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220 x 290 cm
Café sobre algodão cru
Foto Cortesia Tatu Cult![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2024/05/copy_of_240131_ccbb_269.jpg)
37 x 37 cm cada (24 partes)
PVA e acrílica sobre algodão cru
Foto Filipe Berndt“[…] Importante dizer que, para Aimé Césaire, négritude, termo que aparece pela primeira vez na revista L’Étudiant noir em 1934, é um conceito simultaneamente literário e político. Ao se reapropriar de um termo racista da língua dominante colonizadora, tenciona promover a África e sua cultura. Destino semelhante atravessa a série de pequenas telas pretas e vermelhas sobre as quais André Vargas inventa “suas” africanizações da língua portuguesa brasileira. Em paralelo ao pretuguês de Lélia Gonzalez, esse jogo, um tanto surrealista e aleatório, procura rastrear aproximações por sonoridades: “fomnologia”, “preticado”, “ilêitura”, “caciqnificado”, “perónome”, “sujeitupi”, “pluhaux”. Como a língua creole, prenhe de imagens, a fala emerge dos porões do navio negreiro para honrar os troncos linguísticos que abarcaram mais de 600 línguas saídas à força do continente africano.”
Trecho de No Fim da Madrugada, de Lisette Lagnado
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70 x 345 cm (cada)
tinta acrílica sobre tecido Oxford
Foto André VargasTrabalho em homenagem à Xangô e a toda cultura das religiões de matriz africana no Brasil.
Com a valença do quiabo, verdura de origem africana muito presente nas comidas de terreiro, muito apreciada nas casas dos brasileiros e dedicada ao Orixá do fogo em seu amalá, a frase que se insere é um dito popular muito comum entre o povo de axé, que reforça o poder desse alimento, sobretudo, na proteção daqueles que comungam dessa cultura.
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73 x 94 cm
Tinta acrílica sobre algodão cru
Pintura sobre algodão cru que parte de um famoso ex-voto da cidade de La Rochelle que está exposto na catedral de São Luis, onde o dono de um navio negreiro agradece o retorno de sua embarcação após um bom tempo à deriva no mar.
A pintura, que parafrasea o antigo ex-voto reivindica outra história e outra potência do mar, muito anterior e muito maior para o povo negro do que o terrível tempo da escravidão, que é a sua relação com o sagrado, marcada nesse trabalho pela presença do Orixá Iemanjá, rainha do mar, bem como seu barquinho de oferendas.
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30 x 20 x 20 cm
Tinta acrílica e tecido sobre garrafa de rum
Coquetéis molotovs feitos com garrafas de Rum, uma bebida milenar, que inclusive já foi utilizada como moeda de troca no mercado de negros escravizados e que ainda possui uma marca francesa que explora em seu nome e imagem, estereótipos coloniais da negritude como um pressuposto racista de utilização desses sujeitos, arremessam metaforicamente o grito que sobra do rótulo dessa história nas bases colonizatórias que ainda permanecem de pé.
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2,25 x 1,53 m
Tinta acrílica sobre tecido
Este trabalho revisa um quadro exposto no Museu do Novo Mundo, “Les mascarades nupitiales”, onde se retrata os escravizados com nanismo da Rainha Maria, mãe de Dom João VI de Portugal, usando roupas de nobre em celebração do casamento de um desses escravizados.
A ideia desse trabalho é retirar essas pessoas retratadas nesse antigo quadro desse lugar de arremedo de nobreza que entretinha a corte e deixava curioso, como coisa pitoresca e excêntrica, todo viajante europeu em busca do “exótico” mundo novo e colocá-los em um lugar onde a ancestralidade que os inclui é objeto de culto, pintando-os como Orixás, para que vivam livres e em plena potência de si mesmos.
Os Orixás referenciados neste trabalho são, da direita para a esquerda, começando por baixo: Ogum (Orixá da Guerra e da tecnologia), Exu (Orixá da comunicação e senhor de todos caminhos), Oxum (Rainha das águas dos rios, da beleza e da fertilidade), Nanã (Orixá anciã, avó entre os Orixás, ligada às águas paradas, pântanos e água barrenta e relacionada ao nascimento e a morte), Oxossi (Orixá caçador, senhor das matas); acima: Xangô (Senhor da justiça e do fogo, Rei da cidade de Oyó), Iansã (Rainha dos raios e dos ventos e quem domina os rituais de passagem entre a vida e a morte) e, no ponto mais alto, Oxalá (Orixá ancião e conselheiro que foi incumbido por Olodumarê, o maior dos orixás, de criar o mundo.
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74 x 63 cm
Tinta acrílica sobre tecido Burlington
As relações intrínsecas de palavras muito próximas formalmente como “Île” do francês e “Ilê” do Yorubá criam narrativas complexas de compreensão de mundo. Ilê, no yorubá quer dizer casa e nas religiões afro-brasileiras é essa palavra que utilizamos para indicar os templos onde acontecem os cultos.
O Ilê, ou a casa, é o espaço do sagrado, mas, cercada por perseguições de todos os lados, porque as religiões afro diaspóricas são alvos de demonizações, violências e preconceitos em toda parte do mundo, resiste como uma ilha de acolhimento e paz.
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86 x 162 cm
Tinta acrílica sobre tecido Burlington
O jogo formal entre a mais comum das saudações francesas, ça va, e uma das mais populares das saudações religiosas de matriz africana no Brasil, saravá, é o que a poesia que se encarrega de produzir ao borrar as fronteiras da língua para nos conduzir a um hibridismo salutar dos encontros entre culturas.
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33 x 36 x 28 cm
Gravura a laser e acrílica sobre banco de madeira
Este trabalho em um pequeno banco branco de madeira, semelhante aos bancos utilizados pelos pretos velhos, que carrega uma frase que norteia a pesquisa que pude produzir aqui. Os pretos velhos são entidades da Umbanda, evoluídos espíritos desencarnados de negros escravizados que retornam ao mundo para nos aconselhar e nos benzer contra energias ruins.
Uma saudação religiosa feita à presença dessas entidades na umbanda, “Adorei as almas!” e que, em parte, tem como sua possível origem a modificação de um comando que se valia da utilização de uma palavra do francês “Doré”. Foi essa ponte que me possibilitou atravessar o Atlântico e me conectar com a parte de cá da história, respondendo ao acolher minha ancestralidade, a esse período tão terrível da história da humanidade, com o feitiço profundo das revisões históricas.
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66 x 72 cm
Tinta acrílica sobre tecido Burlington
O mapa do oceano Atlântico pintado em vermelho sobre um tecido preto é a marca da violência do período de escravização que se espraia por toda a costa que este oceano banha.
A frase, em português, brinca com o sentido do nome de outro oceano, o Pacífico, para reforçar a identidade histórica do Atlântico como um espaço de dor e aflição, principalmente no período da escravidão.
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71 x 98 cm
Costura sobre tecido
Bandeira de duas faces em preto e branco (cores do yin e yang da filosofia oriental, mas também cores que simbolizam os pretos velhos nas umbandas brasileiras) onde a palavra francesa “noir” tem seu significado repensado através de correspondências formais e sonoras com palavras do português. “No ir” em português é como estar no caminho e “No ar” é como ascender, ir aos céus. E, dessa maneira, partindo de outras premissas para traduções mais poéticas do que literais, perceber o caminho de ascendência da negritude nos espaços de poder.
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75cm x 7m
Tinta acrílica sobre tecido Burlington
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330 x 100 cm
Tinta acrílica sobre tecido Burlington
A planta, que na França é conhecida pelo nome “Langue de belle-mère”, em português tem o nome de “Espada de São Jorge”, ou, como vemos nos cultos de religiões de matriz africana no brasil, “Espada de Ogum” e é geralmente utilizada nas casas como um amuleto, uma planta que é capaz de afastar as energias da casa, porque tem a força do santo guerreiro e do general Orixá.
São Jorge e Ogum são sincretizados nas umbandas, religião sincrética surgida no começo do século XX mais popular do Rio de Janeiro, o que torna a festa do santo católico uma das mais frequentadas e ecumênicas da cidade carioca.
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171 x 192 cm
Lápis e café sobre algodão cru
Neste trabalho os objetos evocam a presença do invisível. É possível imaginar, pela disposição dos desenhos, o corpo de duas pessoas sentadas nesses bancos desenhados a utilizarem esses outros objetos que os orbitam. Estes são objetos de uso religioso dos pretos velhos, mas que remetem, como não poderia deixar de ser, à cultura e aos costumes dos negros escravizados no Brasil.
O trabalho é feito com trapos de algodão cru, lápis e café, que utilizei para tingir o tecido. Com isso, temos uma construção que se vale de algumas das commodities mais reconhecidas do período da escravidão em terras brasileiras, algodão e açucar e, não por acaso, produtos que contam a história de meus antepassados que foram forçados a trabalhar em engenhos que tinham esses plantios. Ao mesmo tempo, o tecido de algodão também aponta para a sua utilização comum nas roupas dos pretos velhos e o café é, também, o que se oferta à essas entidades, de modo que, esse trabalho – que também possui o nome de alguns dos meus antepassados que foram escravizados, mesclados com alcunhas das entidades cultuadas, escritos em sua composição -, reúne o meu culto a essas divindades da Umbanda ao meu culto a minha própria ancestralidade, uma vez que essas duas linhagens fazem parte da mesma história, como um desdobramento da escravidão que, por seu caráter ao mesmo tempo mistico e genealógico, nos reconduz a potencia ancestral.
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280 x 200 cm
PVA sobre tecido Oxford
Foto Filipe Berndt”Trabalho composto por faixas com frases onde se propõe o incêndio de antigos engenhos de cana de açúcar do Rio de Janeiro, como maneira de expurgar o espectro das relações coloniais dos ditames territoriais da cidade em uma projeção de passado que reconta a história de nossa resistência” – André Vargas
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75 x 30 x 25 cm
Pintura sobre abrigo de extintor, vela e copo d’água Foto Vermelho ”Oratório pintado dentro de um abrigo de extintores, onde coabitam elementos a princípio contrários, copo de água e vela acesa, em uma busca por força e fé para apagar os incêndios do dia-a-dia” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/09/1.jpg)
34 x 112 x 112 cm
16 machados esculpidos em madeira Foto Filipe Berndt ”Este é um trabalho em homenagem ao Orixá Xangô, que tem como arma o oxê, espécie de machado com duas lâminas, mas também é uma homenagem ao popular São João, sincretizado com o Xangô nas umbandas cariocas, das festas juninas, a quem se dedica a fogueira que é parte de seus festejos.” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/19_foto_filipe_berndt.jpg)
50 x 70 cm
Nylon e missangas Foto Filipe Berndt Nas cores das guias de Xangô, Orixá regido pelo fogo, esse trabalho marca a poesia da destreza do orixá com o seu elemento em uma frase que sintetiza todo o seu poder.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/29_foto_filipe_berndt.jpg)
50 x 70 cm
Nylon e missangas Foto Filipe Berndt Nas cores das guias de Xangô, Orixá regido pelo fogo, esse trabalho marca a poesia da destreza do orixá com o seu elemento em uma frase que sintetiza todo o seu poder.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/30_foto_filipe_berndt.jpg)
280 x 223 cm
Bandeira em tecido Oxford e bambu Foto Filipe Berndt ”Das cores do Orixá Exu, senhor das encruzilhadas, dos caminhos, das feiras, da rua, guardião das entradas das casas e responsável pela comunicação, às cores do anarco-sindicalismo a pauta é uma só: a reivindicação e a disputa pela rua como palco da produção de uma brasilidade que se faz no cruzo das lutas” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/15_foto_filipe_berndt.jpg)
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/13_foto_filipe_berndt.jpg)
83 x 96 cm
PVA sobre algodão cru
Foto Filipe Berndt”A pimenteira, além de usada como amuleto contra o mau-olhado nas casas, também pode ser usada para benzer. A frase que está no trabalho é trecho de um benzimento feito para curar dor de cabeça” – André Vargas
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40 x 40 cm
PVA e tinta acrílica sobre tela Foto Filipe Berndt ”Pautado na estética do Profeta Gentileza, artista e figura popular das ruas cariocas onde pintou suas profecias na década de 90, o trabalho apresenta um panorama não-pacifista da ação e reação em contraposição ao tom impresso pelo profeta ao brincar com os muitos sentidos da palavra “chama” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/27_foto_filipe_berndt.jpg)
150 x 215 cm
Tinta PVA sobre tecido Oxford e bambu Foto Filipe Berndt ”Na ginga das expressões populares a seriedade de se “levar tudo a ferro e fogo” se conjuga aos domínios do Orixá ferreiro que se vale dessas mesmas matérias (ferro e fogo) para exercer sua função de construtor de ferramentas, armas e outras tecnologias” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/18_foto_filipe_berndt.jpg)
11 x 575 cm
Aço galvanizado Foto Filipe Berndt “Retirada dos domínios da ótica, a frase que se vê neste trabalho versa conceitualmente sobre a cor preta, mas passa a ser como uma prescrição e um mantra de “empretecimento” que vai da produção do artista à ótica do espectador, reivindicado outras leituras de mundo insurgentes dessa relação de alteridades” – André Amorim![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/34_foto_filipe_berndt.jpg)
32 x 58 x 10 cm
Sete garrafas de vidro, cachaça e flanela Foto Filipe Berndt “Sete garrafas de marafo de Exu feitas de coquetel molotov demonstram que a luta e a disputa que se dá na rua deve reverência ao senhor deste domínio” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/10_foto_filipe_berndt.jpg)
94 x 67 cm
Guache sobre papel Kraft Foto Filipe Berndt “Sequência da série “Povo” que se faz nos fragmentos e mistérios das ausências que compõem as imagens e os nomes das entidades de umbanda em suas poéticas próprias” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/7_foto_filipe_berndt.jpg)
96 x 65 cm
Guache e PVA sobre papel Kraft Foto Filipe Berndt![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/6_foto_filipe_berndt.jpg)
30 x 20 cm
PVA e tinta acrílica sobre tela Foto Filipe Berndt “Sempre fiquei imaginando as coisas que poderiam estar dizendo as bocas abertas dos personagens das pinturas de Heitor dos Prazeres. O gozo e o júbilo de cada cenário elaborado por esse mestre sempre me convidaram a cantar. Hoje eu canto colorido... Salve Heitor dos Prazeres!” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/5_foto_filipe_berndt.jpg)
285 x 75 cm
PVA sobre tecido Oxford Foto Filipe Berndt “Kaô é a saudação a Xangô, Orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo” – André Vargas![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/4_foto_filipe_berndt.jpg)
28 x 58 cm
PVA sobre papelão
Foto Filipe Berndt“Este trabalho segue em estética e lógica a perspectiva de um dos meus primeiros trabalhos: “Figa na fuga”, onde se quer perceber a coragem que é fugir quando permanecer significa seguir a sofrer as mazelas da opressão. Assim, pensar a fuga como coragem é tomar a própria palavra fuga como ação de rebelar-se, tornando-a um conceito que por essa visada pautada por uma perspectiva afro-centrada da história, contradiz a hegemonia que a conduz à noção de covardia”
André Vargas
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2022/04/2_foto_filipe_berndt.jpg)
90 x 90 cm
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Essa série investiga as ervas usadas pelas benzedeiras, bem como as rezas que essas fazem quando benzem as pessoas. É na interseção entre objeto-imagem- erva e a escrita-reza-vóz que o trabalho sustenta a singeleza das tradições populares como importância fundamental para a nossa constituição.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_roseira.jpg)
90 x 90 cm
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Essa série investiga as ervas usadas pelas benzedeiras, bem como as rezas que essas fazem quando benzem as pessoas. É na interseção entre objeto-imagem- erva e a escrita-reza-vóz que o trabalho sustenta a singeleza das tradições populares como importância fundamental para a nossa constituição.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_manjericao.jpg)
90 x 90 cm
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Essa série investiga as ervas usadas pelas benzedeiras, bem como as rezas que essas fazem quando benzem as pessoas. É na interseção entre objeto-imagem- erva e a escrita-reza-vóz que o trabalho sustenta a singeleza das tradições populares como importância fundamental para a nossa constituição.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_guine_.jpg)
50 x 90 cm
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Essa série investiga as ervas usadas pelas benzedeiras, bem como as rezas que essas fazem quando benzem as pessoas. É na interseção entre objeto-imagem- erva e a escrita-reza-vóz que o trabalho sustenta a singeleza das tradições populares como importância fundamental para a nossa constituição.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_aroeira.jpg)
90 x 90 cm
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Essa série investiga as ervas usadas pelas benzedeiras, bem como as rezas que essas fazem quando benzem as pessoas. É na interseção entre objeto-imagem- erva e a escrita-reza-vóz que o trabalho sustenta a singeleza das tradições populares como importância fundamental para a nossa constituição.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_abre_caminho.jpg)
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/acao_andrevargas_foto_aliceloureiro_06092021-25.jpg)
200 x 150 cm
Tinta PVA sobre tecido Foto Galeria Vermelho Essa bandeira em homenagem ao orixá Ogum reivindica a potência da origem dos elementos que compõem o símbolo do comunismo à esse orixá que é o dono da forja e criador das tecnologias e das ferramentas de trabalho, inserindo o negro na história das ideologias ocidentais.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/ferreiro_do_universo.jpg)
Dimensões variáveis [Variable dimensions]
Ação e estandarte de tinta PVA sobre tecido, e canos de PVC Foto Silvana Marcelina Desfile é uma ação produzida para a exposição “Sal60: uma revolução em vermelho, branco e negro”, curada por Leonardo Antan, em homenagem aos 60 anos do período conhecido como ‘Revolução Salgueirense’, que marcou a história da cultura carioca . O período da “Revolução Salgueirense” promoveu uma série de mudanças artísticas no carnaval carioca, com enredos de temática negra e uma nova estética, em contato com vários movimentos artísticos e culturais para além dos desfiles das escolas de samba. A ação de Vargas se deu em diálogo com a alegoria que abria “Festa para um rei negro”, um dos clássicos desfiles desse período, apresentado em 1971. O enredo contava a história da vinda de príncipes africanos ao Brasil. A alegoria trazia a frase “Se fosse hoje?”, provocando o público sobre como seriam tratados os membros dessa realeza negra naquele momento. “Reproduzi, então, o desfilar dessa frase, atravessando a mesma avenida Presidente Vargas, que, cinquenta anos antes, assistiu o Salgueiro passar. Mas nesse jogo de apontar para o passado presente outras camadas de sentido se somaram, uma vez que carreguei esse estandarte que questionava “Se fosse hoje?” num ano em que o carnaval, por conta da pandemia de covid19, não pode ocorrer.”![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_desfile_xi_-_fotografia_silvana_marcelina.jpg)
Dimensões variáveis [Variable dimensions]
Ação e estandarte de tinta PVA sobre tecido, e canos de PVC Foto Silvana Marcelina Desfile é uma ação produzida para a exposição “Sal60: uma revolução em vermelho, branco e negro”, curada por Leonardo Antan, em homenagem aos 60 anos do período conhecido como ‘Revolução Salgueirense’, que marcou a história da cultura carioca . O período da “Revolução Salgueirense” promoveu uma série de mudanças artísticas no carnaval carioca, com enredos de temática negra e uma nova estética, em contato com vários movimentos artísticos e culturais para além dos desfiles das escolas de samba. A ação de Vargas se deu em diálogo com a alegoria que abria “Festa para um rei negro”, um dos clássicos desfiles desse período, apresentado em 1971. O enredo contava a história da vinda de príncipes africanos ao Brasil. A alegoria trazia a frase “Se fosse hoje?”, provocando o público sobre como seriam tratados os membros dessa realeza negra naquele momento. “Reproduzi, então, o desfilar dessa frase, atravessando a mesma avenida Presidente Vargas, que, cinquenta anos antes, assistiu o Salgueiro passar. Mas nesse jogo de apontar para o passado presente outras camadas de sentido se somaram, uma vez que carreguei esse estandarte que questionava “Se fosse hoje?” num ano em que o carnaval, por conta da pandemia de covid19, não pode ocorrer.”![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/montagem-1.jpg)
7m de comprimento
Tinta PVA sobre tecido, ação de esticá-la nos lugares e registros
Foto Silvana Marcelina“Em Calunga Grande, André evoca a memória das águas do Atlântico, onde estão sepultados mais de 2 milhões de africanos que, por mais de três séculos de tráfico de seres humanos, foram lançados ao mar. Uma faixa de escala monumental onde se lê ‘Calunga Grande’ produz sentido no contato com pontos que constituem o território batizado como ‘Pequena África’ por Heitor dos Prazeres. André Vargas e Jéssica Hipólito vestem branco em reverência aos que vieram antes, aos que venceram a morte, sonharam e lutaram por um futuro de liberdade para seus descendentes.”
– Juliana Pereira
•
“Calunga Grande é o mar no infinito horizonte que engole as almas. É o olhar de quem fica, ou ainda está por ser carregado à força, a observar quem já foi pego ser apagado por violência e distância. É o absoluto indecifrável que ginga as águas nas masmorras da memória. É onde me mora o vento e o tormento. É o movimento dos corpos que se vão sem qualquer escolha. É a essência de cada grão, é a excelência de cada bolha. É um não-chão de sangue pisado e azul. É o mar que se faz de morte. É o corte que jorra o rum. É todo lugar que o mar já foi ou mar será. É todo lugar que há.”
– André Vargas
*Na travessia do oceano, durante o tráfico de pessoas na escravatura, Calunga Grande poderia ser o destino final para aqueles que não chegassem vivos ou sãos. O termo era usado para designar o mar em si, mas também poderia ser compreendido como cemitério.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_calunga_grande_-_baia_de_guanabara_foto_de_silvana_marcelina.jpg)
7m de comprimento
Tinta PVA sobre tecido (registros da ação de esticá-la nos lugares)
Foto Silvana Marcelina“Em Calunga Grande*, André evoca a memória das águas do Atlântico, onde estão sepultados mais de 2 milhões de africanos que, por mais de três séculos de tráfico de seres humanos, foram lançados ao mar.
Uma faixa de escala monumental onde se lê “Calunga Grande” produz sentido no contato com pontos que constituem o território batizado como ‘Pequena África’ por Heitor dos Prazeres. André Vargas e Jéssica Hipólito vestem branco em reverência aos que vieram antes, aos que venceram a morte, sonharam e lutaram por um futuro de liberdade para seus descendentes.”.
Juliana Pereira
“Calunga grande é o mar no infinito horizonte que engole as almas. É o olhar de quem fica, ou ainda está por ser carregado à força, a observar quem já foi pego ser apagado por violência e distância.
É o absoluto indecifrável que ginga as águas nas masmorras da memória. É onde me mora o vento e o tormento. É o movimento dos corpos que se vão sem qualquer escolha. É a essência de cada grão, é a excelência de cada bolha. É um não-chão de sangue pisado e azul. É o mar que se faz de morte. É o corte que jorra o rum. É todo lugar que o mar já foi ou mar será. É todo lugar que há.”
André Vargas
*Na travessia do oceano, durante o trafico de pessoas na escravatura, Calunga Grande poderia ser o destino final para aqueles que não chegassem vivos ou sãos. O termo era usado para designar o mar em si mas também poderia ser compreendido como cemitério.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/montagem-2.jpg)
Dimensões e durações variáveis [Variable dimensions and durations]
Performance. Faixa em tecido com tinta PVA
Foto Silvana MarcelinaEssa série de ações e faixas em processo se propõe a profetizar pelas ruas da cidade referências negras que possam disputar os espaços onde vigoram os alardes cristãos das hecatombes de pecado, fim do mundo e salvação.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2020_zumbi_esta_voltando_-_fotografia_silvana_marcelina.jpg)
Dimensões e durações variáveis [Variable dimensions and durations]
Performance. Faixa em tecido com tinta PVA
Foto Silvana MarcelinaEssa série de ações e faixas em processo se propõe a profetizar pelas ruas da cidade referências negras que possam disputar os espaços onde vigoram os alardes cristãos das hecatombes de pecado, fim do mundo e salvação.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2020_todo_arrebatamento_sera_samba_-_fotografia_silvana_marcelina.jpg)
Dimensões e durações variáveis [Variable dimensions and durations]
Performance. Faixa em tecido com tinta PVA
Foto Silvana MarcelinaEssa série de ações e faixas em processo se propõe a profetizar pelas ruas da cidade referências negras que possam disputar os espaços onde vigoram os alardes cristãos das hecatombes de pecado, fim do mundo e salvação.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2021_depois_do_apocalipse_a_apoteose_-_fotografia_silvana_marcelina.jpg)
150 x 150 cm
Tinta PVA sobre tecido
Esse trabalho se faz na decomposição da imagem de um tradicional amuleto de sorte, que é o trevo de quatro folhas, para revelar de suas folhas o símbolo de coração com que elas se transformam, brincando, como no título, com o ditado: “sorte no jogo, azar no amor
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2020_amor_na_sorte.jpg)
Dimensões variáveis [variable dimensions]
Tinta PVA sobre 9 máscaras de bate-bola
Foto Renato MangolinSérie de nove máscaras de bate-bola, personagem importante do carnaval dos subúrbios cariocas, pintadas com as regiões da cidade onde essa cultura tem origem. Regiões estigmatizadas e marginalizadas da cidade do Rio de Janeiro, mas que, na força dos bate-bolas, resumem o estardalhaço que sua presença faz frente às regiões mais ricas da cidade.
Uma possível origem dos bate-bola são os escravos libertos. Estes, que por vezes eram perseguidos injustamente pela polícia, vestiam as fantasias para poder brincar livremente o carnaval e, “usar o Bate-bola” para protestar contra a opressão, batendo com força no chão as bolas que eram feitas a partir de bexiga de bois, para mostrar que tinham força e poder para juntos incomodar e transformar.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2020_o_terror_da_sul_-_foto_renato_mangolin.jpg)
Ação de panfletagem ocorrido durante as eleições para a prefeitura do Rio em 2020
Ações de panfletagem que ocorreram durante o período do pleito eleitoral de campanha à prefeitura do Rio de Janeiro, que vinha, pela primeira vez em sua história, com duas candidatas negras ao cargo de prefeita. Foram dois dias de panfletagem, um no bairro do Méier e o outro no centro da cidade.
Na ação, são destribuidos panfletos com os dizeres “Não vote em branco!”, em um jogo lexical entre o ato de votar em branco – ou em ninguém – e em uma pessoa branca.
O título faz referência à Abdias do Nascimento, agente cultural, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, que foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 2010.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/montagem-3.jpg)
210 x 150 cm
Tinta PVA sobre tecido
Foto Galeria Vermelho“Ter a língua como um estandarte é perceber que a língua se produz enquanto se fala e, por isso, manifestar que “o nosso português é crioulo”, ou seja, uma língua que se constitui a partir da vasta contribuição do falar preto e indígena, para além da ambiguidade da imagem que se constrói pelo enunciado, é uma urgência de reconhecimento
da potência descolonial já existente nesse falar ancestral e é fato que nos reorienta para perceber que as bases gerais de nossa cultura passam por esses mesmo ditames afro indígenas.
Negros e indígenas constituíam a maioria dos falantes do Brasil colonial e atravessaram com suas línguas mães o vocabulário da língua do colonizador e a reformularam fonética e semanticamente a tal ponto que, a partir do pensamento de Lélia Gonzales, sejamos capazes de elaborar que o que falamos é na verdade um “Pretuguês”. É dessa língua que se constrói no falar preto dos meus antepassados que me valho para dizer que minha bandeira é a nossa voz.”
André Vargas
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2020_a_lingua_como_estandarte.jpg)
Dimesões variaveis [variable dimensions]
Tinta PVA sobre algodão cru Foto Galeria Vermelho Este trabalho em processo se constitui a partir de fragmentos coletados das histórias da minha família paterna que remontam os tempos do cativeiro com bordões e falas de meus antepassados, misturados a frases ficcionais de tomada de poder em resposta a alguns dos símbolos da colonialidade escravocrata brasileira.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/serie_trapos_2019.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/b_-_copia.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/a_-_copia.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/67913519_149452032787851_7226399706949604774_n.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/vovo-.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/67693892_128221531797614_5406933063085689542_n.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/velho.jpg)
119 x 84 cm
Tinta guache e PVA sobre folha de papel kraft Foto Galeria Vermelho Esta série trata - na representação parcial de imagens de entidades da Umbanda, bem como no indicativo incompleto de seus nomes - do papel do espectador como cúmplice na dinâmica de completar textos e imagens, assim como na significação entre sagrado ou profano dessas representações.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/c_-_copia.jpg)
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/sorte_2019.jpg)
Dimensões variáveis [variable dimensions]
Par de chinelos entalhados Foto Galeria Vermelho Esse trabalho se coloca no território das superstições dos subúrbios cariocas e outras regiões do interior do Estado que acreditam que deixar o chinelo virado com a sola para cima pode fazer a mãe morrer.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/mae_2019.jpg)
75 x 350 cm
Tinta PVA sobre tecido Foto André Vargas Ode à Odé é uma homenagem ao Orixá Oxóssi e a sua flecha certeira. Diferentes filiações do candomblé e da umbanda usam nomes diferentes para designar o mesmo orixá, sendo Oxossi e Odé equivalentes, embora o primeiro seja mais popular. Em Yoruba Odé signifa caçador. Odé é o deus caçador, senhor da floresta e de todos os seres que nela habitam, orixá da fartura e da riqueza. Atualmente, o culto a Odé está praticamente esquecido na África, mas é bastante difundido no Brasil, em cuba e em outras partes da América onde a cultura Yorubá prevaleceu. Isso por ter a cidade de Kêtu, da qual era rei, destruída quase por completo em meados do século XVIII, e os seus habitantes, muitos consagrados a Odé, terem sido vendidos como escravos no Brasil e nas Antilhas. Esse fato possibilitou o renascimento de Kêtu, não como estado, mas como importante nação religiosa do Candomblé.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/ode_a_ode_2019_-_andre_vargas-_300dpi.jpg)
35cm x 10cm
Acrílica sobre facão Patakori é uma saudação em Yoruba ao Orixá Ogum - ferreiro, senhor das tecnologias, das armas e das ferramentas de trabalho.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/patakori_2019.jpg)
60 x 110 cm
PVA sobre vergalhão soldado “Kiô’ é brado de caboclo dos terreiros de umbanda e candomblé de caboclo. Um grito que anuncia a chegada da entidade e um grito que se joga na liberdade como um silvo de um grande pássaro que abre as asas para voar. O mais retumbante dos gritos de nossa história, que dá-se às margens de qualquer rio, onde se fundam mais profundamente nossas identidades.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/brado_retumbante_2019.jpg)
150 x 210 cm
Tinta acrílica sobre tecido de algodão cru Foto Galeria Vermelho Neste trabalho, a palavra que se apresenta convoca o espectador-leitor a preencher o seu vazio, derivando desse ato complementar, conexões que reelaboram a história do letramento, da oralidade e da própria escrita sob uma perspectiva negra.![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2021/11/2018_escr_vo_.jpg)
dimensões variáveis
PVA sobre máscaras em TNT e lona de nylon
Foto Filipe Berndt“Máscaras de André Vargas complementam essa perspectiva dissidente do lugar do medo no imaginário social da branquitude. No fim da madrugada, o morro esquecido, esquecendo-se de explodir. Em O Terror da Sul (2018-19), o artista aponta para a introjeção do racismo e sua relação com as classes sociais, mais especificamente à divisão da cena cultural carioca que aparta os populosos subúrbios nos bairros da Baixada Fluminense da chamada Zona Sul. Suas máscaras são endereçadas às fantasias usadas na tradição de Clóvis (da palavra clown, em inglês), cujas turmas são constituídas de homens mascarados que saem às ruas vestidos de “bate-bola”.”
Trecho de No Fim da Madrugada, de Lisette Lagnado
Uma possível origem dos bate-bola são os escravos libertos. Estes, que por vezes eram perseguidos injustamente pela polícia, vestiam as fantasias para poder brincar livremente o carnaval e, “usar o Bate-bola” para protestar contra a opressão, batendo com força no chão as bolas que eram feitas a partir de bexiga de bois, para mostrar que tinham força e poder para juntos incomodar e transformar.
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2023/10/mg_3124_copy.jpg)
![](https://galeriavermelho.com.br/wp-content/uploads/2023/09/mg_3124_copy.jpg)
André Vargas é artista visual, poeta, compositor e educador. Vargas trabalha na retomada de sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas da brasilidade em que se insere, tendo a cultura popular como a maior indicação desse fundamento. Os subúrbios, os interiores e os demais lugares de memória pessoal e coletiva que contornam essa ancestralidade se apresentam como ponto de partida empírico de suas postulações conceituais.
Graduando em Filosofia pela UFRJ, Vargas questiona as hegemonias que indicam uma história única ao recontar e responder a sua própria história familiar, se valendo das forças religiosas que reconduzem à afrocentricidade de seus gestos. A voz, a evocação e a conversa, produzem dobras sobre os sentidos de seus trabalhos através da conjugação entre palavra e imagem. Nesse caminho, a constante presença da ausência, reafirma o infinito de possibilidades, onde qualquer possibilidade de certeza sobre sagrado e profano escapa pela graça.
“O método de lidar com a sintaxe das frases de origem afro religiosa coloca o artista em consonância com o que Lélia Gonzalez chamava de Pretoguês. Ou seja, há um modo de abordar a norma culta da língua portuguesa que aceita o que supostamente seria erro”, escreveu o professor e curador-chefe do Museu de Arte do Rio, Marcelo Campos no texto André Vargas: Conceitualismo preto, de 2022. Campos continua, “Em um país onde 56% da população é constituída por pessoas negras, a língua franca, usada nos terreiros, nas gírias, nas quebradas, deveria ser chamada de nacional e constar nos dicionários. A isso a obra de André Vargas se dedica, a pensar a tautologia em acepção preta, em que, da frieza dos jogos filosóficos europeus, podemos “brotar” e ampliar o jogo, alastrando o fogo, para além, para muitos, fazendo ecoar a história de nossos quilombos. ‘Só Exu na causa’.”
André Vargas é artista visual, poeta, compositor e educador. Vargas trabalha na retomada de sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas da brasilidade em que se insere, tendo a cultura popular como a maior indicação desse fundamento. Os subúrbios, os interiores e os demais lugares de memória pessoal e coletiva que contornam essa ancestralidade se apresentam como ponto de partida empírico de suas postulações conceituais.
Graduando em Filosofia pela UFRJ, Vargas questiona as hegemonias que indicam uma história única ao recontar e responder a sua própria história familiar, se valendo das forças religiosas que reconduzem à afrocentricidade de seus gestos. A voz, a evocação e a conversa, produzem dobras sobre os sentidos de seus trabalhos através da conjugação entre palavra e imagem. Nesse caminho, a constante presença da ausência, reafirma o infinito de possibilidades, onde qualquer possibilidade de certeza sobre sagrado e profano escapa pela graça.
“O método de lidar com a sintaxe das frases de origem afro religiosa coloca o artista em consonância com o que Lélia Gonzalez chamava de Pretoguês. Ou seja, há um modo de abordar a norma culta da língua portuguesa que aceita o que supostamente seria erro”, escreveu o professor e curador-chefe do Museu de Arte do Rio, Marcelo Campos no texto André Vargas: Conceitualismo preto, de 2022. Campos continua, “Em um país onde 56% da população é constituída por pessoas negras, a língua franca, usada nos terreiros, nas gírias, nas quebradas, deveria ser chamada de nacional e constar nos dicionários. A isso a obra de André Vargas se dedica, a pensar a tautologia em acepção preta, em que, da frieza dos jogos filosóficos europeus, podemos “brotar” e ampliar o jogo, alastrando o fogo, para além, para muitos, fazendo ecoar a história de nossos quilombos. ‘Só Exu na causa’.”
André Vargas
1986. Cabo Frio, Brasil
Vive e trabalha no Rio de Janeiro.
Exposições individuais
2023
– L’Espérance, çe une douleur – Centre Intermondes La Rochelle – La Rochelle – França
2022
– Fogo encruzado – Vermelho – São Paulo – Brasil
Exposições Coletivas
2023
– No Fim da Madrugada – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil
– Passeio Público – Caixa Cultural RJ – Rio de Janeiro – Brasil
– Cartografias de Augusta – Sesc Madureira – Rio de Janeiro – Brasil
– Artistas de Terreiro: Expressões Sagradas da Criatividade Afro-Brasileira. Festival Mário de Andrade – Biblioteca Mário de Andrade – São Paulo – Brasil
– Funk: um grito de ousadia e liberdade – Museu de Arte do Rio (MAR) – Rio de Janeiro – Brasil
– DOS BRASIS: Arte e pensamento Negro – Sesc Belenzinho – São Paulo – Brasil
– Verbo – Mostra de Performance Arte (17a ed.) – Galeria Vermelho São Paulo – Brasil
– Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros – Museu de Arte do Rio (MAR) – Rio de Janeiro – Brasil
– Nossas sensações não são nossas: Rádio Nacional ontem e Carnaval hoje – Museu da Imagem e do Som RJ – Rio de Janeiro – Brasil
– Eu enterrei meu umbigo aqui – Galeria Marco Zero – Recife – Brasil
– Margens Plácidas – Atelier Sanitário – Rio de Janeiro – Brasil
– Dar bandeira – Galerie Salonh – Rio de Janeiro – Brasil
– Tridimensional: entre o estético e o sagrado (Um recorte da coleção Vera e Miguel Chaia) – Arte 132 Galeria – São Paulo – Brasil
2022
– Atravessar o presente – Superior de Desenho Industrial da UERJ – Rio de Janeiro – Brasil
– Como que brinca disso – Parquinho Lage – Rio de Janeiro – Brasil
– Fuzuerê – Galpão Bela Maré – Rio de Janeiro – Brasil
– Encruzilhada- Triplex – Rio de Janeiro – Brasil
– Altay Veloso, um Alabê – Sesc São Gonçalo – São Gonçalo – Brasil
– Vozerio – Cinemateca do MAM-RJ – Rio de Janeiro – Brasil
– Verbo – Mostra de Performance Arte (16a ed.) – Galeria Vermelho São Paulo – Brasil
– Histórias Brasileiras – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) – São Paulo – Brasil
– Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros – Sesc Sorocaba – Sorocaba – Brasil
– Brasil Delivery (a gente só não precariza o sonho) – Espaço Travessia – Instituto Nise da Silveira – Rio de Janeiro – Brasil
– Água Banta – Memorial Municipal Getúlio Vargas – Rio de Janeiro – Brasil
2021
– Rebu. Exposição de final do curso de formação e deformação da EAV – Parque Lage – Galeria 5 Bocas – Complexo de Israel
– Rio de Janeiro – Brasil
- Campo Aberto: abertura de atelier da residência Pivô Arte e Pesquisa – São Paulo – Brasil
– Crônicas Cariocas – Museu de Arte do Rio [MAR] – Rio de Janeiro – Brasil
– Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros – Instituo Moreira Salles [IMS-Paulista] – São Paulo – Brasil
– Semba/Samba: corpos e atravessamentos. Museu do Samba – Rio de Janeiro – Brasil
– Sal60 (mostra virtual)
2020
– Estandarte. A vanguarda dos povos – Centro Cultural Municipal Oduvaldo Vianna Filho – Rio de Janeiro – Brasil
– Baile da Aurora Sincera. Solar dos Abacaxis – Rio de Janeiro – Brasil
– Instáveis – Galeria Danielian – Rio de Janeiro – Brasil
– Patifaria – Espaço Titocar [Maricá] – Rio de Janeiro – Brasil
– Rua! Museu de Arte do Rio [MAR] – Rio de Janeiro – Brasil
– Casa Póvera – Centro Cultural Bernardo Mascarenhas – Juiz de Fora – Brasil
2019
– Patifaria – Galeria Azul UFRJ – Rio de Janeiro – Brasil
– Tamo Aí – Galeria da Passagem [Coart-UERJ] – Rio de Janeiro – Brasil
– O Grito. Espaço PENCE – São Caetano do Sul – Brasil
– Tipo Coletivo. Tipografia – maio de 2019;
– Corpos-Cidades – São Caetano do Sul – Brasil
– Renovação Carismática – Caixa Preta – Rio de Janeiro – Brasil
2018
– Africanize Performática – Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica – Rio de Janeiro – Brasil
Intervenções
– 2022: Galeria Providência – Praça Java – Morro da Providência – Rio de Janeiro – Brasil
– 2021: Calunga Grande – Fachada do Museu de Arte do Rio [MAR] Rio de Janeiro – Brasil
– 2021: Hoje só lavaremos a alma – Lavanderia dos escravizados do Parque Lage – Rio de Janeiro – Brasil
Oficinas e Cursos
– 2021: Oficina de Dispositivos artístico-pedagógicos – Museu de Arte do Rio [MAR] – Rio de Janeiro – Brasil
– 2021: Batuque na cozinha. Instituto dos Pretos Novos – Rio de Janeiro – Brasil
– 2020: Nós Cais. Valongo, Cais de idéias [IDG] – Rio de Janeiro – Brasil
Livros
– Roupa de Camaleão. Grupo editorial Zit, 2017.
– Caraminholas. Poesias do fundo da cachola. Editora Multifoco, 2012.
Residências
– 2023: ELA (Espaço Luanda Arte-Angola) com o projeto Angola Air de Dominick Maia Tunner
– 2023: Centre Intermondes – La Rochelle – França
– 2022: Atelier Sanitário – Rio de Janeiro – Brasil
– 2022: Casa do Sereio – Alcântara – Brasil
Coleções
– Instituto Inhotim – Brumadinho – Brasil
– Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, Brasil
Mas todo imaginário tem valor/ E pode transformar esse cenário/ A mente criadora é um dom maior/ Naqueles que são revolucionários/ Naqueles que são revolucionários. “Líder dos Templários”, Jorge Ben Jor.
Dia 23 de abril é dia do santo guerreiro e, no Rio de Janeiro, é dia de lembrar que até no festejo se imprime a força de nossa batalha. São Jorge e sua festa guerreiam por uma cidade de encantamentos; por uma cidade “terreirizada” como tão bem nos indicam Luiz Antonio Simas, Luiz Rufino e todo o bando de bambas que se dedica a pensar a rua com a rua; por uma cidade que, portanto, elabora e se reelabora no poder dos encontros e dos encruzos de toda sorte, uma cidade que se entende nas calçadas, nas biroscas e nas beiradas. A festa é a batalha pela ruptura com a seriedade cinza das instituições e pelo reinstituir das relações brincantes, estas ainda mais sérias, de intuições e intentos que nos convocam catarses.
“Reencantar a cidade, subverter o território em terreiro, entender a cidade como lugar de encontro, comer pelas beiradas driblando os perrengues, malandreando entre o horror e o gozo, é seguir vivendo e sobrevivendo para fazer o gol na partida que não termina: num lance rápido e certeiro do contra-ataque que nos resta para salvar a rua.”. (Luiz Antonio Simas, Corpo Encantado das Ruas – Pag.: 75).
Todo dia de São Jorge é dia de quermesse, gira, passe, benção, capoeira, ponto, oração, brincadeira, samba, hino, cerveja, procissão, feijoada e o que mais for para o bem de acontecer. É dia que vemos Jorge encontrar Ogum em praça pública. É dia de reconhecer todas as faces que nos compõem culturalmente como transeuntes desse chão. É dia de sentir um cheiro d a bagunça boa que era a festa da Penha nos idos dos anos de 1930. Dia de entender que toda cidade é pequena, toda urbanidade é roça, é quando o centro inteiro fica parecendo uma pracinha de interior. Esse é o poder da festa e é por isso que se guerreia: fazer simples, agregadora e afeita aos encontros e as preces a mesma cidade que, em geral, nos esforçamos cotidianamente para construir dura, hierárquica e propícia aos encontrões e as pressas.
Festejar em um mundo que quer nos ver tristes já é ser linha de frente na batalha das opressões da vida, agora, festejar ao santo guerreiro andando pelas ruas comprimidas do centro da cidade do Rio de Janeiro é sentar praça e construir um exército em um ato que nos dá novo folego para continuar no batidão dos dias do restante do ano em que vivemos em função de funcionar.
“A cidade é aquilo que praticamos. Assim, o Rio é aquilo que é inventado cotidianamente enquanto terreiro. Lembremos que os terreiros são saídas táticas, a partir da prática do tempo/espaço por aqueles que rasuram as lógicas da desterritorialização e aniquilamento.”. (Luiz Antonio Simas e Luiz Rufino, Flechas no Tempo – Pag.: 78)
É claro que naquele gole de cerveja estalado no gogó que tomamos no meio da semana depois de um dia exaustivo de trabalho, ou quando topamos, apesar do cansaço, ir à uma roda de samba, ou, ainda, quando numa domingueira resolvemos nos arriscar a fazer uma feijoada, já se encontra a resistência, amiúde, da morte e do desencanto que tratamos. Mas estes são apenas fragmentos de festa que nos dão, de alguma maneira, um remédio paliativo para os sintomas desse mal de desencante, pois quando reunidos no dia certo, no dia santo, esses fragmentos, agem diretamente na fonte dos sintomas e redimensionam nossa existência ao reelaborar a nossa perspectiva de fé, de festa e de disputa por uma sociabilidade menos sisuda e tacanha.
Nesse ano de 2021 foi mais um ano em que a festa de São Jorge teve de se dar em casa, não ganhou a rua. Mas, para além da tristeza com que percebo essa condição, percebo que existem outras camadas para se entender essa devoção, que aqui no Rio se faz tão grande. A casa é também uma rua para o guerreiro passar com seu cavalo e matar nossos próprios dragões, quando conseguimos fazer dela um espaço de abertura para o indizível invisível. A felicidade, maior sensação de encanto, quando habita o lar, faz dele a morada do sagrado e a casa é essa armadura, essa morada de proteção de quem se resguarda para num futuro instante poder contra-atacar.
Como fragmentos de fé que se reúnem no espaço, é na casa que se consagra a planta, espada de São Jorge, é na casa que se avista o azulejo do santo da fachada, é na casa que se acende a vela e reza no oratório, é na casa que se coloca a cerveja do santo no alto de seu esplendor. Precisamos, portanto, tornar a casa encantada como assim queremos a rua, porque a intimidade tem que concordar com essas nossas querências sociais. De outra maneira corremos o risco de dizer para a rua um hipócrita “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.
Foi para dentro da casa das tias baianas, moradoras da região da “Pequena África” (nome dado por Heitor dos Prazeres à região que compreendia ao território que ia da Praça XI à região portuária Rio de Janeiro em meados do século XX) que o samba foi se reinventar, quando a sua pratica pública era perseguida pelos órgãos oficiais de fiscalização e policiamento no período onde a “lei da vadiagem” de 1941, que se ocupava em criminalizar o corpo negro livre no pós-abolição, era aplicada a torto e a direito. Dessa maneira, está em um capítulo de nossa história a resposta de poder e feitiço que se pode conjurar caseiramente quando a rua não pode mais ser um espaço de transe e transito. Festejar em casa é a maneira com a qual vamos intimamente produzir o encantamento aguerrido que levaremos ao contra-ataque e, nesse ditado, a rua que nos espere, pois o que é dela está guardado. Dois anos sem ver a alvorada na certeza de que, quando pudermos, seremos todos nós o próprio alvorecer.
Salve Jorge!
Ogunhê!
Patakori, escreve André Vargas sobre um facão. A palavra faz referência ao gesto de cortar as cabeças dos inimigos, como em uma passagem das histórias de Ogum, Orixá que o trabalho reverencia. Com o gesto, e, sobretudo, com a palavra, invoca-se aquele que, na criação do mundo, abriu o caminho na densa floresta com dois facões, possibilitando a chegada dos outros Orixás.
Criar jogos de frases e palavras parece um aceno central no trabalho do artista. Em uma pintura, André Vargas homenageia o mesmo Orixá com a frase “Ogum leva tudo a ferro e fogo”, o que destaca a característica de Ogum como deus do ferro, das ferramentas da agricultura, e de uma personalidade impetuosa e colérica. Aqui, podemos perceber uma das vias de compreensão dos trabalhos do artista que, ao chegar à lógica das frases, ao jogo sintático, se aproxima, ao mesmo tempo, do resultado dos trabalhos, já que as próprias frases se abrem em metáforas, palíndromos, e constituem potentes aparições. O artista cria imagens, escolhe as cores vermelho e azul, cores de Ogum na umbanda e no candomblé, respectivamente, para compor a pintura.
A poesia, na trajetória do artista, possui dois vieses. Vindo de uma família de músicos, André confessa sua necessidade de mostrar competência artística, já que seus irmãos, Julia e Ivo Vargas, cantam e tocam. Sua mãe foi maestrina de coral, seu pai, músico e compositor, seus avós, saxofonistas e trompetistas, este último atuando com a Orquestra Tabajara e tocando com grandes bambas como Sara Vaughan e Wilson Simonal. Com isso, André resolve enveredar pela poesia. Por outro lado, com experiência em mediação de exposições, atuando diretamente com públicos variados de museus, André Vargas passa a criar jogos, dispositivos de interação, nos quais já aparecem os trocadilhos, como “benzadez”: dois baralhos, em que se revelavam os perrengues do corpo e as ervas que os curariam. Ao se colocar um perrengue na mesa, o/a participante precisa combatê-lo com uma erva curativa. André sempre se dedicou aos encantamentos e às mandingas.
“Fogo encruzado”, primeira exposição individual do artista, reúne parte de sua produção recente, com trabalhos, em sua maioria, inéditos. Assim, André Vargas exercita uma observação aproximada aos cultos e invocações populares, ao mesmo tempo em que se apropria de elementos banais, papeis pardos, faixas, armários. Seus trabalhos são, também, orações: “Ó Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos trovões”, escreve o artista nas bordas de uma pintura na qual uma labareda está representada por uma touceira da planta “espada de Santa Bárbara/Iansã”.
O artista se dedica a pensar o lugar do fogo tanto nos cultos a Exu e Xangô, quanto na incorporação de elementos de revolta e violência contra um passado colonial cotidianamente renovado. Em Retribuindo a gentileza, André repete a palavra “chama”, homenageando o Profeta Gentileza, mantendo a tipografia do poeta que deambulava pelas ruas do Rio de Janeiro, pregando o amor como arma e antídoto nas mazelas do mundo. Fazendo referência mais direta a Xangô, Vargas escreve “Aquele que come brasa” em um trabalho composto por sete cordões de contas vermelhas e brancas. Comer brasa é uma das características do Orixá que veio ao mundo com a missão de conduzir os trovões e que guarda consigo o segredo de engolir brasa e soltar chamas pela boca, destruindo os males e os inimigos. De outro modo, em Coquetel Marafo, André se utiliza de garrafas comuns de aguardentes, colocando tecidos nas suas pontas, como vemos nos chamados coquetéis molotovs, usados em manifestações de rua, vivenciadas no Brasil sobretudo a partir de 2013. Também vemos referências aos vários nomes de Exu, em que a palavra “fogo” faz parte. O artista, então, retira a palavra, deixando somente o complemento dos nomes, como Pomba (gira) do fogo e Exu Pinga (fogo).
Esse método de lidar com a sintaxe das frases de origem afro religiosa coloca o artista em consonância com o que Lélia Gonzalez chamava de Pretoguês. Ou seja, há um modo de abordar a norma culta da língua portuguesa que aceita o que supostamente seria erro, como o uso do erre em lugar do ele, “framengo”, “pobrema”. Gonzalez coloca tais apropriações como um posicionamento político. E, aqui, lembremos do canto ancestral de Clementina de Jesus, cantando Yaô, de Pixinguinha, no “Aqui có no terreiro/Pelú adié”. A língua brasileira e suas incorporações banto, iorubá. Palavras africanas como “abadá, banzo, caçamba, cachaça”, como nos informa Margarida Petter , são, hoje, de compreensão ampla, enquanto outras têm usos mais informais, como cafofo e muquifo. Em outro trabalho, André Vargas teoriza, “Vossa mercê”, “Vosmecê”, “Vancê”, “Você é uma invenção preta”, atiçando, ainda mais, a presença do pretoguês em nossa língua.
André Vargas vem de uma família escravizada em um engenho de café e de cultivo do algodão, Fazenda dos Saldanha, em Chiador, nas Minas Gerais. Contudo, resistindo à lógica colonial, a família, nas gerações seguintes, compra as próprias terras. Tendo sua ancestralidade como força-motriz, o trabalho do artista é repleto de reverências às almas e pretos velhos, seus antepassados, vibrando em altares e oratórios recodificados, onde lemos, “Jesus é Preto Velho”, o que nos coloca em consonância com a tese de que, nascido próximo à África, Jesus só podia ser preto, fato confirmado em reconstituições científicas de seu rosto, que destoam das recriações arianas produzidas em Hollywood. Floriano, Nazário, Carolina, Mariana, Adelaide são alguns dos ancestrais de André Vargas aos quais apresentamos nossos respeitos, e pedimos licença para citá-los.
Como uma espécie de conceitualismo preto, André Vargas joga com a lógica da vingança quando o assunto se direciona à palavra “engenho”, naquilo que Jota Mombaça denomina como a redistribuição da violência. André pesquisa nomes de bairros do Rio de Janeiro nos quais permaneceu a palavra “engenho”, e constrói frases de revolta e revide às atrocidades da escravidão. Em tudo, uma única ideia, incendiá-los: “O Engenho de Dentro queimará noite afora”, “O fogo caminha no Engenho da Rainha”, “Meu fogo será cruel no Engenho de São Miguel”.
Em um país onde 56% da população é constituída por pessoas negras, a língua franca, usada nos terreiros, nas gírias, nas quebradas, deveria ser chamada de nacional e constar nos dicionários. A isso a obra de André Vargas se dedica, a pensar a tautologia em acepção preta, em que, da frieza dos jogos filosóficos europeus, podemos “brotar” e ampliar o jogo, alastrando o fogo, para além, para muitos, fazendo ecoar a história de nossos quilombos. “Só Exu na causa”.
1) Petter, Margarida. Línguas africanas no Brasil: vitalidade e invisibilidade. In: Carmo, Laura e Stolzelima, Ivana. História social da língua nacional 2: diáspora africana. Rio de Janeiro: Nau editora, 2014, p. 26.
Na imagem, fotografada por Bárbara Dias em 2018, vemos a vereadora Marielle Franco descendo os degraus da escada da Câmara dos Vereadores do Estado do Rio de Janeiro cercada por policiais agitados e atentos. Os signos de poder dessa fotografia são violentos, pois violenta é a nossa realidade. Um corredor de policiais se abre, como um mar de brutalidade que apresenta um frágil pontal em maré baixa, para que Marielle possa passar na segurança mais insegura que pode haver. O pórtico da câmara municipal vigia ao fundo, com toda a sua pompa histórica de representação política popular, a representatividade dessa mulher preta, favelada e lésbica a atravessar o bloco de distintivos e cassetetes, impávida e colossal. Por cima da fotografia, o desenho simples de um artista de olhar muito aguçado para os vazios das imagens que se estabelecem e se cristalizam na regra hegemônica das opressões como a história. Mulambö percebe nesses vazios a forma das peças, como em um jogo de quebra-cabeças, capazes de restituir aos personagens dessa memória outra razão de protagonismo. No desenho em questão, o artista prescreve roupa, armas e adornos que, talvez, muitos de nós já havíamos sentido diante da presença de Marielle, mas que sempre nos faltou ver.
Mulambö, João, meu amigo, esse foi o primeiro trabalho seu que eu vi, e nunca mais deixei de acompanhar com expectativa e alegria cada passo que você dá nesse mundão das artes. Você em “Força da Natureza” vestiu Marielle com as roupas e as armas de Iansã e, com isso, nos trouxe ainda mais forte a ideia do poder de frutificação dessa nobre vida de lutas, sobretudo onde o território é o do indizível e onde o ciclo vida e morte é indivisível. Para muito além da ausência, esse seu trabalho me organiza o entendimento sobre a força do encanto e da continuidade.
Nesse mês de março completamos três anos sem respostas mais conclusivas sobre o brutal assassinato da vereadora. Três anos de desamparo político sobre os rumos democráticos de nossos poderes. Três anos de ausências e retrocessos. Três anos de mobilizações e promessas. Três anos de perguntas suspensas. Três anos que Marielle virou uma das mais fortes ideias de representatividade política em todo o país. Três anos que a potência Marielle se tornou a bandeira mais brandida de uma nação em profunda redefinição identitária. Três anos e eu não poderia deixar de retomar essa imagem produzida por Mulambö, porque dela eu pude retirar muita esperança num momento em que eu e todos ao meu redor estávamos reféns do medo e compartilhávamos da mesma dor. Esse trabalho me ajudou a entender que a Marielle estará sempre presente em nossa luta, ainda que não possamos mais avistá-la, como era de costume, nas ruas, nas frentes de batalhas do dia-a-dia.
Roupa, armas e adornos forjados por Mulambö no invisível de uma imagem, mas o que será que essa roupagem de Orixá desenhada pelo artista pode nos dizer sobre o caminhar solene que Marielle prescreve da Câmara para a rua divisada por policiais? Talvez consigamos coletar mais maneiras de olhar para essa imagem simplesmente ouvindo algumas músicas e pontos dedicados a Iansã[2], Orixá que Mulambö sobrepõe na imagem, prestando bastante atenção a suas letras. Recorro, com alguma frequência, às letras das canções para pensar e repensar tudo aquilo que me circunda, pois acredito que passam pela poesia as tais nuances do invisível, do indizível, que Mulambö atina e que só somos capazes de sentir brevemente nas coisas. Além do mais, nada mais honesto para pensar a poética de Mulambö, que também tem sua pesquisa bastante influenciada pela música, do que construir uma trilha sonora para ouvir enquanto vê, diluindo as próprias noções de ver e ouvir, para, assim, tentar reelaborar as relações que construímos num primeiro momento com esse trabalho.
Mulambö pôs na mão esquerda de Marielle seu eruexim, ou irukerê, instrumento sagrado de Iansã, semelhante a um rabo de animal, com o qual ela lida e controla os eguns, espíritos ancestrais desencarnados e Marielle é também a força desse domínio quanto à ancestralidade negra. Aquele reconhecimento estranho que se avultava para mim, quando sua campanha caminhava, também era um reconhecimento de ordem ancestral, um reconhecimento de um parentesco perdido pela violência da escravização de nossos antepassados e dos reflexos que vivemos até hoje dessa história. Era o reconhecimento que ressoa no pendão das matriarcas negras. Ela é minha tia, ela é minha avó e ela é minha irmã. Em dias atuais, sobretudo em alguns países da África Central, carregar um eruexim é sinônimo de nobreza e status, o que solidifica ainda mais a coerência de este instrumento estar nas mãos da vereadora que, sem sombra de dúvida, figura entre as mais altas patentes de nossa cultura de luta e resistência.
Na mão direita de Marielle está postada a sua espada. É o símbolo de sua luta e a marca distintiva de sua caminhada. Com essa arma ela abre caminhos e, ao mesmo tempo, segue a batalha. De alguma maneira eu consigo imaginar a espada afiada de Iansã com a palavra categórica de Marielle quando discursava e, seguindo essa analogia, imagino também o poder do eruexim de Iansã, com a ancestralidade evidenciada pela própria presença marcante de Marielle.
A eparrei ela é Oyá, ela é Oyá
A eparrei é Iansã, é Iansã
A eparrei
Quando Iansã vai pra batalha
Todos os cavaleiros param
Só pra ver ela passar
“Ela é Oyá”, Ponto de Iansã de Sandro Luiz
Quando Marielle Franco despontou como candidata a vereadora, eu soube de pronto que ela seria avassaladora como um fenômeno da natureza; eu soube que ela seria vasta como o vento e soube que ela seria crítica como o raio. E, mesmo à distância, acompanhei sua campanha, fazendo a minha própria, de modo pessoal quando revelava o meu voto sempre que era possível a qualquer pessoa que me perguntasse, “Eu vou votar na Marielle!”, não havia segredo nisso, era um voto aberto. Eu agia naquele momento com a certeza inquebrantável de quem estava assistindo uma guerreira se apresentar para comandar nossas batalhas. Ao mesmo tempo, eu percebia que outras pessoas que, assim como eu, não a conheciam de perto, também reconheciam essa força que vinha dela. Um reconhecimento diferente, uma coisa que era impossível descrever e que agora percebo que talvez fosse um reconhecimento desse poder invisível tornado visível por Mulambö.
Não à toa Marielle foi recordista de votos em sua primeira participação em uma eleição, sendo, com 46 mil votos, a segunda mulher mais bem votada em uma campanha com poucos recursos e que, em muito se pautou pela velha dinâmica do contato boca-a-boca. De qualquer maneira, sem sequer suspeitar da minha singela campanha pessoal, Marielle foi pra batalha e sua voz, seu discurso, suas palavras eram as armas de que dispunha para enfrentar toda a sorte de conservadores que enxergavam nela, e em tudo o que a presença dela representa, a sua algoz. Mas, tanto aqueles que lhe faziam oposição, quanto àqueles que lhe eram parceiros de luta, paravam para ver e ouvir Marielle falar. Quando não paravam de imediato, ela se impunha e reestabelecia o respeito. Pois era forte o que falava e a forma como falava sempre muito certeira, segura, não deixava que ninguém a subjugasse com facilidade, como na parte do discurso que fez no dia 8 de março do fatídico ano de 2018, seis dias antes de seu assassinato. Quando, em plena Câmara dos Vereadores, interrompida de sua fala por um manifestante conservador disse: “Não serei interrompida, não aturo interrupção dos vereadores desta casa, não aturarei de um cidadão que vem aqui e não sabe ouvir a posição de uma mulher eleita Presidente da Comissão da Mulher nesta Casa.” e reestabeleceu a ordem de sua presença. Era como se a sua fala recolocasse cada sujeito em conflito com ela em sua dimensão de insignificância, para, então, se recolocar.
Obviamente recaiam sobre Marielle as mais obscuras formas de preconceito existentes em nossa sociedade. Quer sejam quanto a sua raça e cor, ou quanto a sua origem, ou ainda quer sejam quanto ao seu gênero e sexualidade. Marielle abria com sua entrada, aos poucos, com seus projetos e sua forma de apresentá-los bem como com seus discursos incisivos, como que a golpes de facão em densa mata, um caminho em meio a uma estrutura política grosseiramente racista, misógina e homofóbica. Mas o caminho que por ela foi aberto agora é conservado e expandido por outras guerreiras da mesma falange e que despontaram com bravura justamente ao caminharem com e por Marielle, trilhas em que vencer demandas é a única forma.
Eparrei, Iansã, ilumine o dia de amanhã,
A tarde desceu mais cedo,
Quando da taça bebeu
Na caminhada, trovejou mas não choveu.
“O Bailar dos ventos. Relampejou, mas não choveu”, Acadêmicos do Salgueiro 1980: Zé Di, Zuzuca, Edinho, Haydée, Moacir Arantes e Pompeu
Nessa caminhada que se embrenha na floresta do conservadorismo, o céu traz avisos de guerra e de paz. Mas é preciso estar com olhos fustigados para o ver das coisas invisíveis.
A sabedoria de olhar para o céu e compreender a hora exata de voltar para casa. O domínio de ver no céu a rota certa para chegar em seu destino. O ensinamento que se tem ao olhar para o céu e perceber que foi desleixado ao esquecer um guarda-chuva. Ou o simples olhar para o céu e saber que a nuvem é passageira. Tantas coisas o céu pode nos recomendar e nos confessar. Mas nem sempre o que o céu indica de fato se cumpre, às vezes os avisos são somente para nos lembrar do seu poder. Só para nos lembrar que o céu é maior e é uma força maior. Como o trovejar que muito acompanha os ventos de Iansã quando muda o tempo, mas que, nem sempre, cumprem o temporal que anuncia.
Apresentar o poder sem que seja necessário a utilização do mesmo é como um lembrete da pequenez da humanidade diante de fenômenos naturais e místicos. Vestir Marielle de Iansã é também atentar para essa face da política que experimentamos e que necessita muitas vezes parecer forte, apresentando poder sem fazer uso do mesmo como forma de se estabelecer nesse meio que, como já dito, ainda é dominado por uma hegemonia branca, masculina, cis, heterossexual e rica. Em outras palavras, aparentar ser aguerrida, trovejar e não chover, em alguns momentos, é a única forma de se conseguir impor respeito diante de pessoas que, de antemão, menosprezam a aridez de sua caminhada.
Não haveria motivos pra gente desanimar
Se houvesse remédio pra gente remediar
Já vai longe a procura da cura que vai chegar
Lá no céu de Brasília as estrelas irão cair
E a poeira de tanta sujeira há de subir, Oyá.
“Iansã/Oyá”, Arlindo Cruz e Arlindo Neto
Não deveria ser uma condição, para que outras políticas se apresentem como possibilidade de mudança, que elas tivessem que ser, ou aparentar ser, aguerridas para que só assim detivessem respaldo e atenção das instituições, partidos e outros integrantes da política. No Brasil, no entanto, a forja que sustenta as opressões nos cria como lutadoras e lutadores e, que em muitos momentos precisamos radicalizar em discursos e gestos para que esse imenso grupo de privilegiados tomem nota de que nossa existência e persistência é nossa réplica.
Manter-se com esperanças, na “cura” das nossas doenças sociais e que essa mesma “cura” foi, é e será, tarefa de uma guerreira como Oyá, única capaz sacudir a poeira das velhas políticas e a sujeira dos velhos políticos, não é tão fácil quanto parece. A luta é cheia de medos e descaminhos aporéticos. Mas a lembrança de Marielle por si só restaura nossa armadura contra o desespero, e a imagem de Marielle como Iansã de Mulambö instaura nos inimigos o terror de que responderemos, porque já estamos respondendo.
Rainha dos raios, rainha dos raios, rainha dos raios
Tempo bom, tempo ruim
“Iansã”, Gilberto Gil
Aquela que anuncia a mudança do tempo, ou a mudança dos tempos, a rainha dos raios, está tanto no tempo bom, quanto no tempo ruim. É quem coordena os eguns, portanto, está tanto na memória quanto no esquecimento. E é quem faz a transição de quem falece sobre a terra, logo, está tanto na morte quanto na vida. É presença sempre, nunca bipartida. É o que ganhamos e o que perdemos ao continuar.
O tempo mudou! Fez o céu brilhar
O Sol e a Lua irradiam energia
Para renovar
Que renasça o amor e fortaleça a fé
Pois Iansã está soprando pelo mundo
Um vendaval de Axé!
“A guerreira vai reinar”, Ponto de Iansã de Sandro Luiz
Um vendaval de Axé, Marielle se fez semente no peito de muitas outras mulheres pretas que aceitaram a missão de guerrear na frente politica por uma sociedade mais justa e respeitadora da diversidade que é toda a nossa riqueza. Ultrapassando a barreira da vida, como que renascendo todo dia em cada uma das guerreiras que se levantam contra as conservas autoritárias da hegemonia. Renasce como amor aos oprimidos, fortalecendo a fé de que a luta contra as opressões é a única digna em um caminho contínuo de renovações.
Mulambö, ao vestir Marielle de Iansã, demonstrou que tudo o que se move no invisível demove a visão de sua predominância sobre os demais sentidos, escancarando a existência de mil outras batalhas em outros planos, em outros ditos, ajudando a soprar pelo mundo a esperança que Marielle simboliza de que toda essa luta há de nos apresentará a novidade.
Salve Mulambö!
Marielle vive!
Epahei, Oyá!
NOTAS
[1] Título do trabalho de 2018 do artista Mulambö e referência à Iansã
[2] Iansã é um título que Oyá ganha de Xangô. Iansã quer dizer A mãe do céu rosado ou A mãe do entardecer. Ele a chamava dessa maneira, pois ela era radiante como só o entardecer pode ser.
Publicado na revista Palavra Solta em Março, 2021.