Em 2001, Carmela Gross foi convidada para fazer parte de um projeto educativo criado pelo Sesc/Senac para a televisão. Tratava-se de um programa composto por uma série de visitas a ateliês de artistas com o intuito de revelar a rotina desses espaços.
Na mesma época, projetos semelhantes foram desenvolvidos por outras instituições com foco em linguagens como a dança e o teatro, e também pretendiam aproximar o público do universo criativo do artista.
Para Carmela, a proposta soou como “uma encenação do fazer artístico”, onde o artista “apareceria como falso personagem de si mesmo”. A constatação torna-se bastante compreensível em se tratando de uma artista que mantêm uma rotina diária de trabalho em ateliê desde os anos 1960, quando suas obras começaram a ser expostas com regularidade.
Inconformada, a contraproposta de Carmela foi criar uma situação em que fosse possível documentar um “trabalho de verdade” que mostrasse sua prática “em tempo real, abrangendo perguntas, erros e acertos, desvios e improvisações.”
Foi assim que surgiu a primeira versão de “Escuta”. Para cria-la, Carmela e três assistentes revestiram inteiramente o espaço interno do ateliê com papel kraft. Após três dias de montagem acompanhados por uma câmera de vídeo, o ateliê se transformou em uma “cápsula ocre, iluminada pela luz filtrada das janelas e claraboias…; quase uma paisagem de desertos, montanhas e cordilheiras imaginárias”.
Escuta surge do desejo de Carmela de subverter uma demanda externa, uma fetichização do fazer artístico. Seu corpo então se insurge e, numa performance de longa duração, assume a atitude de revelar por meio do encobrimento o universo privado do seu ateliê. O desafio foi apontar para uma forma de visibilidade que superasse a dicotomia entre a ação/acontecimento e o espaço construído.
Se a proposta inicial do projeto era substituir a quarta parede do seu ateliê por uma câmera, a artista a subverte e transforma o espaço em um enigma, constituído por um conjunto imbricado de escolhas pragmáticas e conceituais, e por relações de troca com seus colaboradores.
À proposta inicial de comunicação de massa, Carmela responde com uma ação de mão dupla – constante e passageira, e cuja recepção é sempre relativa: escute para ver, veja para escutar.
“Escuta III” (2020), de Carmela Gross com a colaboração de Abraão Reis, Carolina Caliento, Fabio Audi e Osmar Zampieri, integra o programa da Galeria Vermelho “aqui, daqui”, criado para o período de distanciamento social.
Em 2001, Carmela Gross foi convidada para fazer parte de um projeto educativo criado pelo Sesc/Senac para a televisão. Tratava-se de um programa composto por uma série de visitas a ateliês de artistas com o intuito de revelar a rotina desses espaços.
Na mesma época, projetos semelhantes foram desenvolvidos por outras instituições com foco em linguagens como a dança e o teatro, e também pretendiam aproximar o público do universo criativo do artista.
Para Carmela, a proposta soou como “uma encenação do fazer artístico”, onde o artista “apareceria como falso personagem de si mesmo”. A constatação torna-se bastante compreensível em se tratando de uma artista que mantêm uma rotina diária de trabalho em ateliê desde os anos 1960, quando suas obras começaram a ser expostas com regularidade.
Inconformada, a contraproposta de Carmela foi criar uma situação em que fosse possível documentar um “trabalho de verdade” que mostrasse sua prática “em tempo real, abrangendo perguntas, erros e acertos, desvios e improvisações.”
Foi assim que surgiu a primeira versão de “Escuta”. Para cria-la, Carmela e três assistentes revestiram inteiramente o espaço interno do ateliê com papel kraft. Após três dias de montagem acompanhados por uma câmera de vídeo, o ateliê se transformou em uma “cápsula ocre, iluminada pela luz filtrada das janelas e claraboias…; quase uma paisagem de desertos, montanhas e cordilheiras imaginárias”.
Escuta surge do desejo de Carmela de subverter uma demanda externa, uma fetichização do fazer artístico. Seu corpo então se insurge e, numa performance de longa duração, assume a atitude de revelar por meio do encobrimento o universo privado do seu ateliê. O desafio foi apontar para uma forma de visibilidade que superasse a dicotomia entre a ação/acontecimento e o espaço construído.
Se a proposta inicial do projeto era substituir a quarta parede do seu ateliê por uma câmera, a artista a subverte e transforma o espaço em um enigma, constituído por um conjunto imbricado de escolhas pragmáticas e conceituais, e por relações de troca com seus colaboradores.
À proposta inicial de comunicação de massa, Carmela responde com uma ação de mão dupla – constante e passageira, e cuja recepção é sempre relativa: escute para ver, veja para escutar.
“Escuta III” (2020), de Carmela Gross com a colaboração de Abraão Reis, Carolina Caliento, Fabio Audi e Osmar Zampieri, integra o programa da Galeria Vermelho “aqui, daqui”, criado para o período de distanciamento social.