Desde o início de sua trajetória, Cinthia Marcelle demonstrou interesse por diversos processos artísticos, buscando a matéria-prima de seu trabalho nas relações sociais e no caos cotidiano que a rodeia.
A artista desenvolve desenhos, colagens, fotografias, pinturas e instalações. Suas obras envolvem os ambientes urbanos e naturais, carregando em si um caráter temporal, evidente na exploração da repetição e do acúmulo de resíduos – como poeira e sujeira. Com seu trabalho, Marcelle acentua e desordena elementos, criando intervenções que propõem uma reorganização formal de objetos e situações do dia a dia.
É também muito importante na obra de Cinthia Marcelle a produção de vídeos, seja em peças assinadas somente por ela, seja em trabalhos realizados por meio de colaborações. Sua parceria mais frequente é com o cineasta Tiago Mata Machado, com quem produziu a trilogia Divine Violence e o filme NAU/NOW, incluído na participação de Marcelle na última Bienal de Veneza. Nessa ocasião, a artista recebeu uma Menção Honrosa pela Participação Nacional com sua instalação Hunting Ground.
Seus filmes introduzem pequenas torções no nosso olhar sobre o mundo. Neles, o enquadramento, geralmente fixo e aberto, organiza o espaço, proporcionando a distância necessária para que vejamos a paisagem onde acontecem as coreografias – sejam elas de pessoas ou de máquinas.
Fortemente relacionados à performance, os filmes de Cinthia Marcelle exploram como questões centrais uma certa ideia de origem, tempo e linguagem. Eles também investigam experimentos com o tempo cíclico por meio de ações repetitivas sem um propósito prático evidente, enquanto comentários sobre os contextos sociais de sua época prevalecem. Forma e abstração invocam o prazer do olhar, mas a forma é uma tática séria. Ela também pode ser assustadora, arruinadora e brutal.