A ideia de que a História “facsimiliza-se” em cada indivíduo está presente nos trabalhos que compõem a exposição símile-fac.
No título, a inversão de fac-símile, que significa em latim “fazer igual”, subverte a ordem entre as duas palavras que formam o termo, referindo-se a uma possível mudança de ordem e hierarquia entre o original e a cópia, passado e presente. Admitindo a cultura, os livros e o ensino como algumas das vias pelas quais a História passa pelo indivíduo, a série Didática de ensino para si mesmo (in progress) (2011) faz uso de materiais impressos como livros técnicos, postais e cadernos para compor pôsteres que ressignificam termos como auteridade, utopia, distopia, dia-a-dia, ponto de fuga, entre outros. Cada poster é como um mapa que propõe um significado aleatório, clandestino e pessoal para termos precisos e socialmente constituídos.
A escola também está presente na obra que dá nome à exposição, símile-fac (2012). Neste trabalho, algumas páginas de um caderno preenchido na década de 1960, encontrado em um mercado de pulgas, são “facsimilizadas” numa lousa onde o texto é copiado com giz. Esta instalação inverte a ordem natural na qual o aluno copia o que está na lousa, para a lousa que copia o que está no caderno, mais uma vez quebrando a hierarquia entre cópia e original, particular e público. O texto em francês, copiado na lousa, fala sobre informática e computadores, o que é de se estranhar já que o caderno é visivelmente antigo. Num trecho, o texto prevê que no mundo haverá, em 1975, 110 mil computadores.
36 (2011) trata-se de um jornal que será distribuído na exposição. Sua capa reproduz a revista Manchete que, na época, anunciou o golpe de 1964 no Brasil. No interior do jornal, há a reprodução da primeira reportagem que saiu na grande imprensa brasileira sobre o Tropicalismo, na revista O Cruzeiro de abril de 1968. Margeando os fac-símiles históricos, há um texto em primeira pessoa, de alguém que se sente transpassado pela História e, ao mesmo tempo, gostaria de estar à margem dela.
Projeção (2012) é uma instalação feita com quinze filmes 8 mm pornográficos dos anos 1970. Os filmes são empilhados junto à parede, sem iluminação direta. A impossibilidade de assisti-los, fazendo deles um objeto e não mais o devir da projeção, comenta o fato das técnicas tenderem a serem superadas e extintas, enquanto que assuntos e temas atravessam épocas. Como no caso da pornografia, que veio da pintura grega, passou pela fotografia, cinema e hoje está na internet.
Paisinho (2012) é a apropriação de uma lata com água potável para náufragos, produzida pela Marinha brasileira no início dos anos 1970. As informações do rótulo aludem à segurança, à ordem, às regras, à hierarquia e à possibilidade de um estado de exceção, o que coincide com a ditadura no país, na época em que a lata foi fabricada, mas também a ideias básicas do que se chama de nação. O título, diminutivo de país, refere-se ao pedaço real de país, contido na lata. Também faz um trocadilho com a palavra “pai”, que apesar de ter o diminutivo escrito com “z”, pode confundir-se com o diminutivo de “país”, num lapso de leitura. Além da história política, Paisinho também é uma referência à história da arte, pois reafirma a possibilidade do ready-made duchampiano ainda em 2012, e faz referência às sopas Campbells de Andy Warhol e à merda de artista de Piero Manzoni, ambas bem próximas à época em que a lata de água foi produzida pela Marinha brasileira.
Em Antilla (2011) também há o cruzamento da história política com a história da arte. A obra é formada por 42 posteres feitos a partir de mapas fotografados do Atlas de Cuba, editado em 1978 pelo governo cubano em homenagem ao 20° aniversário da revolução.
Cada mapa tem um tema, como Físico, Geologia, Chuvas, População Economicamente Ativa, Fatos Políticos, Colonização etc. As imagens foram feitas como se os mapas fossem paisagens fotografadas de um ângulo aéreo, e esse sobrevoo é reproduzido na configuração circular da instalação, como um voo de reconhecimento. Esta configuração se refere também a forma clássica das land art dos anos 1970, que usavam fragmentos de paisagem natural — pedras, terra, gravetos etc —, enquanto que Antilla é formada por fragmentos de representação de paisagem: os mapas.
A maioria dos trabalhos da exposição símile-fac se apropria de materiais, fatos, referências e imagens do período entre 1960-1970, época na qual se convencionou localizar o início do pós-modernismo. É também o período pelo qual Fabio Morais acredita que seu presente pessoal está historicamente mais contaminado.
A ideia de que a História “facsimiliza-se” em cada indivíduo está presente nos trabalhos que compõem a exposição símile-fac.
No título, a inversão de fac-símile, que significa em latim “fazer igual”, subverte a ordem entre as duas palavras que formam o termo, referindo-se a uma possível mudança de ordem e hierarquia entre o original e a cópia, passado e presente. Admitindo a cultura, os livros e o ensino como algumas das vias pelas quais a História passa pelo indivíduo, a série Didática de ensino para si mesmo (in progress) (2011) faz uso de materiais impressos como livros técnicos, postais e cadernos para compor pôsteres que ressignificam termos como auteridade, utopia, distopia, dia-a-dia, ponto de fuga, entre outros. Cada poster é como um mapa que propõe um significado aleatório, clandestino e pessoal para termos precisos e socialmente constituídos.
A escola também está presente na obra que dá nome à exposição, símile-fac (2012). Neste trabalho, algumas páginas de um caderno preenchido na década de 1960, encontrado em um mercado de pulgas, são “facsimilizadas” numa lousa onde o texto é copiado com giz. Esta instalação inverte a ordem natural na qual o aluno copia o que está na lousa, para a lousa que copia o que está no caderno, mais uma vez quebrando a hierarquia entre cópia e original, particular e público. O texto em francês, copiado na lousa, fala sobre informática e computadores, o que é de se estranhar já que o caderno é visivelmente antigo. Num trecho, o texto prevê que no mundo haverá, em 1975, 110 mil computadores.
36 (2011) trata-se de um jornal que será distribuído na exposição. Sua capa reproduz a revista Manchete que, na época, anunciou o golpe de 1964 no Brasil. No interior do jornal, há a reprodução da primeira reportagem que saiu na grande imprensa brasileira sobre o Tropicalismo, na revista O Cruzeiro de abril de 1968. Margeando os fac-símiles históricos, há um texto em primeira pessoa, de alguém que se sente transpassado pela História e, ao mesmo tempo, gostaria de estar à margem dela.
Projeção (2012) é uma instalação feita com quinze filmes 8 mm pornográficos dos anos 1970. Os filmes são empilhados junto à parede, sem iluminação direta. A impossibilidade de assisti-los, fazendo deles um objeto e não mais o devir da projeção, comenta o fato das técnicas tenderem a serem superadas e extintas, enquanto que assuntos e temas atravessam épocas. Como no caso da pornografia, que veio da pintura grega, passou pela fotografia, cinema e hoje está na internet.
Paisinho (2012) é a apropriação de uma lata com água potável para náufragos, produzida pela Marinha brasileira no início dos anos 1970. As informações do rótulo aludem à segurança, à ordem, às regras, à hierarquia e à possibilidade de um estado de exceção, o que coincide com a ditadura no país, na época em que a lata foi fabricada, mas também a ideias básicas do que se chama de nação. O título, diminutivo de país, refere-se ao pedaço real de país, contido na lata. Também faz um trocadilho com a palavra “pai”, que apesar de ter o diminutivo escrito com “z”, pode confundir-se com o diminutivo de “país”, num lapso de leitura. Além da história política, Paisinho também é uma referência à história da arte, pois reafirma a possibilidade do ready-made duchampiano ainda em 2012, e faz referência às sopas Campbells de Andy Warhol e à merda de artista de Piero Manzoni, ambas bem próximas à época em que a lata de água foi produzida pela Marinha brasileira.
Em Antilla (2011) também há o cruzamento da história política com a história da arte. A obra é formada por 42 posteres feitos a partir de mapas fotografados do Atlas de Cuba, editado em 1978 pelo governo cubano em homenagem ao 20° aniversário da revolução.
Cada mapa tem um tema, como Físico, Geologia, Chuvas, População Economicamente Ativa, Fatos Políticos, Colonização etc. As imagens foram feitas como se os mapas fossem paisagens fotografadas de um ângulo aéreo, e esse sobrevoo é reproduzido na configuração circular da instalação, como um voo de reconhecimento. Esta configuração se refere também a forma clássica das land art dos anos 1970, que usavam fragmentos de paisagem natural — pedras, terra, gravetos etc —, enquanto que Antilla é formada por fragmentos de representação de paisagem: os mapas.
A maioria dos trabalhos da exposição símile-fac se apropria de materiais, fatos, referências e imagens do período entre 1960-1970, época na qual se convencionou localizar o início do pós-modernismo. É também o período pelo qual Fabio Morais acredita que seu presente pessoal está historicamente mais contaminado.
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