Marilá Dardot ocupa a fachada e o prédio principal da Vermelho com ainda sempre ainda, sua 9ª individual na galeria. A exposição de Dardot na Vermelho tem texto da psicanalista e crítica de arte Bianca Dias (integralmente disponível na primeira imagem dessa sequência).
O trabalho de Marilá Dardot atravessa, entre outros pontos, a memória constituída pela cultura. Desde os trabalhos que lidam com livros, literatura e linguagem, até aqueles que tratam de temas apagados da história por posições políticas, censura, gênero ou pela eliminação da memória pelo tempo.
Desde 2016, Dardot tem constituído um grupo de trabalhos a partir da observação de repetições históricas que passam por recorrências, sobreposições ou pela efemeridade das notícias. Em ainda sempre ainda, Dardot cria na fachada da Vermelho, uma pintura que monumentaliza as palavras AINDA e SEMPRE enquanto uma sobreposição de sentidos por via de um jogo semântico. Os dois advérbios têm o poder de modificar frases e sentidos, mas, desprovidos de verbos, permanecem estagnados.
Marilá Dardot ocupa a fachada e o prédio principal da Vermelho com ainda sempre ainda, sua 9ª individual na galeria. A exposição de Dardot na Vermelho tem texto da psicanalista e crítica de arte Bianca Dias (integralmente disponível na primeira imagem dessa sequência).
O trabalho de Marilá Dardot atravessa, entre outros pontos, a memória constituída pela cultura. Desde os trabalhos que lidam com livros, literatura e linguagem, até aqueles que tratam de temas apagados da história por posições políticas, censura, gênero ou pela eliminação da memória pelo tempo.
Desde 2016, Dardot tem constituído um grupo de trabalhos a partir da observação de repetições históricas que passam por recorrências, sobreposições ou pela efemeridade das notícias. Em ainda sempre ainda, Dardot cria na fachada da Vermelho, uma pintura que monumentaliza as palavras AINDA e SEMPRE enquanto uma sobreposição de sentidos por via de um jogo semântico. Os dois advérbios têm o poder de modificar frases e sentidos, mas, desprovidos de verbos, permanecem estagnados.
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Foto Filipe Berndt
O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. Ainda sempre ainda é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem.
Em Linha do tempo outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em Diante do tempo: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político.
Em Palavra figura de espanto capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais.
Em Modelo para armar, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento.
Em Ações do mundo, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo.
No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em O Brasil o Brasil” Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em Linha do tempo, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo.
A série Libros Y nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação.
Domine seu idioma, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa.
Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”.
Ainda, sempre, ainda.
Bianca Coutinho Dias
Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).[:en]ainda, sempre, ainda [still, ever, still]: rewriting a cartography, transliterating the word.
The temporal inflection in the exhibition title invokes, at once, the labor of memory. In between figure and ground, clarity and opacity, Marilá Dardot’s gesture is one Walter Benjamin described: “It is about appropriating something dangerous, which clamors to repeat itself with violence.” The strength of this artist-like act of reconfiguring the world and time is precisely where repetition can take on new historical and poetical meanings.
The work of Marilá Dardot has always been connected to the sheen of letters, in its direct relationship with literature or its power to capture the semantic games of language. Now, this hallmark folds over, unfurls, duplicates, amalgamates discourses in a labyrinthine construct that lends a voice to the ambiguity of the word and harbors a ceaseless emanation that strives for the unutterable that inhabits language. There is also the sensibility that delves into themes erased from history, repeated words which take on heteroclite directions and meanings, like the two adverbs chosen – still and ever. Together and in a way juxtaposed, they function as a glimpse into the enigma and a way to work around the imposture of language.
Ainda sempre ainda [still ever still] is an exhibit underpinned from its entrance on in by a state of loss, a relationship of crisis with language.
In Linha do tempo [Timeline], another fold takes place: adverbs clipped from magazines published in Brazil since 1973 – the artist’s year of birth – and pasted on a surface create a timeline that projects the possibility of another passage, that trickles down amidst the words, a curve that scrambles up past, present and future. The questions therein delve deeper into the discussion ushered in by Georges Didi-Huberman in Before time: the realm of a complex, diffuse temporality. He argues that the thinking of Walter Benjamin, which underlies his anachronistic model, suggests that all historical narratives are composed of an assembly of heterogeneous elements. In Benjaminian terms, there is a currency to the past as seen through images. In the timeline Marilá Dardot creates, what comes into play is precisely the immoderateness of this impossibility, a wager on the minor revolution wrought by the dialectic effect that takes place between word and image, supporting enunciation as the last way out of the imaginary and political onslaught.
In Palavra figura de espanto [Word figure of amazement], peeled-off book covers touch the evanescent materiality of word pairs which, in damaged, dusty spots, promote encounters and grooves that outline alternatingly improbable and tense, fluid and harmonic horizons, showcasing the ambiguous, delirious dimension of the word. The amazement in the face of the word – or word itself as a “figure of startlement” – resides in the act of tearing off books’ covers to reveal the pictorial remnants and layers, down to the actual groove created by writing upon the surface: remembrance of the walls of a cave that eventually led us to paper. The artist recognizes that in this journey, an entire trajectory of writing, or of letter, to be more exact: from stylus to quill, from quill to pen, from cursive to block letters, from manuscript to typography and the printing press. As a gesture of resistance, writing survives by welcoming the unsayable and unpronounceable, while also overtaking it with a warehouse’s worth of signs that hails the encounter with other voices and handwritings. Out of so many words – tired and livid, secretive and magical, uttered and held back – a world is forged: from impotence to the impossible, a different map with its marks, stains and coastlines.
In Modelo para armar [Model kit], an installation and collage on cardboard box fragments features nouns cut out from old magazines. The now useless boxes harbor historical, political, affective narratives, and language itself enters the picture to be rearranged and re-signified like projectiles in a symbolic operation. The piece’s title references a book by Julio Cortázar, in which he spins a narrative out of mutable pieces, in an “assembly” where various word displacements set out to purge any fixedness, opening up meanings so the reader can assemble the elements their own way and ultimately write the story themselves.
The work of Marilá Dardot also calls upon us as active readers. Her work is not intended to produce stationary meaning; it does not produce subject-fixating explanations of any sort. Her work is a kind of anchoring that is also adrift and invites the production of new words that may recreate existence, in the very vertigo of unfamiliarity.
In Ações do mundo [Actions of the world], her act of attempting to tear off the covers of books on nations of the world reveals the beauty of map fragments that compose new geographies. The books’ indexes announce chapters that describe countries in nationalist, imperious sentences. A portion of fabric from the cover, folded over, gives the piece its title, subverting the idea of nation into action: nations become the world’s actions, destabilizing the familiar world through inventive handling of language, promoting the mestizaje of heterogenous substances: word and image which, in the strength of a gesture or a fold, reveal that the experience of reinhabiting the body and inhabiting the word can found the world anew.
In that same dialogue, an idea of country gets recreated in O Brasil o Brasil [The Brazil the Brazil].
Invoking the thickness of the word in its apparent simplicity, the words “The Brazil” – also clipped from old magazines – are pasted on a neutral-color surface, yet different colors and typologies come across as an essay of acute political strength. Akin to “Linha do tempo,” a dimension gets turned on its head, and here, as Walter Benjamin put it, “The true picture of the past flits by.” Marilá Dardot incorporates this dimension of time into her own existence: nearly 50 years after her birth and across the history of the country, she makes her work a true relay of experience in what the most singular and personal can say to the collective.
The Libros Y series was born from the sign lettering of a Mexico City publishing house – Libros y Editoriales. The typology and material in the signage were replicated to create other associations, like possible categories in an imaginary library whose books are the catalysts to feelings and actions. The events the book can generate, in the intimate as well as the political spheres, find a new world through words: pleasure, rebellion, subversion, disaster, potencies, transformations or insurrections. The lettering indicates that the rewriting of words that compose history must be done one letter at a time – an adventure which transcends communication and meaning to touch on an inscrutable point: its “contact point with the unknown.”
The experiences that the words in the lettering carry do not target meaning directly, but scurry through the lines which, first and foremost, are bets on the subversion of language and its transfiguring power. Such transfiguring is highlighted by Roland Barthes, who argues: “All poetry, all unconscious is a return to the letter,” an adventure situated at the margins of the purported purposes of language, and precisely for that reason, at the center of its action.
Domine seu idioma [Master your language], a saying the artist found in a dictionary, takes on fresh meaning. Once again, the exploration of letters in their graphical, imagistic aspect opens doors to a dimension of language that will not allow itself to be fixated by any deciphering. A set of piled-up dictionaries with intense chromatic power, representing a paradigm whereby words perpetuate power and privilege, gets reclaimed in an unpredictable future. Words, in turn, will not allow themselves to be easily taken as pieces of a discourse. They glide, creating an ethics that points to the reverse of an imperative order.
In the cracks where poetry can be made, Marilá Dardot reinvents utopia, imbuing it with unique density. To master the language means to be able to move through time and beyond meaning: in other words, to be able to conquer the word, to honor it, to find, on the tip of the tongue, more than the promise or the hope of an ideal place: the tremor that makes us alive and recreates time. As Walter Benjamin admonishes: “To articulate what is past does not mean to recognize how it really was. It means to take control of a memory, as it flashes in a moment of danger.”
still, ever, still
Bianca Coutinho Dias
[:]
Dimensões variáveis
Tinta acrílica sobre parede Foto Filipe Berndt [:pt]A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos.O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. Ainda sempre ainda é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem.
Em Linha do tempo outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em Diante do tempo: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político.
Em Palavra figura de espanto capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais.
Em Modelo para armar, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento.
Em Ações do mundo, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo.
No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em O Brasil o Brasil” Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em Linha do tempo, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo.
A série Libros Y nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação.
Domine seu idioma, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa.
Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”.
Ainda, sempre, ainda.
Bianca Coutinho Dias
Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).[:en]ainda, sempre, ainda [still, ever, still]: rewriting a cartography, transliterating the word.
The temporal inflection in the exhibition title invokes, at once, the labor of memory. In between figure and ground, clarity and opacity, Marilá Dardot’s gesture is one Walter Benjamin described: “It is about appropriating something dangerous, which clamors to repeat itself with violence.” The strength of this artist-like act of reconfiguring the world and time is precisely where repetition can take on new historical and poetical meanings.
The work of Marilá Dardot has always been connected to the sheen of letters, in its direct relationship with literature or its power to capture the semantic games of language. Now, this hallmark folds over, unfurls, duplicates, amalgamates discourses in a labyrinthine construct that lends a voice to the ambiguity of the word and harbors a ceaseless emanation that strives for the unutterable that inhabits language. There is also the sensibility that delves into themes erased from history, repeated words which take on heteroclite directions and meanings, like the two adverbs chosen – still and ever. Together and in a way juxtaposed, they function as a glimpse into the enigma and a way to work around the imposture of language.
Ainda sempre ainda [still ever still] is an exhibit underpinned from its entrance on in by a state of loss, a relationship of crisis with language.
In Linha do tempo [Timeline], another fold takes place: adverbs clipped from magazines published in Brazil since 1973 – the artist’s year of birth – and pasted on a surface create a timeline that projects the possibility of another passage, that trickles down amidst the words, a curve that scrambles up past, present and future. The questions therein delve deeper into the discussion ushered in by Georges Didi-Huberman in Before time: the realm of a complex, diffuse temporality. He argues that the thinking of Walter Benjamin, which underlies his anachronistic model, suggests that all historical narratives are composed of an assembly of heterogeneous elements. In Benjaminian terms, there is a currency to the past as seen through images. In the timeline Marilá Dardot creates, what comes into play is precisely the immoderateness of this impossibility, a wager on the minor revolution wrought by the dialectic effect that takes place between word and image, supporting enunciation as the last way out of the imaginary and political onslaught.
In Palavra figura de espanto [Word figure of amazement], peeled-off book covers touch the evanescent materiality of word pairs which, in damaged, dusty spots, promote encounters and grooves that outline alternatingly improbable and tense, fluid and harmonic horizons, showcasing the ambiguous, delirious dimension of the word. The amazement in the face of the word – or word itself as a “figure of startlement” – resides in the act of tearing off books’ covers to reveal the pictorial remnants and layers, down to the actual groove created by writing upon the surface: remembrance of the walls of a cave that eventually led us to paper. The artist recognizes that in this journey, an entire trajectory of writing, or of letter, to be more exact: from stylus to quill, from quill to pen, from cursive to block letters, from manuscript to typography and the printing press. As a gesture of resistance, writing survives by welcoming the unsayable and unpronounceable, while also overtaking it with a warehouse’s worth of signs that hails the encounter with other voices and handwritings. Out of so many words – tired and livid, secretive and magical, uttered and held back – a world is forged: from impotence to the impossible, a different map with its marks, stains and coastlines.
In Modelo para armar [Model kit], an installation and collage on cardboard box fragments features nouns cut out from old magazines. The now useless boxes harbor historical, political, affective narratives, and language itself enters the picture to be rearranged and re-signified like projectiles in a symbolic operation. The piece’s title references a book by Julio Cortázar, in which he spins a narrative out of mutable pieces, in an “assembly” where various word displacements set out to purge any fixedness, opening up meanings so the reader can assemble the elements their own way and ultimately write the story themselves.
The work of Marilá Dardot also calls upon us as active readers. Her work is not intended to produce stationary meaning; it does not produce subject-fixating explanations of any sort. Her work is a kind of anchoring that is also adrift and invites the production of new words that may recreate existence, in the very vertigo of unfamiliarity.
In Ações do mundo [Actions of the world], her act of attempting to tear off the covers of books on nations of the world reveals the beauty of map fragments that compose new geographies. The books’ indexes announce chapters that describe countries in nationalist, imperious sentences. A portion of fabric from the cover, folded over, gives the piece its title, subverting the idea of nation into action: nations become the world’s actions, destabilizing the familiar world through inventive handling of language, promoting the mestizaje of heterogenous substances: word and image which, in the strength of a gesture or a fold, reveal that the experience of reinhabiting the body and inhabiting the word can found the world anew.
In that same dialogue, an idea of country gets recreated in O Brasil o Brasil [The Brazil the Brazil].
Invoking the thickness of the word in its apparent simplicity, the words “The Brazil” – also clipped from old magazines – are pasted on a neutral-color surface, yet different colors and typologies come across as an essay of acute political strength. Akin to “Linha do tempo,” a dimension gets turned on its head, and here, as Walter Benjamin put it, “The true picture of the past flits by.” Marilá Dardot incorporates this dimension of time into her own existence: nearly 50 years after her birth and across the history of the country, she makes her work a true relay of experience in what the most singular and personal can say to the collective.
The Libros Y series was born from the sign lettering of a Mexico City publishing house – Libros y Editoriales. The typology and material in the signage were replicated to create other associations, like possible categories in an imaginary library whose books are the catalysts to feelings and actions. The events the book can generate, in the intimate as well as the political spheres, find a new world through words: pleasure, rebellion, subversion, disaster, potencies, transformations or insurrections. The lettering indicates that the rewriting of words that compose history must be done one letter at a time – an adventure which transcends communication and meaning to touch on an inscrutable point: its “contact point with the unknown.”
The experiences that the words in the lettering carry do not target meaning directly, but scurry through the lines which, first and foremost, are bets on the subversion of language and its transfiguring power. Such transfiguring is highlighted by Roland Barthes, who argues: “All poetry, all unconscious is a return to the letter,” an adventure situated at the margins of the purported purposes of language, and precisely for that reason, at the center of its action.
Domine seu idioma [Master your language], a saying the artist found in a dictionary, takes on fresh meaning. Once again, the exploration of letters in their graphical, imagistic aspect opens doors to a dimension of language that will not allow itself to be fixated by any deciphering. A set of piled-up dictionaries with intense chromatic power, representing a paradigm whereby words perpetuate power and privilege, gets reclaimed in an unpredictable future. Words, in turn, will not allow themselves to be easily taken as pieces of a discourse. They glide, creating an ethics that points to the reverse of an imperative order.
In the cracks where poetry can be made, Marilá Dardot reinvents utopia, imbuing it with unique density. To master the language means to be able to move through time and beyond meaning: in other words, to be able to conquer the word, to honor it, to find, on the tip of the tongue, more than the promise or the hope of an ideal place: the tremor that makes us alive and recreates time. As Walter Benjamin admonishes: “To articulate what is past does not mean to recognize how it really was. It means to take control of a memory, as it flashes in a moment of danger.”
still, ever, still
Bianca Coutinho Dias
[:]
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
5 x 320 cm
Colagens sobre placa de ACM Foto Filipe Berndt [:pt]Advérbios cortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano de nascimento da artista) são colados em uma superfície de cor neutra, formando uma linha do tempo desgovernada.[:en]Adverbs cut from magazines published in Brazil since 1973 (the artist's year of birth) are pasted onto a neutral colored surface, forming an unruly timeline.[:]Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
27 x 189 cm
Capas de livros descascadas e Letraset Foto Filipe BerndtCapas de livros descascadas e Letraset
Foto Filipe Berndt
26 x 196 cm
Capas de livros descascadas e Letraset
Foto Filipe BerndtCapas de livros descascadas e Letraset
Foto Filipe Berndt
26 x 191 cm
Capas de livros descascadas e Letraset
Foto Filipe BerndtFoto Filipe Berndt
26,5 x 187 cm
Capas de livros descascadas e Letraset Foto Filipe BerndtFoto Filipe Berndt
Foto Vermelho
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Dimensões variáveis
Colagem de recortes de revistas sobre fragmentos de caixas de papelão Foto Filipe Berndt [:pt]Na instalação que ocupa a sala principal da galeria, substantivos cortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano de nascimento da artista) são colados sobre fragmentos de caixas de papelão que já não funcionam para remontar as caixas originais. Os conceitos de narrativas históricas, políticas, afetivas, relacionais e a própria linguagem entram em crise e estão aí como quebra-cabeças a serem remontados, rearranjados, ressignificados pelo observador que, aproximando-se e distanciando-se conecta termos de modo rizomático. Além disso, a coleção demonstra a importância dada aos termos pela mídia impressa. Dardot conta que certas palavras só foram encontradas em escalas dimunutas como ‘racismo’ e ‘machismo’.[:en]In the installation that occupies the gallery’s main room, nouns cut from magazines published in Brazil since 1973 (the artist’s birth year) are glued onto fragments of cardboard boxes, which can no longer be reassemble as boxes. The concepts of historical, political, affective, relational narratives and language itself detour into crisis and are there like a puzzle, to be reassembled, rearranged, resignified by the observer who, approaching and distancing himself, connects terms in a rhizomatic way. Furthermore, the collection demonstrates the importance given to terms by the print media. Dardot says that certain words were only found on tiny scales like ‘racism’ and ‘misogyny’.[:]Foto Vermelho
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
Capas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices
Foto Filipe Berndt
Capas de livros da coleção Nações do Mundo são desfeitas, deixando fragmentos de mapas, compondo novas geografias.
Os índices dos mesmos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho: Ações do mundo.
120 x 166 cm
Capas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices
Foto Filipe BerndtCapas de livros da coleção Nações do Mundo são desfeitas, deixando fragmentos de mapas, compondo novas geografias.
Os índices dos mesmos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho: Ações do mundo.
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
5x210cm
Colagem de recortes de revistas sobre placa de alumínio composto Foto Filipe Berndt [:pt]Recortes de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano em que Dardot nasceu) com as palavras “O Brasil” são coladas em superficies de cor neutra. As diferentes cores, tipologias e idades simbolizam tentativas de definir um país em desconstrução.[:en]Clippings from magazines published in Brazil since 1973 (the year Dardot was born) with the words “O Brasil” are pasted on neutral colored surfaces. The different colors, typologies and ages symbolize attempts to define a deconstructed country.[:]Foto Filipe Berndt
Foto Vermelho
Marcador permanente sobre livros e caixa de transporte de obra de arte
Foto Filipe Berndt
Ao mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, Marilá Dardot utiliza uma coleção de dicionários como base para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidências, abrindo brechas para novas articulações plurais.
32,5 x 49 x 19 cm
Marcador permanente sobre livros e caixa de transporte de obra de arte
Foto Filipe BerndtAo mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, Marilá Dardot utiliza uma coleção de dicionários como base para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidências, abrindo brechas para novas articulações plurais.
Foto Filipe Berndt
Marcador permanente sobre livros e caixa de transporte de obra de arte
Foto Filipe Berndt
Ao mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, Marilá Dardot utiliza uma coleção de dicionários como base para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidências, abrindo brechas para novas articulações plurais.
32,5 x 49 x 19 cm
Marcador permanente sobre livros e caixa de transporte de obra de arte
Foto Filipe BerndtAo mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, Marilá Dardot utiliza uma coleção de dicionários como base para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidências, abrindo brechas para novas articulações plurais.
Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
30x298cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
30x305cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
30x286cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
30x260cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
Foto Filipe Berndt
30x418cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
369x30cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]Foto Filipe Berndt
30x241cm
Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte Foto Filipe Berndt [:pt]A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.[:en]The LIBROS Y series starts from the artist’s encounter with a street sign in Mexico City that announced a publishing house: LIBROS Y EDITORIALES. The typology and material of that sign are reproduced to create other associations, as possible categories of an imaginary library in which books appear as subjects that catalyze feelings and actions.[:]