“Desde 2014 tenho feito trabalhos construídos a partir de pedaços de livros. Tudo começou quando fazia uma residência em Viena. Rodeada de livros escritos numa língua que não leio, minha atenção voltou-se para suas partes, para a matéria mesma de que eram feitos. Libertos de suas palavras, daqueles livros eu lia seus corpos: capas, miolos e folhas de guarda; cores, formas e desenhos
de tempos e origens diversos. Lá comecei as séries Minha biblioteca e Código desconhecido. Ao longo dos anos pedaços de livros foram se acumulando no meu atelier, e daí vieram outros trabalhos: Investigação, Antologia de Inverno, Flyleaf, A pronúncia do mundo.
Alguma vez me perguntei por que eu, amante dos livros, ousava destruí-los. Descobri que a bibliofagia, como a antropofagia, podia ser libertadora. Entendi que, para além do prazer que gozo na prática formal dessas experimentações, esses trabalhos sem palavras, mudos à primeira vista, encarnam outras potências e aberturas. Seus silêncios engendram a construção dialógica de novas narrativas, um novo pronunciar do mundo, um ato de criação.”
Marilá Dardot, 2019
“Desde 2014 tenho feito trabalhos construídos a partir de pedaços de livros. Tudo começou quando fazia uma residência em Viena. Rodeada de livros escritos numa língua que não leio, minha atenção voltou-se para suas partes, para a matéria mesma de que eram feitos. Libertos de suas palavras, daqueles livros eu lia seus corpos: capas, miolos e folhas de guarda; cores, formas e desenhos
de tempos e origens diversos. Lá comecei as séries Minha biblioteca e Código desconhecido. Ao longo dos anos pedaços de livros foram se acumulando no meu atelier, e daí vieram outros trabalhos: Investigação, Antologia de Inverno, Flyleaf, A pronúncia do mundo.
Alguma vez me perguntei por que eu, amante dos livros, ousava destruí-los. Descobri que a bibliofagia, como a antropofagia, podia ser libertadora. Entendi que, para além do prazer que gozo na prática formal dessas experimentações, esses trabalhos sem palavras, mudos à primeira vista, encarnam outras potências e aberturas. Seus silêncios engendram a construção dialógica de novas narrativas, um novo pronunciar do mundo, um ato de criação.”
Marilá Dardot, 2019