“Em pesquisas recentes responsabiliza-se a visão por 80% da capacidade de percepção humana. A visão é o caminho absoluto para a percepção, a informação e a comunicação, bem como para o estabelecimento dos valores éticos e estéticos em nossa sociedade. Disse o filósofo São Tomaz de Aquino: “Considerem-se belas as coisas que agradam quando são vistas.” Este projeto tenta de alguma forma rebater esta máxima.
Realizamos durante três meses em 2002 uma série de workshops sensoriais – laboratórios experimentais que conectam a memória e a imaginação com o som, o tato e o olfato para construir uma nova percepção do espaço – com um grupo de 15 adultos cegos, alunos do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.
Para estes workshops levamos frascos com cheiros do dia-a-dia, bem como caixas de papelão contendo, cada uma um material diferente e gravações de sons do cotidiano, a partir dos quais os participantes desenvolveram associações da imaginação e da memória, conectando certo odor ou um determinado som com um local ou uma situação vivida ou imaginada. Em seguida, perguntamos o que eles viam. Sem usarem lápis e papel, eles fizeram desenhos (narrativas) que descreviam textura, peso, tamanho, luz, tempo, temperatura e até mesmo cores e descrições elaboradas de coisas, sempre da maneira como eles “viam”. Para que estes “desenhos” se tornassem visíveis para outras pessoas, estas descrições foram registradas em vídeo.
Se, por um lado, a falta de visão representa “incapacidade” para as pessoas em geral, por outro, é frequentemente percebida como uma sensibilidade mais complexa, uma espécie de talento para “ver” as coisas de forma diferente. Partindo desse paradoxo e do estímulo promovido pelos workshops sensoriais, desenvolvemos uma série de vídeos com o grupo participante, que procurou exprimir uma crítica à maneira generalizada pela qual a sociedade os percebe e estigmatiza.
A instalação apresenta três móveis sóbrios, réplicas da mapoteca que existe há 153 anos na Sala de Geografia do Instituto Benjamin Constant. O móvel original foi doado por Dom Pedro II ao Instituto enquanto este ainda se chamava “Imperial Instituto do Meninos Cegos”. A réplica apresenta 245 gavetas contendo, cada uma, um mapa em alto-relevo de uma região do Brasil, utilizados pelos cegos para aprender a geografia nacional. O visitante pode abrir as gavetas e experimentar a geografia através do tato. Dentro de uma das gavetas, um monitor de LCD exibe os vídeos que documentam o processo dos workshops no Instituto Benjamin Constant, destacando uma surpreendente discussão sobre o espelho.
Atrás desta mapoteca, vê-se uma projeção de vídeo, que apresenta quatro pontos de vista distintos de uma mesma cena: uma jovem cega, vestida como a Sacerdotisa do baralho de Tarôt (Aquela que vê a vida), lê em voz alta nas escadarias da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, textos em braile de Homero e Borges, escritores também cegos. Juntos, os vídeos questionam os significados do que chamamos de cegueira e visão.”
Dias e Riedweg
“Em pesquisas recentes responsabiliza-se a visão por 80% da capacidade de percepção humana. A visão é o caminho absoluto para a percepção, a informação e a comunicação, bem como para o estabelecimento dos valores éticos e estéticos em nossa sociedade. Disse o filósofo São Tomaz de Aquino: “Considerem-se belas as coisas que agradam quando são vistas.” Este projeto tenta de alguma forma rebater esta máxima.
Realizamos durante três meses em 2002 uma série de workshops sensoriais – laboratórios experimentais que conectam a memória e a imaginação com o som, o tato e o olfato para construir uma nova percepção do espaço – com um grupo de 15 adultos cegos, alunos do Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.
Para estes workshops levamos frascos com cheiros do dia-a-dia, bem como caixas de papelão contendo, cada uma um material diferente e gravações de sons do cotidiano, a partir dos quais os participantes desenvolveram associações da imaginação e da memória, conectando certo odor ou um determinado som com um local ou uma situação vivida ou imaginada. Em seguida, perguntamos o que eles viam. Sem usarem lápis e papel, eles fizeram desenhos (narrativas) que descreviam textura, peso, tamanho, luz, tempo, temperatura e até mesmo cores e descrições elaboradas de coisas, sempre da maneira como eles “viam”. Para que estes “desenhos” se tornassem visíveis para outras pessoas, estas descrições foram registradas em vídeo.
Se, por um lado, a falta de visão representa “incapacidade” para as pessoas em geral, por outro, é frequentemente percebida como uma sensibilidade mais complexa, uma espécie de talento para “ver” as coisas de forma diferente. Partindo desse paradoxo e do estímulo promovido pelos workshops sensoriais, desenvolvemos uma série de vídeos com o grupo participante, que procurou exprimir uma crítica à maneira generalizada pela qual a sociedade os percebe e estigmatiza.
A instalação apresenta três móveis sóbrios, réplicas da mapoteca que existe há 153 anos na Sala de Geografia do Instituto Benjamin Constant. O móvel original foi doado por Dom Pedro II ao Instituto enquanto este ainda se chamava “Imperial Instituto do Meninos Cegos”. A réplica apresenta 245 gavetas contendo, cada uma, um mapa em alto-relevo de uma região do Brasil, utilizados pelos cegos para aprender a geografia nacional. O visitante pode abrir as gavetas e experimentar a geografia através do tato. Dentro de uma das gavetas, um monitor de LCD exibe os vídeos que documentam o processo dos workshops no Instituto Benjamin Constant, destacando uma surpreendente discussão sobre o espelho.
Atrás desta mapoteca, vê-se uma projeção de vídeo, que apresenta quatro pontos de vista distintos de uma mesma cena: uma jovem cega, vestida como a Sacerdotisa do baralho de Tarôt (Aquela que vê a vida), lê em voz alta nas escadarias da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, textos em braile de Homero e Borges, escritores também cegos. Juntos, os vídeos questionam os significados do que chamamos de cegueira e visão.”
Dias e Riedweg