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  • Feiras

    EM BREVE (1)

  • SP-Arte Rotas Brasileiras SP-Arte Rotas Brasileiras
  • ARQUIVO (13)

    2022
  • ArPa 2022 ArPa 2022
  • SP-Arte 2022 SP-Arte 2022
  • Zonamaco 2022 Zonamaco 2022
  • 2021
  • SP-Arte 2021 SP-Arte 2021
  • Frieze London 2021 Frieze London 2021
  • ArtRio 2021 ArtRio 2021
  • The Armory Show – 2021 The Armory Show – 2021
  • 2020
  • ARCO Madrid 2020 ARCO Madrid 2020
  • Frieze Los Angeles 2020 Frieze Los Angeles 2020
  • Zonamaco 2020 Zonamaco 2020
  • 2019
  • SP-Foto 2019 SP-Foto 2019
  • SP-Arte 2019 SP-Arte 2019
  • Zonamaco 2019 Zonamaco 2019
  • (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Proj. Especiais

    ARQUIVO (4)

    2022
  • Projeto futuro Carlos Motta Projeto futuro Carlos Motta
  • 2020
  • Outro projeto ativo Outro projeto ativo
  • Um projeto muito especial Carmela Gross Um projeto muito especial Carmela Gross
  • Projeto passado Carlos Motta Projeto passado Carlos Motta
  • (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Verbo
    • SOBRE

    EM CARTAZ (1)

    16a edição
  • Abiniel João do Nascimento Abiniel João do Nascimento Alexandre Silveira e Ticiano Monteiro Alexandre Silveira e Ticiano Monteiro Amanda Maciel Antunes Amanda Maciel Antunes Bianca Turner Bianca Turner Davi Pontes & Wallace Ferreira Davi Pontes & Wallace Ferreira Guilherme Peters Guilherme Peters Htadhirua Htadhirua Javier Velázquez Cabrero & David April Javier Velázquez Cabrero & David April Jorge Feitosa Jorge Feitosa Jota Ramos Jota Ramos Julha Franz Julha Franz Lígia Villaron, Natália Beserra, Morilu Augusto - grupo teia Lígia Villaron, Natália Beserra, Morilu Augusto - grupo teia Marcos Martins Marcos Martins Maria Macêdo Maria Macêdo Massuelen Cristina Massuelen Cristina Nathalia Favaro e Ochai Ogaba Nathalia Favaro e Ochai Ogaba Nathalia Favaro Nathalia Favaro Nina Cavalcanti Nina Cavalcanti No barraco da Constância tem! No barraco da Constância tem! Padmateo Padmateo Sabrina Morelos Sabrina Morelos Sebastião Netto e Thulio Guzman Sebastião Netto e Thulio Guzman Thales Ferreira e Isadora Lobo Thales Ferreira e Isadora Lobo The Mainline Group - Lena Kilina & Sofya Chibisguleva The Mainline Group - Lena Kilina & Sofya Chibisguleva Uarê Erremays Uarê Erremays André Vargas André Vargas Áurea Maranhão Áurea Maranhão Coletivo #Joyces Coletivo #Joyces Depois do Fim da Arte Depois do Fim da Arte Jamile Cazumbá Jamile Cazumbá Elilson Elilson Luisa Callegari, Guilherme Peters e Sansa Rope Luisa Callegari, Guilherme Peters e Sansa Rope Marcel Diogo Marcel Diogo Paola Ribeiro Paola Ribeiro T.F. Cia de Dança T.F. Cia de Dança Tieta Macau Tieta Macau Carla Zaccagnini Carla Zaccagnini Alejandro Ahmed e Grupo Cena 11 Alejandro Ahmed e Grupo Cena 11
  • ARQUIVO (5)

    2019
  • Ana Pi Ana Pi Regina Parra e Bruno Levorin Regina Parra e Bruno Levorin Célia Gondol Célia Gondol Coletivo DiBando Coletivo DiBando Davi Pontes e Wallace Ferreira Davi Pontes e Wallace Ferreira D. C. D. C. Elilson Elilson Efe Godoy Efe Godoy Elilson Elilson Gabriel Cândido Gabriel Cândido Gê Viana e Layo Bulhão Gê Viana e Layo Bulhão Kauê Garcia Kauê Garcia Lia Chaia Lia Chaia Lia Chaia Lia Chaia Lia Chaia Lia Chaia Tieta Macau Tieta Macau Lucimélia Romão Lucimélia Romão Marco Paulo Rolla Marco Paulo Rolla Rafa Esparza Rafa Esparza Renan Marcondes Renan Marcondes SaraElton Panamby SaraElton Panamby Yiftah Peled Yiftah Peled Yiftah Peled Yiftah Peled Alexandre Silveira Alexandre Silveira Felipe Bittencourt Felipe Bittencourt Filipe Acácio Filipe Acácio Guerreiro do Divino Amor Guerreiro do Divino Amor Javier Velazquez Cabrero & Xolisile Bongwana Javier Velazquez Cabrero & Xolisile Bongwana Jose Manuel Ávila Jose Manuel Ávila Lubanzadyo Mpemba Bula Lubanzadyo Mpemba Bula Levi Mota Muniz e Mateus Falcão Levi Mota Muniz e Mateus Falcão Lia Chaia Lia Chaia Lilibeth Cuenca Rasmussen Lilibeth Cuenca Rasmussen Lolo y Lauti & Rodrigo Moraes Lolo y Lauti & Rodrigo Moraes Marcia de Aquino e Gê Viana Marcia de Aquino e Gê Viana Melania Olcina Yuguero Melania Olcina Yuguero Michel Groisman Michel Groisman Nurit Sharett Nurit Sharett Ramusyo Brasil Ramusyo Brasil Tomás Orrego Tomás Orrego Ton Bezerra Ton Bezerra
  • 2018
  • Ana Pi
 Ana Pi
 Bianca Turner
 Bianca Turner
 Depois do fim da arte Depois do fim da arte Dora Longo Bahia
 Dora Longo Bahia
 Elisabete Finger e Manuela Eichner Elisabete Finger e Manuela Eichner Emanuel Tovar Emanuel Tovar Etcetera & Internacional Errorista Etcetera & Internacional Errorista Gabrielle Goliath Gabrielle Goliath Gabinete Homo Extraterrestre Gabinete Homo Extraterrestre Grupo MEXA, Dudu Quintanilha, Luisa Cavanagh e Rusi Millan Pastori Grupo MEXA, Dudu Quintanilha, Luisa Cavanagh e Rusi Millan Pastori Grupo Trecho (Carolina Nóbrega & Nádia Recioli) Grupo Trecho (Carolina Nóbrega & Nádia Recioli) Guilherme Peters Guilherme Peters Lia Chaia Lia Chaia Martín Soto Climent Martín Soto Climent Patrícia Araujo & Valentina D’Avenia Patrícia Araujo & Valentina D’Avenia Stephan Doitschinoff Stephan Doitschinoff Andrea Dip & Guilherme Peters Andrea Dip & Guilherme Peters Andrés Felipe Castaño Andrés Felipe Castaño Bianca Turner Bianca Turner Bianca Turner Bianca Turner Charlene Bicalho Charlene Bicalho Clara Ianni Clara Ianni Cris Bierrenbach Cris Bierrenbach Desvio Coletivo Desvio Coletivo Egle Budvytyte & Bart Groenendaal Egle Budvytyte & Bart Groenendaal Gian Cruz & Claire Villacorta Gian Cruz & Claire Villacorta Josefina Gant, Juliana Fochtman e Nicole Ernst Josefina Gant, Juliana Fochtman e Nicole Ernst Julha Franz Julha Franz Luisa Cavanagh, Dudu Quintanilha e Grupo MEXA Luisa Cavanagh, Dudu Quintanilha e Grupo MEXA Lyz Parayzo Lyz Parayzo Marcelo Cidade Marcelo Cidade Paulx Castello Paulx Castello Pedro Mira & Javier Velázquez Cabrero Pedro Mira & Javier Velázquez Cabrero Rubens C. Pássaro Jr Rubens C. Pássaro Jr Chico Fernandes Chico Fernandes Élcio Miazaki Élcio Miazaki Fernanda Brandão & Rafael Procópio Fernanda Brandão & Rafael Procópio Gabriela Noujaim Gabriela Noujaim Stephan Doitschinoff Stephan Doitschinoff SPIT! (Sodomites, Perverts, Inverts Together!) SPIT! (Sodomites, Perverts, Inverts Together!) Samantha Moreira, Rodrigo Campuzano, Marcos Gallon Samantha Moreira, Rodrigo Campuzano, Marcos Gallon
  • 2017
  • Anthony Nestel Anthony Nestel Arnold Pasquier Arnold Pasquier Aurore Zachayus, Janaina Wagner, Pontogor Aurore Zachayus, Janaina Wagner, Pontogor Bruno Moreno, Isabella Gonçalves e Renato Sircilli Bruno Moreno, Isabella Gonçalves e Renato Sircilli Carlos Monroy Carlos Monroy Célia Gondol Célia Gondol Clarice Lima Clarice Lima Clarissa Sacchelli Clarissa Sacchelli Cristian Duarte em companhia Cristian Duarte em companhia Dora Smék Dora Smék Flavia Pinheiro Flavia Pinheiro Grupo EmpreZa Grupo EmpreZa Grupo EmpreZa Grupo EmpreZa Grupo EmpreZa Grupo EmpreZa Guilherme Peters Guilherme Peters Jorge Lopes Jorge Lopes Julha Franz Julha Franz Julia Viana e Luciano Favaro Julia Viana e Luciano Favaro Luanda Casella Luanda Casella Maurício Ianês Maurício Ianês Mauro Giaconi Mauro Giaconi Old Masters Old Masters Rodrigo Andreolli Rodrigo Andreolli Rose Akras Rose Akras Victor del Moral Victor del Moral Victor del Moral Victor del Moral Alice Miceli Alice Miceli Rodrigo Cass Rodrigo Cass Luiz Roque Luiz Roque Akram Zaatari Akram Zaatari Tiécoura N’Daou Mopti Tiécoura N’Daou Mopti
  • 2016
  • Fabio Morais Fabio Morais Lia Chaia Lia Chaia Maurício Ianês Maurício Ianês Rose Akras Rose Akras Marc Davi Marc Davi Dias & Riedweg Dias & Riedweg Fabiano Rodrigues Fabiano Rodrigues Michelle Rizzo Michelle Rizzo Ana Montenegro, Juliana Moraes e Wilson Sukorski Ana Montenegro, Juliana Moraes e Wilson Sukorski Marcelo Cidade Marcelo Cidade Peter Baren Peter Baren Guilherme Peters Guilherme Peters Coletivo Cartográfico (Carolina Nóbrega, Fabiane Carneiro e Monica Lopes) Coletivo Cartográfico (Carolina Nóbrega, Fabiane Carneiro e Monica Lopes) Dora Garcia Dora Garcia Enrique Jezik Enrique Jezik ABSALON ABSALON Naufus Ramirez-Figueroa Naufus Ramirez-Figueroa Salla Tikkä Salla Tikkä
  • 2015
  • Karime Nivoloni, Mariana Molinos, Maryah Monteiro e Valeska Figueiredo Karime Nivoloni, Mariana Molinos, Maryah Monteiro e Valeska Figueiredo Maurício Ianês Maurício Ianês Pipa Pipa Rose Akras Rose Akras Olyvia Victorya Bynum Olyvia Victorya Bynum Alex Cassimiro, Andrez Lean Ghizze, Caio, Eidglas Xavier, Mavi Veloso, Teresa Moura Neves Alex Cassimiro, Andrez Lean Ghizze, Caio, Eidglas Xavier, Mavi Veloso, Teresa Moura Neves Rodolpho Parigi Rodolpho Parigi Lia Chaia Lia Chaia Clara Saito Clara Saito Doina Kraal Doina Kraal Liv Schulman Liv Schulman Goeun Bae Goeun Bae Jorge Soledar Jorge Soledar Renan Marcondes Renan Marcondes Camila Cañeque Camila Cañeque Lilibeth Cuenca Rasmussen Lilibeth Cuenca Rasmussen No barraco da Constância tem! No barraco da Constância tem! Fernando Audmouc Fernando Audmouc Ana Montenegro e Marco Paulo Rolla [Brasil] Ana Montenegro e Marco Paulo Rolla [Brasil] Felipe Norkus e Gustavo Torres Felipe Norkus e Gustavo Torres Felipe Salem Felipe Salem Marc Davi Marc Davi Manoela Medeiros Manoela Medeiros ERRO Grupo ERRO Grupo Enrique Ježik Enrique Ježik Márcio Carvalho Márcio Carvalho Estela Lapponi Estela Lapponi César Meneghetti César Meneghetti BBB Johannes Deimling BBB Johannes Deimling Caetano Dias Caetano Dias Etienne de France Etienne de France Francesca Leoni and Davide Mastrangelo - Con.Tatto Francesca Leoni and Davide Mastrangelo - Con.Tatto Cristina Elias Cristina Elias Cadu Cadu Márcia Beatriz Granero Márcia Beatriz Granero Luiz Fernando Bueno Luiz Fernando Bueno Guilherme Peters Guilherme Peters Maurício Ianês Maurício Ianês ERRO Grupo ERRO Grupo Daniel Beerstecher Daniel Beerstecher Clara Ianni Clara Ianni Cadu Cadu Kevin Simon Mancera Kevin Simon Mancera Marcelo Moscheta Marcelo Moscheta Ana Montenegro Ana Montenegro Julio Falagán Julio Falagán
    • LIVRO VERBO
    (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Tijuana
    • EDIÇÕES

    FEIRA DE ARTE IMPRESSA

    • SOBRE

    ARQUIVO (2)

  • 2020 2020
  • 2019 2019
  • (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Sala Antonio
    • SOBRE

    ARQUIVO (3)

    2020
  • Nome do filme Stanley Kubrick Nome do filme Stanley Kubrick
  • Filme que já passou Carla Zaccagnini Stanley Kubrick Filme que já passou Carla Zaccagnini Stanley Kubrick
  • 2019
  • Filme que já passou 2 Chiara Banfi Filme que já passou 2 Chiara Banfi
  • (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Exposições

    ARQUIVO (129)

    2022
  • A Sônia Claudia Andujar A Sônia Claudia Andujar
  • Flávia Ribeiro Flávia Ribeiro Flávia Ribeiro Flávia Ribeiro
  • Átomo Lia Chaia Átomo Lia Chaia
  • ainda sempre ainda Marilá Dardot ainda sempre ainda Marilá Dardot
  • Take 3 Chiara Banfi Take 3 Chiara Banfi
  • Onde cabe o olho Nicolás Robbio Onde cabe o olho Nicolás Robbio
  • Fogo encruzado André Vargas Fogo encruzado André Vargas
  • 26032022-6.744-281-65-01/30042022-5.904-246-65-36 Ana Amorim 26032022-6.744-281-65-01/30042022-5.904-246-65-36 Ana Amorim
  • Cores Fabio Morais Cores Fabio Morais
  • 2021
  • Mosca Branca Henrique Cesar Mosca Branca Henrique Cesar
  • VOO CEGO André Komatsu VOO CEGO André Komatsu
  • Dívida (Trilogia do Capital) Cinthia Marcelle Tiago Mata Machado Dívida (Trilogia do Capital) Cinthia Marcelle Tiago Mata Machado
  • Fendas, fagulhas Carmela Gross Fendas, fagulhas Carmela Gross
  • A retórica do poder Marcelo Cidade A retórica do poder Marcelo Cidade
  • Genocídio do Yanomami: morte do Brasil Sonhos Yanomami Claudia Andujar Genocídio do Yanomami: morte do Brasil Sonhos Yanomami Claudia Andujar
  • 2020
  • aqui, daqui Carmela Gross Henrique Cesar Leandro Lima Jonathas de Andrade aqui, daqui Exposição coletiva
  • Cabeça feita Dias & Riedweg Cabeça feita Dias & Riedweg
  • Memória coletiva Motta & Lima Memória coletiva Motta & Lima
  • Já visto Cinthia Marcelle Já visto Cinthia Marcelle
  • 2019
  • Documento-Monumento | Monumento-Documento Rosângela Rennó Documento-Monumento | Monumento-Documento Rosângela Rennó
  • Monumentos efêmeros Monumentos efêmeros
  • Nós, x inimigx Carlos Motta Nós, x inimigx Carlos Motta
  • Febril Lia Chaia Febril Lia Chaia
  • Ka’rãi Dora Longo Bahia Ka’rãi Dora Longo Bahia
  • Segunda-feira, 4 de junho de 2019 Exposição coletiva Segunda-feira, 4 de junho de 2019 André Komatsu Carmela Gross Cinthia Marcelle Claudia Andujar Dias & Riedweg Dora Longo Bahia Fabio Morais Lia Chaia Marcelo Cidade Marilá Dardot Rosângela Rennó
  • Não pense em crise, trabalhe! Guilherme Peters Não pense em crise, trabalhe! Guilherme Peters
  • Dívidas, divisores e dividendos Marcelo Cidade Dívidas, divisores e dividendos Marcelo Cidade
  • La plaza del chafleo Iván Argote La plaza del chafleo Iván Argote
  • Mal-estar Renato Maretti Mal-estar Renato Maretti
  • The runout Chiara Banfi The runout Chiara Banfi
  • A pronúncia do mundo Marilá Dardot A pronúncia do mundo Marilá Dardot
  • Timewaves (capítulo II) Angela Detanico e Rafael Lain Timewaves (capítulo II) Angela Detanico e Rafael Lain
  • 2018
  • Çonoplaztía Fabio Morais Çonoplaztía Fabio Morais
  • Três análises e um presságio Carla Zaccagnini Três análises e um presságio Carla Zaccagnini
  • El principio, el paréntesis y el fin, el telón Tania Candiani El principio, el paréntesis y el fin, el telón Tania Candiani
  • Edgard de Souza Edgard de Souza Edgard de Souza Edgard de Souza
  • Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia) Dora Longo Bahia Brasil x Argentina (Amazônia e Patagônia) Dora Longo Bahia
  • Repetições Clara Ianni Repetições Clara Ianni
  • estrela escura André Komatsu estrela escura André Komatsu
  • Rotações Infinitas Ana Maria Tavares Rotações Infinitas Ana Maria Tavares
  • A História Natural e Outras Ruínas Marcelo Moscheta A História Natural e Outras Ruínas Marcelo Moscheta
  • Tentativa de Aspirar ao Grande Labirinto Guilherme Peters Tentativa de Aspirar ao Grande Labirinto Guilherme Peters
  • CameraContato Dias & Riedweg CameraContato Dias & Riedweg
  • Silver Session Dora Longo Bahia Silver Session Dora Longo Bahia
  • Sobrecarga Exposição coletiva Sobrecarga Ana Maria Tavares André Komatsu Angela Detanico e Rafael Lain Carla Zaccagnini Carmela Gross Chelpa Ferro Chiara Banfi Cinthia Marcelle Claudia Andujar Dora Longo Bahia Edgard de Souza Fabio Morais Guilherme Peters Henrique Cesar Iván Argote Lia Chaia Marcelo Cidade Marcelo Moscheta Marilá Dardot Motta & Lima Nicolás Bacal Nicolás Robbio Odires Mlászho Rosângela Rennó
  • Movimento Aparente Nicolás Bacal Movimento Aparente Nicolás Bacal
  • Deseos Carlos Motta Deseos Carlos Motta
  • 2017
  • Nuptias Rosângela Rennó Nuptias Rosângela Rennó
  • Mamihlapinatapai Cadu Mamihlapinatapai Cadu
  • Ocupação Silvia Cintra + Box 4 Ocupação Silvia Cintra + Box 4
  • Nelson Leirner – Filmes Nelson Leirner – Filmes
  • Somos Iván Argote Somos Iván Argote
  • Reddishblue Memories Iván Argote Reddishblue Memories Iván Argote
  • Pulso Lia Chaia Pulso Lia Chaia
  • Mostra Lia Chaia Lia Chaia Mostra Lia Chaia Lia Chaia
  • Posta em abismo [Mise en Abyme] Carla Zaccagnini Posta em abismo [Mise en Abyme] Carla Zaccagnini
  • 27 rue de Fleurus Angela Detanico e Rafael Lain 27 rue de Fleurus Angela Detanico e Rafael Lain
  • Arquitetura da insônia Nicolás Robbio Arquitetura da insônia Nicolás Robbio
  • Vera Cruz Rosângela Rennó Vera Cruz Rosângela Rennó
  • Cinzas Dora Longo Bahia Cinzas Dora Longo Bahia
  • Psicose Motta & Lima Psicose Motta & Lima
  • Ainda não Ainda não
  • Pausa Tania Candiani Pausa Tania Candiani
  • Escritexpográfica Fabio Morais Escritexpográfica Fabio Morais
  • 2016
  • Diário Marilá Dardot Diário Marilá Dardot
  • Coletiva Exposição coletiva Coletiva Exposição coletiva
  • 2015
  • Arquibabas: Babas Geométricas Odires Mlászho Arquibabas: Babas Geométricas Odires Mlászho
  • Nulo ou em branco Marcelo Cidade Nulo ou em branco Marcelo Cidade
  • Fructose Iván Argote Fructose Iván Argote
  • Um, Nenhum, Muitos Carmela Gross Um, Nenhum, Muitos Carmela Gross
  • Suar a camisa Jonathas de Andrade Suar a camisa Jonathas de Andrade
  • Coletiva Exposição coletiva Coletiva Exposição coletiva
  • Minha vida em dois mundos Claudia Andujar Minha vida em dois mundos Claudia Andujar
  • Sete Quedas Marcelo Moscheta Sete Quedas Marcelo Moscheta
  • Notações Chiara Banfi Notações Chiara Banfi
  • Edgard de Souza Edgard de Souza Edgard de Souza Edgard de Souza
  • Traduções: Nelson Leirner leitor dos outros e de si mesmo Nelson Leirner Traduções: Nelson Leirner leitor dos outros e de si mesmo Nelson Leirner
  • Aprendendo a Viver com a Sujeira Exposição coletiva Aprendendo a Viver com a Sujeira Exposição coletiva
  • Histórias Frias e Chapa Quente Dias & Riedweg Histórias Frias e Chapa Quente Dias & Riedweg
  • Chora-Chuva Motta & Lima Chora-Chuva Motta & Lima
  • Black Bloc Dora Longo Bahia Black Bloc Dora Longo Bahia
  • Impertinência Capital Marco Paulo Rolla Impertinência Capital Marco Paulo Rolla
  • Corpo Mitológico Lia Chaia Corpo Mitológico Lia Chaia
  • 2014
  • O Balanço da Árvore Exagera a Tempestade Gabriela Albergaria O Balanço da Árvore Exagera a Tempestade Gabriela Albergaria
  • Let´s Write a History of Hopes Iván Argote Let´s Write a History of Hopes Iván Argote
  • Insustentável Paraíso André Komatsu Insustentável Paraíso André Komatsu
  • Rosângela Rennó Rosângela Rennó Rosângela Rennó Rosângela Rennó
  • Marilá Dardot Marilá Dardot Marilá Dardot Marilá Dardot
  • A razão e a força Enrique Ježik A razão e a força Enrique Ježik
  • O Informante Henrique Cesar O Informante Henrique Cesar
  • Aquário Suave Sonora Chelpa Ferro Aquário Suave Sonora Chelpa Ferro
  • Neste Lugar Daniel Senise Neste Lugar Daniel Senise
  • Repetição da Ordem Nicolás Robbio Repetição da Ordem Nicolás Robbio
  • Coletiva Ana Maria Tavares Carmela Gross Claudia Andujar Maurício Ianês Coletiva Exposição coletiva
  • 1988 Andreas Fogarasi 1988 Andreas Fogarasi
  • 2013
  • U=R.I Guilherme Peters Henrique Cesar U=R.I Guilherme Peters Henrique Cesar
  • Arquitetura da solidão Nicolás Bacal Arquitetura da solidão Nicolás Bacal
  • Museu do Homem do Nordeste Jonathas de Andrade Museu do Homem do Nordeste Jonathas de Andrade
  • Gravações Perdidas Chiara Banfi Gravações Perdidas Chiara Banfi
  • Suspicious Mind Exposição coletiva Suspicious Mind Exposição coletiva
  • Contratempo Lia Chaia Contratempo Lia Chaia
  • João-Ninguém Rafael Assef João-Ninguém Rafael Assef
  • Zero Substantivo Odires Mlászho Zero Substantivo Odires Mlászho
  • Espera Motta & Lima Espera Motta & Lima
  • Passageiro Dora Longo Bahia Passageiro Dora Longo Bahia
  • O Voo de Watupari Claudia Andujar O Voo de Watupari Claudia Andujar
  • Corpo Mobília Keila Alaver Corpo Mobília Keila Alaver
  • Nostalgia, sentimento de mundo Jonathas de Andrade Nostalgia, sentimento de mundo Jonathas de Andrade
  • Corpo Dócil André Komatsu Corpo Dócil André Komatsu
  • Pelas bordas Carla Zaccagnini Pelas bordas Carla Zaccagnini
  • La Felicidad Kevin Simón Mancera La Felicidad Kevin Simón Mancera
  • Menos-valia (Leilão) Rosângela Rennó Menos-valia (Leilão) Rosângela Rennó
  • Coletiva Exposição coletiva Coletiva Exposição coletiva
  • 2012
  • Rio Corrente Angela Detanico e Rafael Lain Rio Corrente Angela Detanico e Rafael Lain
  • Serpentes Carmela Gross Serpentes Carmela Gross
  • Coletiva Exposição coletiva Coletiva Ana Maria Tavares André Komatsu Angela Detanico e Rafael Lain Carmela Gross Claudia Andujar Lia Chaia Marcelo Cidade Marilá Dardot Motta & Lima Nicolás Robbio Rosângela Rennó Daniel Senise João Loureiro Cadu Maurício Ianês
  • Maurício Ianês Maurício Ianês Maurício Ianês Maurício Ianês
  • Imagens claras x Ideias vagas Dora Longo Bahia Imagens claras x Ideias vagas Dora Longo Bahia
  • Expansivo Exposição coletiva Expansivo Carmela Gross Lia Chaia Marcelo Cidade Marilá Dardot Nicolás Bacal Nicolás Robbio Rosângela Rennó Marcius Galan João Loureiro
  • Madeira Exposição coletiva Madeira Chelpa Ferro Fabio Morais Gabriela Albergaria Nicolás Robbio Odires Mlászho Daniel Senise Maurício Ianês Marcelo Zocchio João Loureiro Manuela Marques
  • Sunburst Chiara Banfi Sunburst Chiara Banfi
  • Quase Nada Marcelo Cidade Quase Nada Marcelo Cidade
  • Esqueleto Aéreo Lia Chaia Esqueleto Aéreo Lia Chaia
  • Coletiva Exposição coletiva Coletiva Ana Maria Tavares Fabio Morais Guilherme Peters Marcelo Cidade Odires Mlászho Rosângela Rennó Maurício Ianês Lucia Mindlin Loeb Rafael Assef
  • ANTI-HORÁRIO Motta & Lima ANTI-HORÁRIO Motta & Lima
  • Símile-fac Fabio Morais Símile-fac Fabio Morais
  • Gabinete de Leitura Flávia Ribeiro Gabinete de Leitura Flávia Ribeiro
  • Novas Pinturas Marilá Dardot Novas Pinturas Marilá Dardot
  • 2011
  • Sobre Cor Angela Detanico e Rafael Lain Sobre Cor Angela Detanico e Rafael Lain
  • (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Notícias
    (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Publicações (Tijuana)
    (TEMAS)
    (ARTISTAS)
    Fachadas
    2022
  • Vulva Livre Depois do Fim da Arte Vulva Livre Depois do Fim da Arte
  • 23.970/ 24.005 Ana Amorim 23.970/ 24.005 Ana Amorim
  • Chamamento do Subjuntivo Elilson Chamamento do Subjuntivo Elilson
  • 2021
  • Dissociação VÃO Dissociação VÃO
  • X Carmela Gross X Carmela Gross
  • Res verso Elilson Res verso Elilson
  • 2020
  • Em Ordem Alfabética Angela Detanico e Rafael Lain Em Ordem Alfabética Angela Detanico e Rafael Lain
  • 2019
  • Lenin is still around Rosângela Rennó Lenin is still around Rosângela Rennó
  • Formas da Liberdade Carlos Motta Formas da Liberdade Carlos Motta
  • Estacionamente Lia Chaia Estacionamente Lia Chaia
  • Fuga (Sujeito) Dora Longo Bahia Fuga (Sujeito) Dora Longo Bahia
  • Ctrl z Ctrl z
  • Três Poderes Guilherme Peters Três Poderes Guilherme Peters
  • Estrutura Parasita Marcelo Cidade Estrutura Parasita Marcelo Cidade
  • O ar da graça Leya Mira Brander O ar da graça Leya Mira Brander
  • 2018
  • Estamos no escuro Fabio Morais Estamos no escuro Fabio Morais
  • Autômatos André Komatsu Autômatos André Komatsu
  • Elipse Nicolás Bacal Elipse Nicolás Bacal
  • 2017
  • Cem Anos Rosângela Rennó Cem Anos Rosângela Rennó
  • A arquitetura não foi feita para enfeitar o desastre Laércio Redondo A arquitetura não foi feita para enfeitar o desastre Laércio Redondo
  • SOMOS Iván Argote SOMOS Iván Argote
  • Monumento Carmela Gross Monumento Carmela Gross
  • Cinzas Dora Longo Bahia Cinzas Dora Longo Bahia
  • 2016
  • As Built João Nitsche As Built João Nitsche
  • Ocitarcomed Marcelo Cidade Ocitarcomed Marcelo Cidade
  • Raio Carmela Gross Raio Carmela Gross
  • 70 graus de separação Marcelo Moscheta 70 graus de separação Marcelo Moscheta
  • Comum com outro Leandro da Costa Comum com outro Leandro da Costa
  • 2015
  • sem título Edgard de Souza sem título Edgard de Souza
  • Diálogo Yayoi Nelson Leirner Diálogo Yayoi Nelson Leirner
  • Guarda Chuvas Keila Alaver Guarda Chuvas Keila Alaver
  • 4,9 Motta & Lima 4,9 Motta & Lima
  • Risco de morte risco de vida Marco Paulo Rolla Risco de morte risco de vida Marco Paulo Rolla
  • 2014
  • Blocão Dias & Riedweg Blocão Dias & Riedweg
  • Régua de Fibonacci Gabriela Albergaria Régua de Fibonacci Gabriela Albergaria
  • Let’s write a history of hopes Iván Argote Let’s write a history of hopes Iván Argote
  • Aqui, agora e já Rosângela Rennó Aqui, agora e já Rosângela Rennó
  • Un fusilado ENRIQUE JEZIK Un fusilado ENRIQUE JEZIK
  • Sem título Maurício Ianês Sem título Maurício Ianês
  • Aquário suave sonora Chelpa Ferro Aquário suave sonora Chelpa Ferro
  • Vermelho Daniel Senise Vermelho Daniel Senise
  • Placemark Andreas Fogarasi Placemark Andreas Fogarasi
  • 2013
  • Para onde os mosquitos vão quando chove Felipe Salem Para onde os mosquitos vão quando chove Felipe Salem
  • Sem título [Dr. Mabuse] Eva Grubinger Sem título [Dr. Mabuse] Eva Grubinger
  • Curva de jardim Lia Chaia Curva de jardim Lia Chaia
  • Estado das coisas 2 André Komatsu Estado das coisas 2 André Komatsu
  • Alfabeto fonético aplicado II Carla Zaccagnini Alfabeto fonético aplicado II Carla Zaccagnini
  • 2012
  • Dentro Fora Angela Detanico e Rafael Lain Dentro Fora Angela Detanico e Rafael Lain
  • 2 Buracos Carmela Gross 2 Buracos Carmela Gross
  • Fachada em transformação ANARKADEMIA Fachada em transformação ANARKADEMIA
  • Gato Lia Chaia Gato Lia Chaia
  • 2011
  • Paredão João Nitsche Paredão João Nitsche
  • Pauta Chiara Banfi Pauta Chiara Banfi
  • 2010
  • O silêncio é de outro Maurício Ianês O silêncio é de outro Maurício Ianês
  • Fahadeira Lia Chaia Fahadeira Lia Chaia
  • Etiqueta João Loureiro Etiqueta João Loureiro
  • Tempestade para Ludwig Wittgenstein Maurício Ianês Tempestade para Ludwig Wittgenstein Maurício Ianês
  • Caveirão Dora Longo Bahia Caveirão Dora Longo Bahia
  • Se mueve pero no se hunde Nicolás Robbio Se mueve pero no se hunde Nicolás Robbio
  • Eclipse Angela Detanico e Rafael Lain Eclipse Angela Detanico e Rafael Lain
  • 2009
  • Fachada fachadas Aline Van Langendonck Fachada fachadas Aline Van Langendonck
  • Imponente/Impotente André Komatsu Imponente/Impotente André Komatsu
  • Drive Thru #2 Matheus Rocha Pitta Drive Thru #2 Matheus Rocha Pitta
  • Welcome Chiara Banfi Welcome Chiara Banfi
  • 2008
  • Listen Nathalie Brevet Hughes Rochette Listen Nathalie Brevet Hughes Rochette
  • Fortuna e recusa ou ukyio-e Ana Maria Tavares Fortuna e recusa ou ukyio-e Ana Maria Tavares
  • Open Call Mix Brasil Open Call Mix Brasil
  • Um grande livro vermelho Marilá Dardot Um grande livro vermelho Marilá Dardot
  • Esfinge Lia Chaia Esfinge Lia Chaia
  • Art | Basel | Geneva | Belgrade | Skopie | São Paulo Cris Faria Lukas Mettler Art | Basel | Geneva | Belgrade | Skopie | São Paulo Cris Faria Lukas Mettler
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      Galeria Vermelho - Exposições
      25.jun.22 - 23.jul.22
      A Sônia
      Claudia Andujar
      Em 1971, Claudia Andujar publicou o ensaio fotográfico A Sônia no primeiro número da Revista de Fotografia (junho de 1971), que na época tinha George Love como editor. Segundo Andujar, o ensaio consumiu 10 rolos de filmes que foram refotografados utilizando, inclusive, um Repronar. O ensaio foi apresentado na forma de projeção de slide, no MASP, em 1971, com a música I had a Dream do cantor, compositor e fundador da banda The Loovin Spoonful, John Sebastian.

      A Sônia

      “Sônia veio da Bahia. Queria ser modelo. Tentou as editoras e os estúdios de diversos fotógrafos, mas não conseguiu trabalho. Conheci-a nessa ocasião. Sônia não apresentava as características comuns às modelos. Alguma coisa, entretanto, havia nessa moça que me impressionava fortemente. Mas eu não sabia o que era. Guardei seu endereço. Não demorei a chamá-la. Realizamos este ensaio. Depois, sem outra oportunidade, Sônia voltou à Bahia.

      O corpo humano é para mim o objeto mais belo que existe. Por isso, há anos sonhava em realizar um ensaio fotográfico sobre as formas físicas da mulher para conseguir revelar sua essência. No mundo atual, os homens têm menos consciência do próprio corpo. Essa consciência quando é clara e procurada, aumenta misteriosamente a beleza e o significado do corpo, como se lhe atribuísse cores. Assim, sinto as mulheres azuis e os homens cinza. O fascínio que pode exercer um corpo feminino em quem o observa e estuda, vai além da sensualidade, tornando-o objeto perfeito para a criação artística. Inclusive, é possível também que, como mulher, ao realizar um ensaio estético sobre as formas físicas femininas, eu esteja procurando uma identificação reflexa e idealizada do que desconheço do meu próprio corpo. Mas não poderei explicar por que Sônia, a moça que todos os meus colegas recusaram como modelo, servia perfeitamente para o meu ensaio. E mais, por que o corpo azul de Sônia se tornaria a revelação das imagens de um sonho?

      No primeiro dia, depois de uma hora de fotografias, tive de interromper o trabalho. Sônia não sabia posar. Porém, era justamente disso que provinha seu encanto inocente. Os gestos e atitudes não profissionais revelaram uma sensualidade mansa, tranquila. Ela não parecia estar diante da câmera fotográfica, mas fora do mundo. Tentei compreender esse outro mundo oferecendo-lhe alguns discos para escolher um. Sônia ouviu vários e depois ficou repetindo uma única canção: I had a Dream (Eu tive um sonho), de autoria de John B. Sebastian, em que o próprio compositor a cantou acompanhado por um violão no Festival de Woodstock. Por coincidência era uma de minhas canções prediletas. Sônia não compreendia uma só palavra da letra. Quando voltamos ao trabalho, ouvindo essa música, ela assumia espontaneamente poses oníricas, sem saber tratar-se de um sonho o que Sebastian cantava. Assim, Sônia me revelou também o que eu sempre quis captar no corpo de uma mulher. E o ensaio fotográfico que realizava integrou-se de forma definitiva com essa música. Era um sonho, ou melhor, eu tivera um sonho em qualquer instante de minha vida e o estava decifrando no trabalho com Sônia.

      Usei apenas um fundo infinito branco. Foram três horas de fotografias convencionais, poucas para um trabalho profissional tão importante para mim: 10 rolos de 36 exposições. Minha intenção era fazer fotos simples e diretas. A partir dessas fotos é que teve início a fase mais complexa e criativa, embora já totalmente programada. Eu chamei essa fase de reconstrução da imagem de Sônia, ou elaboração. Durante a semana em que refotografei as imagens selecionadas, fiz cortes de toda natureza usando filtros de diferentes cores, efetuando revelações em positivo e negativo. Finalmente cheguei a 90 cromos: a sequência ideal. A música de Sebastian agia no meu inconsciente, estimulando a sensibilidade e a intuição. Não sei se era a própria música ou o que ela representava naqueles instantes. Quando cheguei ao final, pude dizer que já não existia mais Sônia. Projetei a série para mim mesma. A felicidade que senti me garantiu que o velho sonho havia sido realizado.”

      Claudia Andujar

      Claudia Andujar
      a-sonia
      Exposição
      A Sônia
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      A Sônia
 Sônia veio da Bahia. Queria ser modelo. Tentou as editoras e os estúdios de diversos fotógrafos, mas não conseguiu trabalho. Conheci-a nessa ocasião. Sônia não apresentava as características comuns às modelos. Alguma coisa, entretanto, havia nessa moça que me impressionava fortemente. Mas eu não sabia o que era. Guardei seu endereço. Não demorei a chamá-la. Realizamos este ensaio. Depois, sem outra oportunidade, Sônia voltou à Bahia. O corpo humano é para mim o objeto mais belo que existe. Por isso, há anos sonhava em realizar um ensaio fotográfico sobre as formas físicas da mulher para conseguir revelar sua essência. No mundo atual, os homens têm menos consciência do próprio corpo. Essa consciência quando é clara e procurada, aumenta misteriosamente a beleza e o significado do corpo, como se lhe atribuísse cores. Assim, sinto as mulheres azuis e os homens cinza. O fascínio que pode exercer um corpo feminino em quem o observa e estuda, vai além da sensualidade, tornando-o objeto perfeito para a criação artística. Inclusive, é possível também que, como mulher, ao realizar um ensaio estético sobre as formas físicas femininas, eu esteja procurando uma identificação reflexa e idealizada do que desconheço do meu próprio corpo. Mas não poderei explicar por que Sônia, a moça que todos os meus colegas recusaram como modelo, servia perfeitamente para o meu ensaio. E mais, por que o corpo azul de Sônia se tornaria a revelação das imagens de um sonho? No primeiro dia, depois de uma hora de fotografias, tive de interromper o trabalho. Sônia não sabia posar. Porém, era justamente disso que provinha seu encanto inocente. Os gestos e atitudes não profissionais revelaram uma sensualidade mansa, tranquila. Ela não parecia estar diante da câmera fotográfica, mas fora do mundo. Tentei compreender esse outro mundo oferecendo-lhe alguns discos para escolher um. Sônia ouviu vários e depois ficou repetindo uma única canção: I had a Dream (Eu tive um sonho), de autoria de John B. Sebastian, em que o próprio compositor a cantou acompanhado por um violão no Festival de Woodstock. Por coincidência era uma de minhas canções prediletas. Sônia não compreendia uma só palavra da letra. Quando voltamos ao trabalho, ouvindo essa música, ela assumia espontaneamente poses oníricas, sem saber tratar-se de um sonho o que Sebastian cantava. Assim, Sônia me revelou também o que eu sempre quis captar no corpo de uma mulher. E o ensaio fotográfico que realizava integrou-se de forma definitiva com essa música. Era um sonho, ou melhor, eu tivera um sonho em qualquer instante de minha vida e o estava decifrando no trabalho com Sônia. Usei apenas um fundo infinito branco. Foram três horas de fotografias convencionais, poucas para um trabalho profissional tão importante para mim: 10 rolos de 36 exposições. Minha intenção era fazer fotos simples e diretas. A partir dessas fotos é que teve início a fase mais complexa e criativa, embora já totalmente programada. Eu chamei essa fase de reconstrução da imagem de Sônia, ou elaboração. Durante a semana em que refotografei as imagens selecionadas, fiz cortes de toda natureza usando filtros de diferentes cores, efetuando revelações em positivo e negativo. Finalmente cheguei a 90 cromos: a sequência ideal. A música de Sebastian agia no meu inconsciente, estimulando a sensibilidade e a intuição. Não sei se era a própria música ou o que ela representava naqueles instantes. Quando cheguei ao final, pude dizer que já não existia mais Sônia. Projetei a série para mim mesma. A felicidade que senti me garantiu que o velho sonho havia sido realizado.
 Claudia Andujar
      Claudia Andujar
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      Exposição
      A Sônia
      Sem título – da série A Sônia, circa 1971
      80x120cm Impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemühle Photo Rag Baryta 350g

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      80x120cm Impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemühle Photo Rag Baryta 350g

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      80x120cm Impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemühle Photo Rag Baryta 350g

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      A Sônia
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      25.jun.22 - 23.jul.22
      Flávia Ribeiro
      Flávia Ribeiro
      "Durante muitos anos trabalhei com gravura em metal. Considero como procedimento básico da gravura o registro do contato entre corpos.

      Buscando ampliar limites com que me deparei no campo da gravura, encontrei na fundição, mais especificamente no processo de cera perdida, o mesmo procedimento, o que mudou meu pensamento construtivo. Nesse processo há um registro do contato entre o objeto a ser fundido e os diferentes materiais utilizados em cada etapa (cera, areia, metal fundido).

      Uso a fundição não como processo final da obra, mas como mais uma etapa na construção do trabalho; são pedaços, corpos, coisas procurando se estruturar entre si. Num outro momento, já no ateliê, serão repensadas e associadas a outras partes e outros materiais. Muito desses materiais vem do universo da gravura em metal (cobre, feltro, cera, organza de seda, etc). Cada material carrega em si sua condição primeira de matéria e significados que lhes vão sendo atribuídos culturalmente, como o veludo ou a organza de seda, que entram como cor e criam, pela sua materialidade, uma tensão em contraposição ao peso e frieza do metal.

      Considero o desenho como uma ferramenta do pensamento. E ao desenhar, coisa que faço obsessivamente, o que não me interessa acaba sendo diluído e o que me interessa passa a ficar mais aparente e toma corpo. O desenho é prática fundamental no meu trabalho.

      Apesar da solidez do bronze, algumas das minhas esculturas tem qualidades gráficas e parecem dar um passo em direção ao desenho. Enquanto que os desenhos apontam para uma certa tridimensionalidade, um desejo de se tornar coisa/escultura, insinuando-se, projetando-se no espaço. Aí encontro um lugar de interesse que é o entre dimensões, entre o bi e o tridimensional.

      Tenho o hábito de caminhar e ao caminhar, um tipo diferente de percepção e de pensamento é ativado em mim, contribuindo para a resolução de questões construtivas e conceituais do trabalho. Meu movimento físico altera meu movimento mental.

      Flávia Ribeiro, Junho 2022

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
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      Foto Filipe Berndt

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      Exposição
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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Impossível, 2021
      151x31x3cm Bronze, fio de cobre e dois pregos

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Morada, 2021
      137x113cm Fio de cobre, linha vermelha e 13 pregos

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      Exposição
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      Pendurado I, 2021
      100x8x8,5cm Bronze, aluminio, estanho e um prego

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      Exposição
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      Exposição
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      Pendurado II, 2021
      69x5,5x4,5cm Bronze, aluminio, estanho e um prego

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      Exposição
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      Dúvida, 2019
      100x9,5x7,5cm Gesso, estanho e um prego

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      Exposição
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      Exposição
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      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Furor, 2021
      121x15x10,5cm Bronze, organza de seda, estanho laminado e um prego

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      Exposição
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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

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      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Impenetrável, 2021
      94x8x3,5cm Bronze, fio de cobre e dois pregos

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      Exposição
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      Medida, 2021
      233x6x5cm Cobre banhado a ouro, estanho e um prego

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      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      59x21cm Pó de bronze com mordente sobre papel croquis

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Peso, 2015-2020
      74x8x7,5cm Bronze, alumínio e um prego

      Foto Frape

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Sem título, 2022
      Dimensões variáveis Lista de materiais

      Foto Frape

      Estanho Alumínio Cobre Arame Prata Organza de seda Fio de cobre Linha de algodão Gesso Papel croquis Papel Fabriano Parafina Alfinetes Pregos Folha de cobre Cobre banhado a ouro Estanho banhado a ouro Guache Ecoline Semente Pó de bronze com mordente
      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      VeiaRio, 2002-2022
      Dimensões variáveis Bronze e fita de veludo

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Flávia Ribeiro
      flavia-ribeiro
      Exposição
      Flávia Ribeiro
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      25.jun.22 - 23.jul.22
      Átomo
      Lia Chaia
      Em sua nova exposição na Vermelho, Lia Chaia apresenta sua instalação Confete, feita pela primeira vez há 16 anos, em sua primeira individual na galeria. Chaia faz parte da geração 2000 que, junto com artistas como Marcelo Cidade e André Komatsu tem seu início na Vermelho. Essa geração é conhecida pelo intenso diálogo com o urbano, com suas organizações e desorganizações. A instalação de Chaia é um mural feito de fita adesiva e confetes. Esse elemento, que é ao mesmo tempo símbolo e resquício de festejos, é utilizado por Chaia como unidade para construir imagens que se relacionam com a natureza, sugerindo folhas, plantas e sequências geométricas. 

A unidade circular como organizadora de grandes sistemas está presente na obra de Chaia em alguns de seus trabalhos mais conhecidos: do vídeo Big Bang, de 2000, passando por Borbulhas, de 2008, às Máscaras, de 2019, Chaia volta e meia explora a agitação de unidades e frações, como o potencial de criação. Dentro dessa linha, e em relação a Confete, Chaia exibe dois novos trabalhos, um conjunto intitulado Paisagem infinita e o vídeo Átomo, ambos de 2022. As Paisagens infinitas são caixas de acrílico com recortes de aquarela sobre papel vegetal. Esses trabalhos preveem a manipulação pelo espectador que pode, agitando e girando as caixas, modificar as paisagens formadas por suas unidades internas. No vídeo Átomo, um campo vermelho, com uma espiral central, sacode bolas que se chocam, se juntam e se separam. O título evoca a unidade básica de qualquer matéria e, ao mesmo tempo, o modelo atômico de Rutherford (1871-1937), que aproxima o átomo do Sistema Solar. No vídeo de Chaia, no entanto, não há um núcleo que se estabeleça, a matéria está sempre na fase de agitação, de potencial formador.
      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 02, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 05, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 04, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Vista da exposição

      Foto Galeria Vermelho

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 03, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 06, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Paisagens Infinitas / 01, 2022
      20,5x30,5x5,5cm Recortes de aquarela sobre papel vegetal em caixa de acrílico

      Foto Filipe Berndt

      Lia Chaia
      lia-chaia
      Exposição
      Átomo
      Átomo, 2022
      8'47'' vídeo. cor e som

      Foto Stills do vídeo

      colaboração: João Marcos de Almeida fotografia: Flora Dias som direto: Juliana R. edição: João Marcos de Almeida
      25.jun.22 - 23.jul.22
      ainda sempre ainda
      Marilá Dardot
      Marilá Dardot ocupa a fachada e o prédio principal da Vermelho com ainda sempre ainda, sua 9ª individual na galeria. A exposição de Dardot na Vermelho tem texto da psicanalista e crítica de arte Bianca Dias (integralmente disponível na primeira imagem dessa sequência). 
O trabalho de Marilá Dardot atravessa, entre outros pontos, a memória constituída pela cultura. Desde os trabalhos que lidam com livros, literatura e linguagem, até aqueles que tratam de temas apagados da história por posições políticas, censura, gênero ou pela eliminação da memória pelo tempo. Desde 2016, Dardot tem constituído um grupo de trabalhos a partir da observação de repetições históricas que passam por recorrências, sobreposições ou pela efemeridade das notícias.

Em ainda sempre ainda, Dardot cria na fachada da Vermelho, uma pintura que monumentaliza as palavras AINDA e SEMPRE enquanto uma sobreposição de sentidos por via de um jogo semântico. Os dois advérbios têm o poder de modificar frases e sentidos, mas, desprovidos de verbos, permanecem estagnados.
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      ainda sempre ainda, 2022
      Dimensões variáveis Tinta acrílica sobre parede

      Foto Filipe Berndt

      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Linha do Tempo
      5 x 320 cm Colagens sobre placa de ACM

      Foto Filipe Berndt

      Advérbios cortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano de nascimento da artista) são colados em uma superfície de cor neutra, formando uma linha do tempo desgovernada.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Palavra figura de espanto #5, v2022
      27 x 189 cm Capas de livros descascadas e Letraset

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Palavra figura de espanto #3, 2022
      26 x 196 cm Capas de livros descascadas e Letraset

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Palavra figura de espanto #2, 2022
      26 x 191 cm Capas de livros descascadas e Letraset

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Palavra figura de espanto #1, 2022
      26,5 x 187 cm Capas de livros descascadas e Letraset

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Modelo para armar, 2022
      Dimensões variáveis Colagem de recortes de revistas sobre fragmentos de caixas de papelão

      Foto Filipe Berndt

      Na instalação que ocupa a sala principal da galeria, substantivos cortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano de nascimento da artista) são colados sobre fragmentos de caixas de papelão que já não funcionam para remontar as caixas originais. Os conceitos de narrativas históricas, políticas, afetivas, relacionais e a própria linguagem entram em crise e estão aí como quebra-cabeças a serem remontados, rearranjados, ressignificados pelo observador que, aproximando-se e distanciando-se conecta termos de modo rizomático. Além disso, a coleção demonstra a importância dada aos termos pela mídia impressa. Dardot conta que certas palavras só foram encontradas em escalas dimunutas como ‘racismo’ e ‘machismo’.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Modelo para armar

      Foto Filipe Berndt

      Detalhe de Modelo para armar (2022) Técnica: Colagem de revistas sobre fragmentos de caixasde papelão
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Modelo para armar

      Foto Filipe Berndt

      Detalhe de Modelo para armar (2022) Técnica: Colagem de revistas sobre fragmentos de caixasde papelão
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Detalhe de Modelo para armar (2022) Técnica: Colagem de revistas sobre fragmentos de caixasde papelão
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Modelo para armar

      Foto Filipe Berndt

      Detalhe de Modelo para armar (2022) Técnica: Colagem de revistas sobre fragmentos de caixasde papelão
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Ações do mundo, 2021
      120 x 166 cm. (aprox) Capas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices

      Foto Filipe Berndt

      Capas de livros da coleção “Nações do Mundo” são desfeitas, deixando fragmentos de mapas, compondo novas geografias. Os índices dos mesmos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho: Ações do mundo.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Ações do mundo, 2022

      Foto Filipe Berndt

      Detalhe da obra Ações do mundoCapas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Ações do mundo
      Detalhe da Ações do mundo

      Foto Filipe Berndt

      Capas de livros sobre nações do mundo descascadas e páginas de índices
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      O Brasil O Brasil, 2022
      5x210cm Colagem de recortes de revistas sobre placa de alumínio composto

      Foto Filipe Berndt

      Recortes de revistas publicadas no Brasil desde 1973 (ano em que Dardot nasceu) com as palavras “O Brasil” são coladas em superficies de cor neutra. As diferentes cores, tipologias e idades simbolizam tentativas de definir um país em desconstrução.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Domine seu idioma, 2021
      120 x 166 cm. (aprox) Marcador permanente sobre livros

      Foto Filipe Berndt

      Ao mesmo tempo em que compilam as unidades de uma língua, os dicionários também representam um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios de uma determinada classe ou nação. Em Domine seu idioma, Marilá Dardot utiliza uma coleção de dicionários como base para um jogo léxico com expressões associadas à fala. A ideia de um idioma comum é trocada pela de “seu idioma”, pressupondo diferenças e dissidências, abrindo brechas para novas articulações plurais.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y desastres, 2022
      30x298cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y rebeliones, 2022
      30x305cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y potencias, 2022
      30x286cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y afectos, 2022
      30x260cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y transformaciones, 2022
      30x418cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y insurrecciones, 2022
      369x30cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      Marilá Dardot
      ainda-sempre-ainda-2
      Exposição
      ainda sempre ainda
      Libros y amores, 2022
      30x241cm Perfil de aço galvanizado e pintura esmalte

      Foto Filipe Berndt

      A série de LIBROS Y nasce do encontro da artista com um letreiro de rua na Cidade do México que anunciava uma casa editorial: LIBROS Y EDITORIALES. A tipologia e o material daquele letreiro são reproduzidas para criar outra associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como sujeitos catalizadores de sentimentos e ações.
      A inflexão temporal que se apresenta desde o título da exposição invoca, de imediato, o trabalho da memória. Entre figura e fundo, clareza e opacidade, o gesto de Marilá Dardot é aquele assinalado por Walter Benjamin: “Trata-se de se apropriar de algo perigoso, que clama por se repetir com violência”. É justamente na força desse ato de artista de reconfigurar o mundo e o tempo que a repetição pode ganhar novos sentidos históricos e poéticos. O trabalho de Marilá Dardot abriga, desde sempre, uma relação com a cintilância da letra, na relação direta com a literatura ou na força de capturar os jogos semânticos da linguagem. Essa marca agora se dobra, desdobra, duplica, mistura discursos em uma construção labiríntica que concede voz à ambiguidade da palavra e abriga uma irradiação incessante que busca o impronunciável que habita a língua. Há também a sensibilidade que se debruça sobre temáticas apagadas da história, repetições do uso de palavras que ganham direções e significados heteróclitos, como os dois advérbios escolhidos – ainda e sempre. Juntos e fazendo uma espécie de justaposição, eles funcionam como abertura para o enigma e uma maneira de desvio à impostura da língua. “Ainda sempre ainda” é uma exposição que, desde a entrada, se sustenta em um estado de perda, numa relação de crise com a linguagem. Em “Linha do tempo” outra dobra se configura: advérbios recortados de revistas publicadas no Brasil desde 1973 – ano de nascimento da artista – e colados sobre uma superfície, formam uma linha de tempo em que se projeta a possibilidade de uma outra passagem, que escoa por entre as palavras, uma curva que embaralha passado, presente e futuro. As questões ali abrigadas aprofundam a discussão anunciada por Georges Didi-Huberman em “Diante do tempo”: a dimensão de uma temporalidade complexa e difusa. Para ele, o pensamento de Walter Benjamin, que está na base de seu modelo anacrônico, sugere que qualquer narrativa histórica é feita por uma montagem de elementos heterogêneos. Em termos benjaminianos, há uma atualidade no passado quando este é visto através das imagens. Na linha do tempo criada por Marilá Dardot, o que se coloca em cena é justamente a desmedida desse impossível, uma aposta na pequena revolução que acontece pelo efeito dialético que se dá entre palavra e imagem, sustentando a enunciação como última saída ao massacre imaginário e político. Em “Palavra figura de espanto” capas descascadas de livros tocam a materialidade evanescente de palavras que, em duplas, nos pontos de estilhaço e poeira promovem encontros e ranhuras que desenham horizontes ora improváveis e de tensão, ora de fluidez e harmonia, mostrando a dimensão ambígua e delirante da palavra. O assombro diante da palavra – ou a própria palavra como “figura de espanto” – se abriga no ato de arrancar a capa dos livros, dando a ver os restos e camadas pictóricas até a sulcagem mesmo da superfície com a escrita: rememoração das paredes de uma caverna que, mais tarde, nos conduzem ao papel. A artista reconhece que nesse trajeto se desenha todo um percurso da grafia, ou mais propriamente da letra: do estilete à pena, da pena à caneta, da letra cursiva à letra de forma, do manuscrito à tipografia e à imprensa. Como gesto de resistência, a escrita sobrevive acolhendo o indizível e o impronunciável, mas não deixando de operar também sua ultrapassagem com um armazém de sinais que celebra o encontro com outras vozes e grafias. Das palavras tantas – entre as cansadas e pálidas, secretas e mágicas, ditas e caladas – forja-se um mundo: da impotência ao impossível, um outro mapa com suas marcas, manchas e litorais. Em “Modelo para armar”, uma instalação com colagem sobre fragmentos de caixas de papelão abriga substantivos recortados de revistas antigas. As caixas, que já não servem para serem utilizadas, funcionam como abrigo de narrativas históricas, políticas, afetivas e a própria linguagem entra em cena para ser rearranjada e ressignificada como projéteis de uma operação simbólica. O título da obra é uma referência a um livro de Julio Cortazar, em que o escritor faz a narrativa a partir de peças mutáveis, em uma “armação” em que deslocamentos diversos das palavras procuram eliminar qualquer fixidez, abrindo os sentidos para que o leitor faça sua montagem pessoal dos elementos e acabe por escrever a história. A obra de Marilá Dardot também nos convoca como leitores ativos. Seu trabalho não visa à produção de um sentido estanque, não produz nenhum tipo de explicação que fixe o sujeito. Sua obra é uma espécie de ancoragem que também é deriva e convida à produção de novas palavras que possam recriar a existência, na vertigem mesma do estranhamento. Em “Ações do mundo”, seu ato de tentar arrancar capas de livros sobre nações do mundo revela a beleza de fragmentos de mapas que compõem novas geografias. Os índices dos livros anunciam capítulos que descrevem países a partir de frases nacionalistas e imperiosas. Uma parte do tecido da capa, dobrada, dá título ao trabalho, subvertendo a ideia de nação para ação: as nações se tornam ações do mundo desestabilizando o mundo familiar pelo manuseio inventivo do idioma, promovendo a mestiçagem de substâncias heterogêneas: palavra e imagem que, pela força do gesto ou de uma dobra, revelam que a experiência de reabitar o corpo e habitar a palavra pode refundar o mundo. No mesmo diálogo, se recria uma ideia de país em “O Brasil o Brasil”. Invocando a espessura da palavra em sua aparente simplicidade, as palavras “O Brasil” – também recortadas de revistas antigas – são coladas sobre uma superfície de cor neutra, mas diferentes cores e tipologias se apresentam como um ensaio de aguda força política. Como acontece em “Linha do tempo”, uma dimensão é revirada e aqui, como dito por Walter Benjamin, “a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz”. Marilá Dardot incorpora essa dimensão do tempo em sua própria existência: quase 50 anos depois de seu nascimento e atravessando a história do país, faz de seu trabalho uma verdadeira transmissão da experiência naquilo que o mais singular e pessoal pode dizer ao coletivo. A série “Libros Y” nasceu de um letreiro de rua de uma casa editorial – Libros y Editoriales – na Cidade do México. A tipologia e o material daquele anúncio foram reproduzidos para criar outras associações, como categorias possíveis de uma biblioteca imaginária em que os livros aparecem como catalisadores de sentimentos e ações. Os eventos que o livro pode gerar, tanto no contexto íntimo quanto no político, encontram um novo mundo a partir da palavra: prazer, rebelião, subversão, desastre, potências, transformações ou insurreições. Seus letreiros sinalizam que, para reescrever as palavras que compõem a história, devemos fazê-lo letra a letra – uma aventura que vai além da comunicação, além do sentido e toca um ponto insondável: o seu “ponto de contato com o desconhecido”. As experiências trazidas nas palavras dos letreiros não visam diretamente o sentido, mas vasculham os traços que são, antes de mais nada, apostas na subversão da língua e de seu poder transfigurador. Essa transfiguração é destacada por Roland Barthes que afirma: “Toda a poesia, todo o inconsciente são uma volta à letra”, uma aventura que se situa à margem das pretensas finalidades da linguagem e, justamente por isso, no centro de sua ação. “Domine seu idioma”, frase que a artista encontrou em um dicionário, ganha novo sentido. Novamente, a exploração da letra em seu aspecto gráfico, imagético, abre as portas de uma dimensão da linguagem que não se deixa fixar em nenhuma decifração. Um conjunto de dicionários empilhados com intensa força cromática, representando um paradigma em que as palavras perpetuam poderes e privilégios, é retomado em um devir imprevisível. As palavras, por sua vez, não se deixam tomar pacificamente como partes de um discurso. Elas deslizam criando uma ética que aponta para o avesso de uma ordem imperativa. Nas brechas onde pode-se fazer poesia, Marilá Dardot reinventa a utopia dando-lhe densidade única. Dominar o idioma é saber se movimentar no tempo e para além do sentido: em outras palavras poder tomar a palavra, honrar a palavra, encontrar na ponta da língua mais do que a promessa ou a esperança de um lugar ideal: o tremor que nos faz vivos e recria o tempo. Como alerta Walter Benjamin: “Conhecer o passado não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo”. Ainda, sempre, ainda. Bianca Coutinho Dias Bianca Coutinho Dias é psicanalista, escritora, ensaísta e crítica de arte, atua no território multidisciplinar da psicanálise, literatura, filosofia, teoria e prática artística. Mestre em Estudos Contemporâneos das Artes pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Especialista em História da Arte pela Faculdade Armando Alvares Penteado - FAAP (2011).
      13.maio.22 - 11.jun.22
      Take 3
      Chiara Banfi
      Em Take 3, sua sétima individual na Vermelho, Chiara Banfi apresenta dois novos desdobramentos de sua pesquisa em torno do som, da música e de meios de reprodução musical. Banfi cria objetos a partir da materialidade, das simbologias e das culturas presentes em instrumentos e partituras musicais. Em Elza, discos de vinil prensados com resíduos de vinis e polímeros coloridos criam 100 discos-pintura únicos, que trazem uma gravação inédita de Elza Soares -cantando Aquarela do Brasil (1939) de Ary Barroso. Em 2012, Elza gravou três takes da música para o disco Sonzeira - Brasil Bam Bam Bam, dos produtores Gilles Peterson e Kassin. A gravação que Banfi escolhe para a obra é a “take 3” dessa sessão, que, para os produtores, era emocional demais para ser usada no projeto. Desde o início de sua carreira, Chiara Banfi explora estruturas sonoras, articulando desde músicas populares a sons extraídos da natureza. Hoje sua pesquisa inclui instrumentos musicais, seus componentes, discos de vinil e seus invólucros. Para a artista, esses objetos sempre foram alvo de admiração e desejo. Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Chiara Banfi
      take-3
      Exposição
      Take 3
      Rosa choque / vermelho-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Desculpe-nos, mas este texto está apenas disponível em Inglês Americano.

      In Cases (2022) Banfi builds objects that provide packaging, transport and protection for a single vinyl record. However, there is only the memory of these objects and their different sound possibilities given by materials and colors suggesting different rhythms for each work.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vermelho / vermelho-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vermelho / vermelho-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vermelho / vermelho-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Roxo / verde-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Roxo / verde-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Azul claro / azul-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Azul claro / azul-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Verde / verde-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Verde / verde-preto, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Verde limão / bege-marrom, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Verde limão / bege-marrom, da série cases, 2022
      129 x 80 x 9 cm aberto / 69 x 80 x 13 cm fechado Pelúcia, mdf, isopor e teclado em polipropileno

      Foto Filipe Berndt

      Em Cases (2022) Banfi constrói objetos que preveem o acondicionamento, transporte e proteção para um único disco de vinil. No entanto, só há ali a memória desses objetos e suas diferente possibilidades sonoras, dadas por materiais e cores que sugerem ritmos diferentes para cada obra.
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Conjunto Elza, da série aquarela do Brasil, 2021 - 2022
      vinil

      Foto Filipe Berndt

      “Em 2012 eu tive a sorte de presenciar a gravação da Elza Soares cantando Aquarela do Brasil para o disco Sonzeira - Brasil Bam Bam Bam, produzido por Gilles Peterson e Kassin. Foi uma experiência inigualável. Pedi ao Gilles para usar o “take” onde Elza mais se emociona, e que eles não iriam usar no disco, para pensar alguma obra e ele topou. Eu, na época queria a voz da Elza acapella, mas o violão tinha vazado no microfone da voz e não tinha como separar. No ano passado retomei o projeto. Com um novo plug-in, foi possível separar o violão da voz da Elza e após uma visita à fábrica de disco Rocinante, do meu amigo Pepe Monnerat, pensei em uma coleção discos “pintados” com a voz da Elza acapella. Entrei em contato com o Pedro Loureiro, empresário da Elza, para contar do projeto e ele achou a ideia linda e me deu todo o apoio. No dia 19 de janeiro de 2022 fui para a fábrica e passei o dia com a equipe desenvolvendo uma maneira de juntar partes coloridas de LPs descartados e resíduos de polímeros criando pinturas únicas. Elza partiu no dia seguinte. Sou muito agradecida a todos que participaram deste projeto, tornando-o possível” – Chiara Banfi
      Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Conjunto Elza, da série aquarela do Brasil, 2021 - 2022
      vinil

      Foto Filipe Berndt

      “Em 2012 eu tive a sorte de presenciar a gravação da Elza Soares cantando Aquarela do Brasil para o disco Sonzeira - Brasil Bam Bam Bam, produzido por Gilles Peterson e Kassin. Foi uma experiência inigualável. Pedi ao Gilles para usar o “take” onde Elza mais se emociona, e que eles não iriam usar no disco, para pensar alguma obra e ele topou. Eu, na época queria a voz da Elza acapella, mas o violão tinha vazado no microfone da voz e não tinha como separar. No ano passado retomei o projeto. Com um novo plug-in, foi possível separar o violão da voz da Elza e após uma visita à fábrica de disco Rocinante, do meu amigo Pepe Monnerat, pensei em uma coleção discos “pintados” com a voz da Elza acapella. Entrei em contato com o Pedro Loureiro, empresário da Elza, para contar do projeto e ele achou a ideia linda e me deu todo o apoio. No dia 19 de janeiro de 2022 fui para a fábrica e passei o dia com a equipe desenvolvendo uma maneira de juntar partes coloridas de LPs descartados e resíduos de polímeros criando pinturas únicas. Elza partiu no dia seguinte. Sou muito agradecida a todos que participaram deste projeto, tornando-o possível” – Chiara Banfi
      take-3
      Exposição
      Take 3
      Vista da exposição
      Chiara Banfi
      take-3
      Exposição
      Take 3
      Elza, da série aquarela do Brasil, 2021 - 2022
      Ø 30 cm Vinil

      Foto Filipe Berndt

      “Em 2012 eu tive a sorte de presenciar a gravação da Elza Soares cantando Aquarela do Brasil para o disco Sonzeira - Brasil Bam Bam Bam, produzido por Gilles Peterson e Kassin. Foi uma experiência inigualável. Pedi ao Gilles para usar o “take” onde Elza mais se emociona, e que eles não iriam usar no disco, para pensar alguma obra e ele topou. Eu, na época queria a voz da Elza acapella, mas o violão tinha vazado no microfone da voz e não tinha como separar. No ano passado retomei o projeto. Com um novo plug-in, foi possível separar o violão da voz da Elza e após uma visita à fábrica de disco Rocinante, do meu amigo Pepe Monnerat, pensei em uma coleção discos “pintados” com a voz da Elza acapella. Entrei em contato com o Pedro Loureiro, empresário da Elza, para contar do projeto e ele achou a ideia linda e me deu todo o apoio. No dia 19 de janeiro de 2022 fui para a fábrica e passei o dia com a equipe desenvolvendo uma maneira de juntar partes coloridas de LPs descartados e resíduos de polímeros criando pinturas únicas. Elza partiu no dia seguinte. Sou muito agradecida a todos que participaram deste projeto, tornando-o possível” – Chiara Banfi
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      Exposição
      Take 3
      Vermelho, da série 13 Luas, 2021 - 2022
      42 x 390 x 4 cm Aquarela e permanganato de potássio sobre papel de aquarela e pedras de ágata

      Foto Filipe Berndt

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      Exposição
      Take 3
      Vermelho, da série 13 Luas, 2021 - 2022
      42 x 390 x 4 cm Aquarela e permanganato de potássio sobre papel de aquarela e pedras de ágata

      Foto Filipe Berndt

      13.abr.22 - 11.jun.22
      Onde cabe o olho
      Nicolás Robbio
      Em Onde cabe o olho, Nicolás Robbio exercita sobre os espaços do prédio principal da Vermelho uma íntima manipulação e ocupação espacial. Esse domínio sobre o espaço é fruto de seus 20 anos de representação pela galeria, com 8 exposições individuais (essa é sua 9ª individual na Vermelho) e mais de 20 participações em exposições coletivas. Robbio subverte a circulação das 3 salas que ocupa, estabelecendo novas lógicas de percurso e novos modos de contemplação de sua obra, criando mais que obras individuais, uma grande obra-ocupação. Onde cabe o olho propõe ao visitante uma coleta ativa no espaço, onde o corpo deve oferecer ao olho manobras suficientes para a circulação na galeria. Como escreve a curadora Clarisa Appendino em seu texto para a exposição, “Tampinhas, elásticos, pérolas de fantasia, confetes, alfinetes, arruelas, bancos, fósforos… de onde vêm estes elementos que, como moedas no chão, recolhemos com o olhar durante o percurso? Embora seja uma pergunta válida, a resposta é evidente. Então, o que nos interessa não é somente a origem destes objetos, mas sim seu trajeto e o deslocamento que destinou os pequenos elementos a suspender seu ofício cotidiano para notar uma mancha acidental de verniz.” Para Robbio, o espaço expositivo jamais é neutro, é, portanto, um terreno de afetos e convenções determinadas por aquilo que o olhar individual de cada um permite assimilar. É através deste enfoque poético que o artista busca estimular o observador a imaginar e transcender limites, tanto materiais quanto subjetivos.
      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      A mesa verde, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Acrílica, verniz, alfinete e linha sobre tela

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Máscaras (olho, nariz, boca), 2022
      40 x 27 x 27 cm + 27 x 25 x 25 cm + 38 x 27 x 24 cm Papel jornal, cola e tinta látex

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Paisagem modular, 2022
      Dimensões variáveis Banquetas de plástico brancas e plantas ornamentais

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Traça, 2022
      82 x 67 x 7 cm Chapas em MDF 3mm perfuradas e pintadas de branco

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Tristes trópicos, 2013
      10 x 18 x 7 cm Plástico e metal sobre escova

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Cuentos y cuentas, 2003
      156 x 180 cm Moedas em ACM cortado e pintado

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Paisagem com Furo, 2022
      Ø 26,5 cm Tinta acrílica sobre eucatex

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Perro triste, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Acrílica, verniz, arames e papel sobre tela

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Sem título, 2022
      47,5 x 32,5 cm Elástico de látex e arame sobre Eucatex perfurado

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Sem título – Vela, 2022
      42,5 x 35 cm Vela e alfinetes sobre vidro e placa de Eucatex branco perfurado

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      A ostra, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Pérolas falsas, arruela de metal, grafite e verniz sobre tela

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      O Êxtase de Santa Tereza, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Verniz, arruelas de metal, olhinhos adesivos e fios metalizados sobre tela

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Tendido, da série Arcano Maior, 2022
      50 x 40 cm Verniz, arruelas de metal, olhinhos adesivos e fios metalizados sobre tela

      Foto Felipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Sem título – Arame, 2022
      Dimensões variáveis Arame e placa de eucatex branco perfurado

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Sem título – Espiral, 2001
      52 x 40 cm Mola de metal e moedas sobre vidro e placa de Eucatex branco

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
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      Exposição
      Onde cabe o olho
      Sem título – Eucatex, 2022
      80 x 57 cm Eucatex branco perfurado sobre Eucatex branco perfurado

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Warnes, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Acrílica, verniz, alfinetes, chave e papel metalizado sobre tela

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Vista da exposição

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Partido de la Costa, 2022
      70 x 70 x 70 cm Mesa de plástico branco e areia

      Foto Filipe Berndt

      Nicolás Robbio
      onde-cabe-o-olho
      Exposição
      Onde cabe o olho
      Noturno, da série Arcano Maior, 2022
      30 x 40 cm Acrílica, verniz e elástico de latex sobre tela

      Foto Filipe Berndt