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[:pt]O Teatro de Arena foi um grupo de teatro brasileiro que atuou entre as décadas de 1950 e 1970. Fundado em 1953, o Arena buscava renovar e produzir um teatro que refletisse a experiência brasileira, em oposição ao teatro em voga naquele tempo, fortemente influenciado pelo repertório europeu e norte-americano. A convicção do grupo era apresentar um repertório popular que espelhasse seu tempo, buscando não a catarse, mas sim a reflexão. Depois de anos se apresentando em lugares como o Museu de Arte Moderna de São Paulo, fábricas e espaços alter- nativos na cidade, o Arena conquista sua sede no centro de São Paulo, em 1954. A arquitetura do espaço fugia do modelo tradicional e hierarquizado de palco, para um palco circular, onde os atores ficavam no centro do público, possibilitando que a cena fosse vista de múltiplos ângulos ao mesmo tempo.
Em 1956, Augusto Boal entra para o grupo renovando seu repertório e contribuindo para o desenvolvimento de suas técnicas dramatúrgicas. Em 1958, o Arena apresenta Eles não usam black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri, que buscava comunicar-se com as classes proletárias do país. De Black-tie ao início da década de 1960,
o grupo leva aos palcos os escritos originais de integrantes da companhia, cumprindo sua missão de pensar o Brasil através do teatro e politizando a discussão sobre a realidade nacional.
Em 1o de maio de 1965, como resposta ao golpe militar, o grupo estreou Arena conta Zumbi. O musical, escrito por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, com músicas de Edu Lobo, revisitava a história de Zumbi, a formação do Quilombo de Palmares, e a resistência contra o império Português, como metáfora da luta pela liberdade em 60.
A estrutura do texto não se articula em torno de Zumbi como protagonista, função que é dividida entre três personagens - o rei Zambi, Ganga Zumba e Ganga Zona. O público acompanha, no início da peça, a prisão de Zambi na África, a situação do povo negro dentro dos navios negreiros, a compra e venda dos escravos e, finalmente, a fuga de Zambi. A peça passa, então, a retratar o desenvolvimento e o cotidiano do Quilombo dos Palmares como comunidade e suas relações afetivas. No último ato são representados os enfrentamentos com os militares e com os senhores de terras, a tentativa de resistência, a destruição do Quilombo e o assassinato de Zambi.
Arena conta Zumbi inaugurou o ‘Sistema Coringa’ de interpretação, elaborado por Boal, no qual um ator pode interpretar diferentes papéis, alternando-se de acordo com o contexto da cena – revolucionário(a), policial, bispo, político(a), juiz(a) e etc. Esta desvinculação entre ator e personagem, que mais tarde, integraria o método elaborado por Boal chamado Teatro do Oprimido, era um modo de, não só confrontar a ideia do ator como herói, mas de apontar a realidade como construída, e passível de ser transformada, posições alteradas.
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Izaias Almada nasceu em 1942, em Belo Horizonte, Minas Gerais, onde iniciou seus estudos em teatro. Mais tarde, mudou-se para São Paulo, ingressou na Universidade de São Paulo, onde estudou na Escola de Artes Dramáticas e conheceu Augusto Boal. Izaías Almada é romancista, dramaturgo, roteirista e biógrafo. Além disso, trabalhou na área de publicidade onde dirigiu peças publicitárias pelas quais recebeu diversos prêmios, como o Leão de Cannes. Como autor, Almada publicou, em 2004, o livro Teatro de Arena, sobre a história do grupo.
Um filme de: Clara Ianni
Fotografia: Alexandre Wahrhaftig
Câmera: Alexandre Wahrhaftig
2a câmera: Chico Orlandi e Clara Ianni
Som: Rafael Bonifácio
Edição: Nina Senra/ Olho de Coruja e Clara Ianni
Textos: Arena conta Zumbi, de [by] Augusto Boal & Gianfrancesco Guar- nieri com músicas de Edu Lobo (1965); Texto do Departamento de ordem Política e Social (1965)
Agradecimentos: Tin Urbinatti, Ricar- do Santos (Arquivo do Estado), Dalila Camargo, Eduardo Brandão, Galit Eilat, Felipe Pato.[:en]Teatro de Arena [Arena Theater] was a Brazilian theater group that operated between the 1950s and 1970s. Founded in 1953, the Arena sought to renovate and produce a theater that reflected the Brazilian experience, as opposed to the theater productions heavily influenced by European and North American repertoire in vogue at that time. The intention of the group was to present a popular repertoire that mirrored their time, not seeking catharsis, but reflection. After years of performing in places such as the Museum of Modern Art of São Paulo, factories and alternative venues in the city, the Arena conquered its headquarters in the center of São Paulo in 1954. The architecture of the space evaded the traditional and hierarchical model of the stage, to a circular stage, where the actors were in the center of the audience, allowing the scene to be observed from multiple angles.
In 1956, Augusto Boal joined the group renewing its repertoire and contributing to the development of its dramaturgical techniques. In 1958, the Arena presented Eles não usam black-tie [They do not use black tie], by Gianfrancesco Guarnieri; a play that sought to communicate with the proletarian classes of the country. From this play to the early 60s, the group brings to the stage original writing from members of the company, fulfilling its mission of thinking Brazil through theater and politicizing the discussion about the national reality.
On May 1, 1965, in response to the military coup, the group debuted Arena conta Zumbi [Arena account Zumbi]. The musical, written by Gianfrancesco Guarnieri and Augusto Boal, with songs by Edu Lobo, revisited the story of Zumbi - historically one of the most important activists fighting slavery - the formation of Quilombo de Palmares, a community of escaped slaves lead by Zumbi; and, the resistance against the Portuguese empire, as a metaphor for the struggle for freedom in the 1960’s.
The structure of the text is not articulated around Zumbi as protagonist, a function that is divided between three characters - King Zambi, Ganga Zumba and Ganga Zona. At the beginning of the play, the public accompanies the arrest of Zambi in Africa, the situation of black people in slave ships, the purchase and sale of slaves, and, finally, the escape of Zambi. The play then goes on to portray the development and daily life of Quilombo dos Palmares as a community with its affective relationships. The last act represents the confrontations with military forces and landlords, the attempted resistance, the destruction of the Quilombo and the murder of Zambi.
Arena Conta Zumbi inaugurated the ‘Coringa System’ [joker or wild card] of interpretation elaborated by Boal in which an actor can play different roles, alternating according to the context of the scene - revolutionary, policeman, bishop, politician, judge and etc. This untangling of the perception of actor and character which would later integrate Boal’s method called Teatro do Oprimido [Theater of the Oppressed], was a way of not only confronting the idea of the actor as a hero, but also of pointing out reality as constructed and capable of being transformed.
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Izaias Almada was born in 1942, in Belo Horizonte, Minas Gerais, where he began his studies in theater. Later, he moved to São Paulo to join the University of São Paulo, USP, where he studied at the School of Dramatic Arts and met Augusto Boal. Izaías Almada is a biographer, novelist, playwright and screenwriter. In addition, he has worked in the advertising business where he has directed publicity pieces which awarded him several awards, including a Cannes Lion. As an author, Almada published the book Teatro de Arena (2004), on the history of the group.
A film by: Clara Ianni
Cinematography: Alexandre Wahrhaftig
Camera: Alexandre Wahrhaftig
2nd camera: Chico Orlandi e Clara Ianni
Sound: Rafael Bonifácio
Editing: Nina Senra/ Olho de Coruja e Clara Ianni
Texts: Arena conta Zumbi, de [by] Augusto Boal & Gianfrancesco Guar- nieri/ With music by Edu Lobo (1965); Texto do Departamento de ordem Política e Social (1965)
Acknowledgements: Tin Urbinatti, Ricardo Santos (Arquivo do Estado), Dalila Camargo, Eduardo Brandão, Galit Eilat, Felipe Pato.[:]