A galeria Vermelho apresenta, de 18 de setembro a 11 de outubro de 2007, as exposições individuais Le désespoir du singe de Manuela Marques e Araucária Angustifólia de Gabriela Albergaria.
Embora vivendo em cidades diferentes, Marques (Paris) e Albergaria (Berlim e Lisboa) encontraram formas de estabelecer um diálogo entre as duas individuais que apresentam na Vermelho, sem, entretanto, descaracterizar suas pesquisas pessoais. Não houve uma divisão espacial estabelecida. Há trabalhos de Marques que aparecem junto às obras de Albergaria e vice-versa estabelecendo um diálogo entre as fotografias da primeira e as instalações da segunda.
Manuela Marques elaborou a exposição a partir de uma única imagem, a de um macaco que a artista intitulou de “Le désespoir du singe”. Esse é o nome dado, no francês coloquial, à araucária (araucária angustifolia). É sobre a idéia do retrato e da paisagem que se articula o conjunto de imagens apresentadas na individual.
Distinta da série vista na exposição “Hora Aberta”, em 2004, a primeira da artista na Vermelho, quando apresentou fotografias, em grandes dimensões que abordavam a idéia de suspensão, agora os personagens retratados por Marques exprimem retração e concentração sobre si mesmos, evocando o movimento centrífugo do mundo. As fotografias de paisagens (vegetais, água, terra…), por outro lado, remetem a uma idéia de expansão, contrária à serie anterior, colonizando, com esse movimento, a totalidade da superfície fotográfica. Embora polifônicas, as dez imagens que compõem a exposição criam um diálogo entre dois antagonismos, ou seja, entre os movimentos de contenção e de expansão. A imagem que estabelece o elo de ligação é a de um homem jovem caminhando e se imbricando no mundo vegetal.
Usando meios simples e, às vezes, extremamente reduzidos, a maior parte dos trabalhos de Marques têm a capacidade de revelar uma presença potente e inquieta, como se exageradamente interiorizadas, sem que se saiba, no final, do que tratam verdadeiramente. Entretanto, há sempre um assunto por mais íntimo ou imperceptível que seja. Para Marques, não é tanto a restituição de um traço ou a captação do real que importa, procedimento latente em toda a fotografia. A artista lida com a fotografia como um estar no mundo de forma recolhida, muda, que não se revela imediatamente, mas que, entretanto, não o ignora, mantendo-o à margem para revelar sua essência.
Já Gabriela Albergaria, para essa exposição, usou o Parque Nacional do Buçaco, localizado no centro de Portugal, como um dos locais pesquisados por ser um dos primeiros sítios de aclimatação de plantas vindas das colônias portuguesas. Lá, a artista encontrou a “Araucária Angustifólia”, árvore que inspirou a criação do políptico que dá título à mostra, um desenho a lápis composto por dez partes. O trabalho sobre a flora tropical desenvolvido pelo paisagista Burle Marx também influenciou sua pesquisa e aparece materializado na grande instalação que ocupa, junto às fotografias e aos desenhos, o andar térreo da galeria. Nele, pedaços de árvores distintas, originárias ou não do Brasil, são enxertados criando um único tronco de aproximadamente 6 metros que ocupa o espaço. Os troncos de árvores utilizados foram podadas pelo departamento de parques e jardins da Prefeitura de São Paulo e cedidos à artista.
Durante os últimos anos, Albergaria desenvolve uma pesquisa que tem a história dos jardins como ponto de partida para intervenções que se desdobram em fotografias, desenhos, esculturas e instalações. Nesse sentido, a colonização das plantas em território adverso, como metáfora de uma idéia de desenvolvimento social e de evolução, norteou as investigações da artista na criação das obras que compõem sua primeira exposição individual no Brasil.
Dentro da trajetória artística de Albergaria, um momento particularmente representativo foi a residência realizada, em 2000, no Kunstkerhaus Bethanien, em Berlim. Lá, a artista desenvolveu seus primeiros modelos de jardins criados a partir de memórias de sua infância, que pretendiam evocar no observador uma percepção infantil sobre a paisagem. Posteriormente, essa idéia se transformou e a configuração dos jardins se transformou em um instrumento, em um sintoma de uma certa forma de observar o mundo. Em seus estudos, Albergaria percebeu que, na Europa Pós-Renascentista, a configuração dos jardins refletia características do pensamento racionalista. Portanto, de uma forma de estar no mundo.
A galeria Vermelho apresenta, de 18 de setembro a 11 de outubro de 2007, as exposições individuais Le désespoir du singe de Manuela Marques e Araucária Angustifólia de Gabriela Albergaria.
Embora vivendo em cidades diferentes, Marques (Paris) e Albergaria (Berlim e Lisboa) encontraram formas de estabelecer um diálogo entre as duas individuais que apresentam na Vermelho, sem, entretanto, descaracterizar suas pesquisas pessoais. Não houve uma divisão espacial estabelecida. Há trabalhos de Marques que aparecem junto às obras de Albergaria e vice-versa estabelecendo um diálogo entre as fotografias da primeira e as instalações da segunda.
Manuela Marques elaborou a exposição a partir de uma única imagem, a de um macaco que a artista intitulou de “Le désespoir du singe”. Esse é o nome dado, no francês coloquial, à araucária (araucária angustifolia). É sobre a idéia do retrato e da paisagem que se articula o conjunto de imagens apresentadas na individual.
Distinta da série vista na exposição “Hora Aberta”, em 2004, a primeira da artista na Vermelho, quando apresentou fotografias, em grandes dimensões que abordavam a idéia de suspensão, agora os personagens retratados por Marques exprimem retração e concentração sobre si mesmos, evocando o movimento centrífugo do mundo. As fotografias de paisagens (vegetais, água, terra…), por outro lado, remetem a uma idéia de expansão, contrária à serie anterior, colonizando, com esse movimento, a totalidade da superfície fotográfica. Embora polifônicas, as dez imagens que compõem a exposição criam um diálogo entre dois antagonismos, ou seja, entre os movimentos de contenção e de expansão. A imagem que estabelece o elo de ligação é a de um homem jovem caminhando e se imbricando no mundo vegetal.
Usando meios simples e, às vezes, extremamente reduzidos, a maior parte dos trabalhos de Marques têm a capacidade de revelar uma presença potente e inquieta, como se exageradamente interiorizadas, sem que se saiba, no final, do que tratam verdadeiramente. Entretanto, há sempre um assunto por mais íntimo ou imperceptível que seja. Para Marques, não é tanto a restituição de um traço ou a captação do real que importa, procedimento latente em toda a fotografia. A artista lida com a fotografia como um estar no mundo de forma recolhida, muda, que não se revela imediatamente, mas que, entretanto, não o ignora, mantendo-o à margem para revelar sua essência.
Já Gabriela Albergaria, para essa exposição, usou o Parque Nacional do Buçaco, localizado no centro de Portugal, como um dos locais pesquisados por ser um dos primeiros sítios de aclimatação de plantas vindas das colônias portuguesas. Lá, a artista encontrou a “Araucária Angustifólia”, árvore que inspirou a criação do políptico que dá título à mostra, um desenho a lápis composto por dez partes. O trabalho sobre a flora tropical desenvolvido pelo paisagista Burle Marx também influenciou sua pesquisa e aparece materializado na grande instalação que ocupa, junto às fotografias e aos desenhos, o andar térreo da galeria. Nele, pedaços de árvores distintas, originárias ou não do Brasil, são enxertados criando um único tronco de aproximadamente 6 metros que ocupa o espaço. Os troncos de árvores utilizados foram podadas pelo departamento de parques e jardins da Prefeitura de São Paulo e cedidos à artista.
Durante os últimos anos, Albergaria desenvolve uma pesquisa que tem a história dos jardins como ponto de partida para intervenções que se desdobram em fotografias, desenhos, esculturas e instalações. Nesse sentido, a colonização das plantas em território adverso, como metáfora de uma idéia de desenvolvimento social e de evolução, norteou as investigações da artista na criação das obras que compõem sua primeira exposição individual no Brasil.
Dentro da trajetória artística de Albergaria, um momento particularmente representativo foi a residência realizada, em 2000, no Kunstkerhaus Bethanien, em Berlim. Lá, a artista desenvolveu seus primeiros modelos de jardins criados a partir de memórias de sua infância, que pretendiam evocar no observador uma percepção infantil sobre a paisagem. Posteriormente, essa idéia se transformou e a configuração dos jardins se transformou em um instrumento, em um sintoma de uma certa forma de observar o mundo. Em seus estudos, Albergaria percebeu que, na Europa Pós-Renascentista, a configuração dos jardins refletia características do pensamento racionalista. Portanto, de uma forma de estar no mundo.