realizadas durante um ano, com imagens de uma piscina e o pátio circundante em reforma. Esta série foi registrada do alto de um edifício, valorizando detalhes e áreas de cores e texturas. As tensões urbanas podem ser vistas no trabalho “Choque”, de 2006, onde dezenas de carrinhos à pilha circulam caoticamente na geometria de um labirinto. Em “Verticidade”, de 2006, a artista aborda a sensação da vertigem causada pelo caos urbano, por meio de um plano inclinado feito com colagens de fachadas de edifícios. Na mesma direção, também pode ser localizado o vídeo “Minhocão”, de 2006, onde a artista retira de sua boca inúmeras imagens de fachadas registradas em uma caminhada pelo Elevado Costa e Silva, na cidade de São Paulo. Além disso, a fachada da galeria será ocupada pela obra “Heliponto”.
A Galeria Vermelho apresenta, de 20 de julho a 19 de agosto de 2006, a exposição individual Quarto/Sala de Leandro da Costa.
Na individual Quarto/Sala, o artista apresenta desenhos escavados em paredes que remetem à tempestades, a estados de agitação e de inquietude, causadas por desequilíbrios naturais e momentâneos. Por vezes mais pesados e demorados, tais eventos apontam para situações de espera e de ausência de ação, revelando a inquietude e o desconforto do ser humano em situações onde a reflexão é fundamental para novas ações.
Em “Mais um brinde”, de 2005, da Costa revela o momento posterior a tais acontecimentos, onde as consequências já se tornaram visíveis e remediadas, sugerindo a necessidade do risco, imprescindível na vida cotidiana.
A Galeria Vermelho apresenta, de 30 de maio a 24 Junho de 2006, as exposição individual O.D.I.R.E.S. – Objetos Derivados, Intrínsecos aos Restos Emulsionados ou Saqueados de Odires Mlászho.
O.D.I.R.E.S. – Objetos Derivados, Intrínsecos aos Restos Emulsionados ou Saqueados, Odires Mlászho apresenta toda uma nova série de trabalhos inéditos. No térreo da galeria será exposta a séria “Mestres Açougueiros e Aprendizes”, composta por quatro imagens em grande formato, criadas a partir de fragmentos de fotografias da pele humana retiradas de revistas de nu masculino e feminino. Tais fragmentos compõem, através da técnica da colagem, corpos sem rosto, apontando para a ausência de identidade representada pela propagação, por parte da indústria da estética, de corpos perfeitos. “Mestres Açougueiros e Aprendizes” se relaciona diretamente com a série de colagens que será apresentada no mesmo espaço chamada “Flaps”.
Nessa série, o artista se apropria de antigos catálogos industriais e de manuais de anatomia, sobrepondo-os através de cortes no papel, transformando o texto supostamente descritivo desses livros em paisagens indecifráveis. O interesse de Mlászho por livros e enciclopédias antigas reaparece na série “Livros objetos”, na qual o artista remove o acabamento da capa dos livros em busca do papel que lhes serve de estrutura e, a partir daí, resignifica tais objetos juntando vários fascículos criando esculturas desses objetos, em total desuso atualmente. “Minha sobremesa preferida”, série de quatro fotografias, evidencia as marcas deixadas por traças nessas grandes enciclopédias e “Do Inferno e Lugares Próximos” revela em duas grandes ampliações fotográficas os clichês de zinco usados como matriz na ilustração de livros. Além disso, Mlászho apresenta também a série de fotos escavadas manualmente “Portas externas”, e “Teddy Bear”, instalação composta por quatro ursos de pelúcias, criados a partir de velhos casacos de pele, adquiridos em brechós e que revelam muito do processo desenvolvido pelo artista em suas criações.
A Vermelho apresenta, de 30 de maio a 24 Junho de 2006, próximo de Leya Mira Brander.
A partir de imagens apropriadas, de desenhos de observação e de memória, a artista Leya Mira Brander cria gravuras que podem tanto ser apresentadas individualmente como agrupadas em um único campo. Nesse sentido, gravuras antigas reaparecem combinadas a trabalhos mais recentes incorporando textos e frases da própria artista, em um processo que sugere uma vasta possibilidade de combinações. Grande número dessas gravuras serão apresentadas na individual próximo.
A Galeria Vermelho apresenta, de 25 de abril a 20 de maio de 2006, Mensageiro de Maurício Ianês.
O trabalho do artista Maurício Ianês aborda a falência da representação artística. Suas performances estabelecem um embate com o observador e buscam ultrapassar a barreira da linguagem, revelando novas relações e contatos fora do âmbito da linguagem. Tal pensamento permeia a série de novos trabalhos que serão apresentados em Mensageiro, título da exposição e da performance/instalação que ocupa o 1º andar da galeria. O vídeo “Alfabeto Barroco” e a performance/instalação “Mensageiro”, ambos de 2006, apontam para a riqueza e diversidade que pode existir na leitura individual dos observadores. A instalação conta com um jogo de cadeiras ligadas entre si, e que funcionam como elo para a performance que acontecerá na abertura da exposição. Nela, cada cadeira vazia representa um lugar a ser ocupado e aponta para um momento de espera, de suspensão indicando o lugar do receptor, do destinatário da mensagem que se transforma a cada vez que atinge seu destino. Tanto em “Sussurro”, vídeo de 2006, onde o artista explora possibilidades mais abrangentes de comunicação não verbal, como em “Tom”, instalação composta por 29 imagens que remetem às relações estabelecidas pela linguagem, também de 2006, existe uma tentativa de afetar o observador fisicamente através de intensidades sonoras e volumes que se projetam no espaço, alternando a distância entre a obra e o observador. Além desses trabalhos, será apresentada uma edição inédita de registros de performances realizadas pelo artista.
Em Baldio, Ding Musa dá continuidade à sua pesquisa caracterizada pelo estudo de campos e paisagens desabitadas, coeficientes disponíveis para o cultivo e para a construção. Segundo o artista, há nesses campos, referências que apontam para o objetivo da construção em questão. As linhas do campo, o horizonte são delimitações que se dispõe para determinados fins, assim como as luzes, os tripés e demais elementos que aparecem na série de retratos “Fundo Infinito” (2006). Tais delimitações apontam para os limites tanto técnicos, quanto da própria linguagem.
Marcelo Cidade apresenta a exposição Outro lugar, uma série de novos trabalhos que apontam para o intervalo existente entre o espaço público e o espaço privado. Cidade elege esse espaço intermediário como o local de sua crítica rebelde e transgressora ao “panóptico vigiador”, enfatizando o reencontro da arte com a sociedade, criando uma estética da resistência à sociedade de controle.