Quem de nós quando criança não aproveitou os minutos solitários na cama, antes da cair no sono, criando com as mãos imagens de fantasmas e seres alados sobre as paredes de seus quartos? Com esse exercício lúdico, a criança nutre seu mundo onírico. Fantasmagorias de infância que jamais serão esquecidas.
“Relicário” (2020), instalação que Leandro Lima (1976) apresenta no cubo branco da Vermelho, emprega um vaso de argila, fonte e filtro de luz e a parede como superfície de projeção. A luz que atravessa o filtro sobrepõe à sombra do vaso a silhueta de uma planta. Uma imagem familiar mas sem materialidade, como o fantasma de algo que não está lá.
Nesse momento poderíamos nos perguntar o quê constitui a ausência e o quê constitui a completude em “Relicário”; com certeza não é a falta ou o excesso de materialidades, mas precisamente a questão que a obra estabelece.
A representação da ausência sempre implica o seu oposto: a presença. O vazio genuíno não é viável simplesmente por não ser possível num mundo repleto de coisas. Em “Relicário”, Lima se dedica a preencher a periferia do espaço deixando a área central para ser habitada por uma forma de diálogo.
Na instalação, a noção de ausência revela muito mais do que revelaria um objeto literalmente. O efeito dessa nudez sobre a mente do observador pode causar um tipo de ansiedade: como aquela que sentimos quando coisas familiares não estão em seu lugar ou cumprindo seu papel habitual. Alguém poderia ficar ansioso diante dessa fantasmagoria, mas tudo o que é totalmente misterioso é, ao mesmo tempo, alívio psíquico.
Ao nos depararmos com a instalação, surge a confirmação de que a ausência em seu estado literal não pode existir como propriedade de uma obra de arte, pois, assim como no mundo, na arte não há superfícies ou discursos neutros. Um espaço nunca é vazio; haverá sempre algo para ver. Olhar para algo que está vazio é ainda estar olhando.
A arte é uma técnica para chamar a atenção. O olho vasculha o ambiente, nomeando, fazendo uma seleção limitada de coisas que então se tornam conscientes como entidades significativas, prazerosas, complexas ou não. O “Relicário” de Lima sugere novas demandas para o olhar. Antes de um convite ao olhar, a instalação engendra o próprio olhar.
Tradicionalmente, os efeitos de uma obra de arte são distribuídos de forma desigual a fim de induzir no público uma certa sequência de experiência. “Relicário” não exige do observador atribuições de significado ou simpatias, ela exige, ao contrário, que ele não acrescente nada, além de estar aberto a multiplicidade de experiências e consequentemente de diálogos.
Cada época na história da humanidade busca reinventar seu projeto de transcendência. No mundo atual, uma das representações mais efetivas para o projeto espiritual é a arte. A pintura, a música, a poesia, ou a dança se tornaram o local onde, como num teatro de sombras, são encenados os dramas que assediam a consciência humana.
Quem de nós quando criança não aproveitou os minutos solitários na cama, antes da cair no sono, criando com as mãos imagens de fantasmas e seres alados sobre as paredes de seus quartos? Com esse exercício lúdico, a criança nutre seu mundo onírico. Fantasmagorias de infância que jamais serão esquecidas.
“Relicário” (2020), instalação que Leandro Lima (1976) apresenta no cubo branco da Vermelho, emprega um vaso de argila, fonte e filtro de luz e a parede como superfície de projeção. A luz que atravessa o filtro sobrepõe à sombra do vaso a silhueta de uma planta. Uma imagem familiar mas sem materialidade, como o fantasma de algo que não está lá.
Nesse momento poderíamos nos perguntar o quê constitui a ausência e o quê constitui a completude em “Relicário”; com certeza não é a falta ou o excesso de materialidades, mas precisamente a questão que a obra estabelece.
A representação da ausência sempre implica o seu oposto: a presença. O vazio genuíno não é viável simplesmente por não ser possível num mundo repleto de coisas. Em “Relicário”, Lima se dedica a preencher a periferia do espaço deixando a área central para ser habitada por uma forma de diálogo.
Na instalação, a noção de ausência revela muito mais do que revelaria um objeto literalmente. O efeito dessa nudez sobre a mente do observador pode causar um tipo de ansiedade: como aquela que sentimos quando coisas familiares não estão em seu lugar ou cumprindo seu papel habitual. Alguém poderia ficar ansioso diante dessa fantasmagoria, mas tudo o que é totalmente misterioso é, ao mesmo tempo, alívio psíquico.
Ao nos depararmos com a instalação, surge a confirmação de que a ausência em seu estado literal não pode existir como propriedade de uma obra de arte, pois, assim como no mundo, na arte não há superfícies ou discursos neutros. Um espaço nunca é vazio; haverá sempre algo para ver. Olhar para algo que está vazio é ainda estar olhando.
A arte é uma técnica para chamar a atenção. O olho vasculha o ambiente, nomeando, fazendo uma seleção limitada de coisas que então se tornam conscientes como entidades significativas, prazerosas, complexas ou não. O “Relicário” de Lima sugere novas demandas para o olhar. Antes de um convite ao olhar, a instalação engendra o próprio olhar.
Tradicionalmente, os efeitos de uma obra de arte são distribuídos de forma desigual a fim de induzir no público uma certa sequência de experiência. “Relicário” não exige do observador atribuições de significado ou simpatias, ela exige, ao contrário, que ele não acrescente nada, além de estar aberto a multiplicidade de experiências e consequentemente de diálogos.
Cada época na história da humanidade busca reinventar seu projeto de transcendência. No mundo atual, uma das representações mais efetivas para o projeto espiritual é a arte. A pintura, a música, a poesia, ou a dança se tornaram o local onde, como num teatro de sombras, são encenados os dramas que assediam a consciência humana.